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terça-feira, 23 de agosto de 2016

Chanceler do Uruguai pede desculpas a Serra, mas mantém posição sobre Venezuela























Segundo Chancelaria uruguaia, 'houve mal entendido'; em reunião com Parlasul, Novoa manteve posição do país de apoiar Presidência venezuelana

Opera Mundi
18 agosto 2016

O chanceler do Uruguai, Rodolfo Nin Novoa, pediu formalmente desculpas, por meio de um telefonema realizado na quarta-feira (17/08) ao ministro das Relações Exteriores José Serra, por ter dito que o brasileiro teria tentado “comprar o voto” uruguaio para suspender a transferência da Presidência temporária do Mercosul à Venezuela.
A ação é uma tentativa de baixar a temperatura da crise diplomática entre os dois países, que envolveu até a convocação do embaixador do Uruguai, por parte do Itamaraty, para dar explicações. Montevidéu, no entanto, mantém a posição a favor de Caracas.
Em comunicado, a Chancelaria uruguaia afirmou que “houve um mal entendido sobre a proposta brasileira de efetuar atividades conjuntas de promoção comerciais entre ambos países em mercados terceiros, e agora tudo ficou perfeitamente claro que  a mesma [proposta] não guarda relação alguma com a consideração da transferência da Presidência pró-tempore do Mercosul”.
“O Uruguai entende que a prioridade essencial é conseguir evitar qualquer impasse que provoque uma paralisação nas atividades do bloco”, disse também o comunicado.
O telefonema já havia sido confirmado por Serra em um pronunciamento de imprensa ontem, quando ele disse que a “questão foi esclarecida”, mas não entrou em detalhes.
Nin Novoa comparece diante de Parlasul
O chanceler uruguaio também se encontrou na tarde de ontem com o presidente e os vice-presidentes do Parlasul (Parlamento do Mercosul) a fim de tentar destravar a situação do Mercosul, decorrente do impasse sobre a Presidência temporária do bloco.
Nada, porém, foi decidido na reunião. Segundo o presidente do Parlasul, o argentino Jorge Taiana, foi acordada a importância de “evitar uma crise que paralise o Mercosul por seis meses”, mas não foram pensadas estratégias para “desbloquear” o bloco.
“Não há soluções mágicas. Temos que construir um ambiente onde se possa destravar a situação e isso requer trabalho, diálogo e esforço”, disse ele em pronunciamento junto dos vice-presidentes Daniel Caggiani, do Uruguai, e Arlindo Chinaglia, do Brasil.
Taiana também disse que Novoa afirmou que iria continuar com o trabalho que vem fazendo diante da situação, dando a entender que o ministro uruguaio seguirá defendendo o direito de a Venezuela ocupar o cargo.
O presidente do Parlamento, porém, não quis comentar diretamente a situação da Venezuela, se recusando a “qualificar” as declarações do presidente do país, Nicolás Maduro, que vem criticando Brasil, Argentina e Paraguai por não reconhecerem sua liderança à frente do bloco.
“Nós não estamos num momento de qualificar declarações de ninguém porque temos que ajudar a diminuir a polarização e os enfrentamentos [dentro do Mercosul]. Todos temos posições definidas, somos de forças políticas diferentes e representamos países diferentes, mas a posição que todos temos é a de evitar um aprofundamento da crise”, afirmou Taiana.
Sobre a possibilidade de implementar uma Presidência coletiva no Mercosul, formada por um conselho de embaixadores — solução sugerida por Brasil, Paraguai e Argentina —, o vice-presidente Chinaglia disse que só analisarão a possibilidade se chegarem à conclusão, em consenso, de que ela deve ser analisada.
“Estamos tendo muita cautela, porque se nós começarmos a tentar substituir o poder Executivo de cada país [no bloco], nós vamos errar”, afirmou.
Ainda estão previstos novos encontros entre o Parlasul e os chanceleres dos países membros.
fonte: Opera Mundi

domingo, 21 de agosto de 2016

Crise nas relações Brasil-Uruguai

O chanceler uruguaio, Rodolfo Nin Novoa com José Serra


























Como a crise na Venezuela e uma acusação de compra de voto azedou a diplomacia Brasil-Uruguai de forma inédita


