sexta-feira, 16 de maio de 2014

[ Discursivas CACD ] Política Internacional 2012: EUA e integração dos Países Emergentes



Guia de Estudos IRB - CACD 2013

Prova 2012 Política Internacional - Questão 1 

"Um grande desafio estratégico para os Estados Unidos nas próximas décadas será integrar as potências emergentes às instituições internacionais. O vigoroso crescimento do Brasil, da China e da Índia, bem como o surgimento de economias médias como a Indonésia e a Turquia, está transformando a paisagem geopolítica e colocando à prova os fundamentos da ordem liberal criada após a Segunda Grande Guerra. 

A administração Obama está desenvolvendo relações cooperativas com as potências emergentes com base na premissa de que países cuja presença na cena internacional é relevante atuam de forma responsável em nível global. Mas os Estados Unidos não devem alimentar ilusões quanto à facilidade de integrar os atores emergentes. 


Potências emergentes podem clamar por maior influência global, mas elas, com freqüência, opõem-se às regras nas esferas econômica e política que forma herdadas da ordem liberal ocidental. Elas procuram transformar os arranjos multilaterais existentes e se abstêm de assumir responsabilidades globais significativas." 


Patrick Stuart. Irresponsible Stakeholders ? The difficulty of integrating rising powers. 

In: Foreign Affairs, nov/dez/2010 

Ao comentar a opinião acima, discorra de forma breve sobre as mudanças estruturais que levaram, nos últimos anos, ao surgimento de novos atores de peso no sistema internacional. 

Identifique os principais dentre tais atores, bem como os correspondentes mecanismos de coordenação de que participam nas esferas financeira e comercial. Ao examinar esses mecanismos, indique os pontos de divergência que esses países apresentam entre si, bem como com relação aos Estados Unidos da América.

JOHN MONTEIRO MIDDLETON

"Ao longo das últimas décadas, uma série de mudanças sistêmicas particulares a determinados países fizeram com que a ordem internacional cambiasse de uma lógica bipolar (Guerra Fria) e um breve período unipolar (pós-queda da URSS) para uma lógica crescentemente multipolar. O surgimento de novos atores de peso no cenário internacional torna-se cada vez mais incompatível com o arcabouço institucional criado após o término da 2a Guerra Mundial. 

É nesse contexto que se situa o pleito desses novos atores de peso por uma democratização dos foros internacionais. ao mesmo tempo, não se pode ignorar que haverá forças de resistência em relação a essas demandas, forças que serão exercidas por parte dos atores que detêm maior protagonismo e poder dentro dessas instituições. 

No que concerne às mudanças estruturais que levaram ao surgimento de nações com maiores recursos de poder e à formação de uma ordem mais multipolar, a questão pode ser analisada por dois prismas. 

Primeiramente, deve-se destacar a maturidade atingida por atores como Índia e Brasil, que se tornaram democracias sólidas e estáveis do ponto de vista político e econômico. A experiência chinesa certamente é a mais impressionante, impulsionada pelo reformismo de Deng Xiaoping. 

Por outro lado, houve uma alteração sistêmica importante, que se aliou à ascensão desses países para engendrar a multipolaridade. 

A Rússia, que permaneceu paralisada após a desastrosa transição para economia de mercado, retomou seu protagonismo. Ademais, a multipolaridade aventada para o pós Guerra Fria não se materializou, e houve um declínio de poder norte-americano. 

É importante salientar que esse declínio deve ser relativizado. A economia dos EUA ainda é três vezes maior do que a chinesa e o poder militar do país permanece absolutamente inconteste, levando alguns analistas a falar em uma unimultipolaridade, uma ordem multipolar que, sob muitos aspectos, permaneceria sob a égide norte-americana. 

Como principais atores dessa nova ordem multipolar podem ser citados, ao lado das três nações supracitadas (Brasil, Índia e China) e da Rússia revigorada, a África do Sul e a Indonésia, de modo que não é coincidência o fato de que esses atores estão presentes nos acrônimos de quase todas as alianças de geometria variável das quais participa, de modo engajado, a diplomacia brasileira, como o BASIC, o BRICS e o IBAS. 