BBC Brasil
17 agosto 2016
A tradicionalmente fluida relação entre Brasil e Uruguai teve estremecimento "inédito" no último dia e gerou "profunda preocupação", na visão de políticos e analistas uruguaios ouvidos pela BBC Brasil. 
O estopim para os uruguaios foi uma visita recente do ministro brasileiro das Relações Exteriores, José Serra, a Montevidéu para conversar com autoridades do Uruguai sobre a Venezuela e o Mercosul. 
O bloco está mergulhado em uma crise, arrastando um impasse sobre quem deve liderá-lo até dezembro e dividido sobre questionamentos ao governo venezuelano. 
O chanceler uruguaio, Rodolfo Nin Novoa, disse a deputados e senadores de seu país, na semana passada, que Serra teria tentado "comprar o voto do Uruguai" para isolar a Venezuela no Mercosul - segundo publicou, nesta terça-feira, o jornal El País, de Montevidéu, citando transcrição das declarações de Novoa no Parlamento.

Rotatividade e 'membro pleno'

Pelo cronograma oficial do bloco (formado por Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela), os uruguaios deveriam ter passado a presidência temporária do Mercosul para os venezuelanos em julho. A presidência é semestral e rotativa, obedecendo à ordem alfabética dos nomes dos países. 
Os governos de Brasil, Paraguai e Argentina têm argumentado - com maior ou menor intensidade - que a situação política na Venezuela impediria seu governo de assumir essa presidência.
Além disso, argumenta-se, o fato de o país caribenho não ter implementado normas para ser integrante pleno do bloco dentro do prazo (que venceu em 12 de agosto) poderia impedi-lo também de ser "membro pleno" do Mercosul. Ou seja, o país deveria ser um associado, como é hoje o Chile, por exemplo, sem direito a voto. 
Em uma visita recente a Buenos Aires, o ex-chanceler Celso Amorim, que comandou o Itamaraty no governo Lula, opinou que "expulsar a Venezuela não é saída para o Mercosul". 
Publicamente, os críticos mais enfáticos da Venezuela têm sido o Brasil e o Paraguai. Os paraguaios defendem sanção com a aplicação da chamada "cláusula democrática" contra o governo venezuelano, em retaliação à profunda crise política atravessada pelo país.
A Argentina, oficialmente, tem defendido também uma reunião para resolver o impasse.

Uruguai e queda de braço

O Uruguai, por sua vez, entende que o país presidido por Nicolás Maduro deveria assumir essa liderança semestral, "como mandam as regras do bloco".
No inicio deste mês de agosto, a Venezuela declarou que assumiria a presidência, depois de Montevidéu ter dito que a deixava vaga, por já ter cumprido seu semestre - mas isso foi contestado pelo Brasil. 
Foi nesse confuso clima de queda de braço interno no Mercosul que Novoa falou sobre Serra aos parlamentares. 
Serra esteve no Uruguai, segundo a imprensa local, com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o que também gerou críticas. 
"Não gostamos muito que o chanceler (José) Serra tenha vindo ao Uruguai para nos dizer que (tinha) a pretensão de que fosse suspensa a transferência (do comando do Mercosul à Venezuela) e que, além disso, se (a transferência) fosse suspensa, nos levariam em suas negociações (comerciais) com outros países, como que querendo comprar o voto do Uruguai", disse Novoa na Comissão de Assuntos Internacionais da Câmara dos Deputados, no último dia 10. 
O chanceler uruguaio disse o Brasil teria proposto incluir o Uruguai em suas negociações para investimentos na África Subsaariana e no Irã. 

Embaixador

As afirmações de Novoa levaram o Itamaraty a convocar o embaixador do Uruguai em Brasília, Carlos Daniel Amorín-Tenconi, para "esclarecimentos", segundo nota divulgada nesta terça.
No comunicado, o Itamaraty diz que o governo brasileiro recebeu com "descontentamento" e "surpresa" as declarações de Novoa. A nota diz ainda que o governo brasileiro "tem buscado, de maneira construtiva, uma solução para o impasse em torno da presidência pro tempore do Mercosul".
O Itamaraty diz também que Serra esteve no Uruguai no dia 5 de julho e que tratou com o presidente Tabaré Vázquez e com Novoa do "potencial aprofundamento das relações entre o Brasil e o Uruguai e de oportunidades que os dois países podem e devem explorar conjuntamente em terceiros mercados". 
O senador Pablo Mieres, do partido Independiente, presente à sessão onde Novoa falou, disse à BBC Brasil por telefone que "nunca viu a situação do Brasil e do Uruguai em um momento tão estranho".
Ele disse que ouviu as declarações do chanceler uruguaio sobre Serra, mas entende que existe um problema "de origem" que é a situação da Venezuela.
"A Venezuela já deveria ter sido sancionada com a cláusula democrática porque tem uma série de problemas internos, como presos políticos. Mas isso não foi feito. E o Uruguai é muito correto com as normas e por isso também entendo que o governo tenha que passar a presidência para a Venezuela", disse Mieres, que é opositor ao governo Vázquez. 

'Momento grave'

O historiador e cientista político uruguaio Gerardo Caetano, da Universidade da República, de Montevidéu, disse por telefone que o momento é "grave".
"O Mercosul já passou por momentos difíceis, mas não me lembro de nenhum como este. Mas o problema não é somente a Venezuela, mas também o Brasil", disse Caetano. Ele declarou que o governo de Michel Temer é interino e que o processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff gerou "certas dúvidas jurídicas no Uruguai e em outros países da América Latina".
"O Uruguai é um país pequeno, obediente das regras jurídicas e muito cioso da sua soberania", argumentou Caaetano. "Para o Uruguai, o Brasil é um país muito importante. E (o fato de) que esteja sendo pressionado pelo Brasil é grave e preocupante". 
Caetano disse esperar que a diplomacia atue para "resolver o problema (bilateral) o quanto antes". Ele disse que Serra "transcendeu certas pautas" da diplomacia.
Ele fez a ressalva de que a Venezuela "também não tem colaborado". Isso porque Maduro teria feito ataques aos outros países do bloco, afirmando que formam uma "Tríplice Aliança" (como a que atuou nos tempos da ditadura militar no Cone Sul). 
Para o analista uruguaio, por ser líder regional, o Brasil deveria atuar com "moderação" especialmente neste momento.
fonte: BBC Brasil

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Itamaraty instrui diplomatas a combater versão de golpe


























Folha SP
25 maio 2016

Embaixadores brasileiros ao redor do mundo receberam nesta terça-feira (24) uma circular instruindo como devem "combater ativamente" as acusações de que o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff tenha sido "golpe".

O documento a que a Folha teve acesso, de autoria do gabinete do ministro José Serra, afirma que "órgãos de imprensa, acadêmicos e membros da sociedade civil, mas também dirigentes de organismos internacionais e representantes de governos, têm-se manifestado, frequentemente de forma imprópria e mal informada, a respeito do [...] processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff".

E, logo depois, completa: "Os equívocos porventura cometidos no tratamento de temas da realidade brasileira por autoridades locais na jurisdição do posto, geradores de percepções erradas sobre o corrente processo político no Brasil, devem ser ativamente combatidos por vossa excelência".

As circulares são usadas para passar informações ou instruções (ordens) a postos no exterior. O texto em questão orienta os diplomatas a esclarecer, "com elementos factuais e jurídicos sólidos, que o processo de impeachment (de Dilma) observa rigorosamente os ditames e ritos previstos na legislação."

Na circular, que foi recebida com surpresa em alguns postos, são compilados trechos de notas das chancelarias de Venezuela, Cuba, Bolívia e El Salvador, além das secretarias-gerais da Unasul e da OEA, que questionaram a legitimidade do processo de impeachment. 

Essas já haviam sido rechaçadas por notas duras do Itamaraty no último dia 13 de maio, que caracterizavam os questionamentos como "falsidades".

"Declarações vagas e sem fundamento sobre a inobservância da legislação brasileira [...] sobretudo emanadas de autoridades governamentais ou de dirigentes de organismos internacionais, precisam ser enfrentadas com rigor e proficiência, a fim de evitar que continuem a fomentar dúvidas infundadas sobre a lisura do processo político no Brasil", diz a circular. 

"Não é admissível que o processo de impeachment seja assemelhado a 'manobras' ou 'farsas políticas'."

RESPOSTAS

O texto segue listando quais devem ser as respostas dos diplomatas aos questionamentos, explicando em detalhes os trâmites do processo de impeachment.

"A presidente foi acusada de haver violado regras orçamentárias mediante a abertura de créditos suplementares sem prévia autorização legislativa [...] Trata-se de hipótese inconteste de aplicação do rito do impeachment, nos termos da Constituição."