Nos âmbitos financeiro e comercial, os principais mecanismos de coordenação dos quais participam esses atores, são respectivamente, o G20 Financeiro e o G20 da OMC, formado por ocasião das negociações da paralisada Rodada de Doha do Desenvolvimento. 

Numa análise sobre a esfera comercial e sobre os eventuais pontos de divergência entre os países em desenvolvimento e destes em relação aos EUA, cabe, primeiramente tecer alguns comentários sobre o atual estágio das negociações. 

Detratores da política externa brasileira defendem que o impasse nas negociações atesta que os investimentos feitos no G20 não renderam frutos, todavia, cabe destacar que diante de sucessivas rodadas em que somente os interesses dos países desenvolvidos foram contemplados, a paralisia pode ser entendida como progresso. 

O acordado no âmbito da OMC foi que chegara o momento de contemplar os interesses dos países em desenvolvimento. A Rodada deveria negociar agricultura e seria benéfica ao desenvolvimento, conforme atesta seu nome: Rodada de Doha do Desenvolvimento. É a defesa desse compromisso que o G20 coerentemente advoga. 

No seio do G20 da OMC, há divergências devido ao fato de que a China e, particularmente, a Índia mostram maiores resistências em relação à extensão da liberalização agrícola. Isso acontece devido a particularidades desses dois países, principalmente no que tange aos seus contingentes demográficos e sua agricultura, que, em vastos espaços dos interiores dessas nações, carece de densidade técnica. 

Esses países temem que uma desarticulação dos seus setores agrícolas resulte em êxodo maciço rumo aos já superpovoados centros urbanos. 

no que concerne às divergências com os EUA, os membros do G20 sustentam que os norte-americanos devem reduzir seus subsídios agrícolas sem que sejam exigidas tantas contrapartidas em NAMA, conforme foi acordado previamente em uma das rodadas da OMC que antecederam Doha, por meio da chamada negociação mandatada.

Na esfera financeira, pode-se dizer que há consenso maior não somente no que concerne à coesão dos membros do G20F que são países em desenvolvimento, mas também quanto à relação dos mesmos com os EUA. 

A própria situação de protagonismo a que foi alçado o G20F, em detrimento do G8+1, atesta que a concertarão política dos emergentes surtiu efeitos. Alia-se a isso compromisso assumido de reforma das instituições de Bretton Woods (BM e FMI), com aumento das quotas-parte para os emergentes. 

Como ponto de discórdia, pode ser destacada a questão cambial. Entre os emergentes, devido à competitividade que o yuan desvalorizado confere à economia chinesa, e entre estes os EUA, em relação ao excesso de liquidez que os pacotes anticíclicos norte-americanos despejaram no mundo. 

Muitos desses dólares buscam a estabilidade brasileira, causando apreciação cambial e críticas da Presidente Rousseff sobre um tsunami monetário que minaria a competitividade e capacidade exportadora do Brasil. 

Em relação às iniciativas sul-sul promovidas por muitos dos novos atores emergentes, cabe destacar que elas não são novidade, conforme atesta a existência de iniciativas anteriores como o MNA ou o G77, no entanto, as iniciativas atuais contêm uma característica nova e marcante. 

Ao contrário do disposto no excerto da obra de Patrick Stuart, países como o Brasil demonstram, de modo inequívoco, que estão dispostos a assumir o papel de stakeholders globais responsáveis, assumindo responsabilidades crescentes ante a ordem internacional contemporânea. Contrastando com a postura mais demandante e reativa do passado, o Brasil e outros atores em ascensão dão mostras claras de que contribuirão com o seu quinhão no que concerne à construção de uma ordem global mais justa, equilibrada e menos assimétrica. 

Essa nova ordem será construída de modo concertado com os países desenvolvidos, por meio de contribuições concretas e não somente retórica reivindicatória. No caso do Brasil, a lógica supracitada se aplica em inúmeros âmbitos, como demonstram a Minustah (segurança e desenvolvimento) os aportes financeiros junto ao FMI e o Fundo IBAS para redução da fome e da pobreza."      

fonte: Guia de Estudo IRB para o CACD 2013

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