E conclui dizendo que o processo existe "exatamente para permitir o afastamento de suas funções dos agentes públicos que cometam crimes de responsabilidade".

Procurado, o Itamaraty disse que não ia comentar.

Em março, após enviar um telegrama a embaixadas alertando para "o risco de golpe", o diplomata Milton Rondó Filho recebeu uma advertência do Itamaraty. Tratava-se de iniciativa individual de Rondó, sem autorização prévia. 

fonte: Folha SP

quinta-feira, 19 de maio de 2016

Discurso de posse de José Serra no MRE

























Brasília
18 maio 2016

"Queria saudar inicialmente o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal;
O presidente do STJ, ministro Francisco Falcão;
Ministro Herman Benjamin, ministro Rogério Schietti e ministro Paulo Moura;
Queria cumprimentar, e através dele todos os deputados aqui presentes, o presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, Pedro Vilela;
E o presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, meu colega do Senado, Aloysio Nunes, através de quem cumprimento todos os nossos queridos amigos senadores;
Queria saudar excelentíssimo ex-presidente da República, José Sarney, que, considero, teve um papel fundamental no processo de redemocratização do nosso país e merece ser reconhecido em todos os tempos por este papel.
Quero cumprimentar o senhor Núncio Apostólico, dom Giovanni d´Aniello, em nome de quem cumprimento os demais embaixadores estrangeiros acreditados junto ao governo brasileiro;
E dar aqui o meu abraço ao embaixador Mauro Vieira, ex-ministro de estado das Relações Exteriores, a quem agradeço a prestatividade, diria assim, e toda a colaboração nesse processo de transição do comando do Ministério. Quero dizer a ele que considero um homem que teve uma trajetória pública exemplar.
Quero agradecer também, muito enfaticamente, ao presidente Michel Temer pela confiança ao convidar-me para assumir este ministério, bem como pela paciência de revisar e pela aprovação deste Delineamento da Nova Política Externa Brasileira, que apresentarei hoje. O presidente leu ao meu lado, linha por linha, fazendo seus comentários, que naturalmente levei em conta. Quero dizer que trinta e três anos de convivência com Michel Temer, seja no mesmo lado ou em lados diferentes da vida política, foram sempre acompanhados de uma relação constante de amizade, respeito mútuo e permanente diálogo.
E quero por último, aqui agradecer a presença dos meus colegas de Ministério, são muitos, eu os saúdo em nome do ministro Romero Jucá, que, quis o destino, vai ter um papel junto comigo fundamental para a recuperação das finanças do Itamaraty.
Creio que os outros ministros entenderão por que escolhi o ministro Jucá para representá-los nesta saudação.
Deixe me dizer também de minha alegria em passar a integrar uma instituição de grande tradição e de marcada contribuição histórica ao nosso país. Deixe me dizer também da satisfação em conviver com um corpo de funcionários de reconhecida competência e espírito público. 
Eu espero aqui transmitir algumas ideias essenciais a respeito da nova política externa brasileira. Tenho e terei, como sempre em minha vida pública, os olhos voltados para o futuro e não para os desacertos do passado.
Primeira diretriz:
1. A diplomacia voltará a refletir de modo transparente e intransigente os legítimos valores da sociedade brasileira e os interesses de sua economia, a serviço do Brasil como um todo e não mais das conveniências e preferências ideológicas de um partido político e de seus aliados no exterior. A nossa política externa será regida pelos valores do Estado e da nação, não do governo e jamais de um partido. 
Essa nova política não romperá com as boas tradições do Itamaraty e da diplomacia brasileira, mas, ao contrário, as colocará em uso muito melhor. Medidas que, em outros momentos, possam ter servido ao interesse nacional, quero dizer, podem não ser mais compatíveis com as novas realidades do país e com as profundas transformações em curso no cenário internacional.
Segunda diretriz:
2. Estaremos atentos à defesa da democracia, das liberdades e dos direitos humanos em qualquer país, em qualquer regime político, em consonância com as obrigações assumidas em tratados internacionais e também em respeito ao princípio de não ingerência.
Terceira diretriz: 
3. O Brasil assumirá a especial responsabilidade que lhe cabe em matéria ambiental,  como detentor na Amazônia da maior floresta tropical do mundo, de uma das principais reservas de água doce e de biodiversidade do planeta, assim como de matriz energética limpa e renovável, a fim de desempenhar papel proativo e pioneiro nas negociações sobre mudança do clima e desenvolvimento sustentável. 
Lembro que, se fizermos bem a lição de casa, poderemos receber recursos caudalosos de entidades internacionais interessadas em nos ajudar a preservar as florestas e as reservas de água e biodiversidade do planeta, uma vez que o Brasil faz a diferença nessa matéria.
Quarta diretriz:  
4. Na ONU e em todos os foros globais e regionais a que pertence, o governo brasileiro desenvolverá ação construtiva em favor de soluções pacíficas e negociadas para os conflitos internacionais e de uma adequação de suas estruturas às novas realidades e desafios internacionais; ao mesmo tempo em que se empenhará para a superação dos fatores desencadeadores das frequentes crises financeiras e da recente tendência à desaceleração do comércio mundial. O comércio mundial está se contraindo a galope, eu diria.
Quinta diretriz:
5. O Brasil não mais restringirá sua liberdade e latitude de iniciativa por uma adesão exclusiva e paralisadora aos esforços multilaterais no âmbito da Organização Mundial do Comércio, como aconteceu desde a década passada, em detrimento dos interesses do país. 
Não há dúvida de que as negociações multilaterais da OMC são as únicas que poderiam efetivamente corrigir as distorções sistêmicas relevantes, como as que afetam o comércio de produtos agrícolas. Mas essas negociações, infelizmente, não vêm prosperando com a celeridade e a relevância necessárias, e o Brasil, agarrado com exclusividade a elas, manteve-se à margem da multiplicação de acordos bilaterais de livre comércio. 
O multilateralismo que não aconteceu prejudicou o bilateralismo que aconteceu em todo o mundo. Quase todo mundo investiu nessa multiplicação, menos nós. Precisamos e vamos vencer esse atraso e recuperar oportunidades perdidas.
Sexta diretriz:
6. Por isso mesmo, daremos início, junto com o Ministério da Indústria, Comércio e Serviços, com a cobertura da CAMEX e em intensa consulta com diferentes setores produtivos, a um acelerado processo de negociações comerciais, para abrir mercados para as nossas exportações e criar empregos para os nossos trabalhadores, utilizando pragmaticamente a vantagem do acesso ao nosso grande mercado interno como instrumento de obtenção de concessões negociadas na base da reciprocidade equilibrada. 
Nada seria mais equivocado, errôneo, nesta fase do desenvolvimento brasileiro, do que fazer concessões sem reciprocidade. Não tem sentido.
Sétima diretriz:
7. Um dos principais focos de nossa ação diplomática em curto prazo será a parceria com a Argentina, com a qual passamos a compartilhar referências semelhantes para a reorganização da política e da economia. 
Junto com os demais parceiros, precisamos renovar o Mercosul, para corrigir o que precisa ser corrigido, com o objetivo de fortalecê-lo, antes de mais nada quanto ao próprio livre-comércio entre seus países membros, que ainda deixa a desejar, de promover uma prosperidade compartilhada e continuar a construir pontes, em vez de aprofundar diferenças, em relação à Aliança para o Pacifico, que envolve três países sul-americanos, Chile, Peru e Colômbia, mais o México. 
Como disse Enrique Iglesias, muito bem observado, não podemos assistir impassíveis à renovação de uma espécie de Tratado de Tordesilhas, que aprofundaria a separação entre o leste e o oeste do continente sul-americano.  Em relação ao México, será prioritário aproveitar plenamente o enorme potencial de complementaridade existente entre nossas economias e hoje das nossas visões internacionais.
Oitava diretriz:
8. Vamos ampliar o intercâmbio com parceiros tradicionais, como a Europa, os Estados Unidos e o Japão. A troca de ofertas entre o Mercosul e a União Europeia será o ponto de partida para avançar na conclusão de um acordo comercial que promova maior expansão de comercio e de investimentos recíprocos, sem prejuízo aos legítimos interesses de diversos setores produtivos brasileiros. 
Como disse o ministro Mauro, houve a troca de ofertas, nós vamos agora examinar quais são as ofertas da União Europeia. Com os Estados Unidos, nós confiamos em soluções práticas de curto prazo para a remoção de barreiras não-tarifárias, que são, no mundo de hoje, as essenciais. No mundo de hoje não se protege, do ponto de vista comercial, com tarifas. Se protege com barreiras não-tarifárias. 
Quero dizer que o Brasil nesse sentido é o mais aberto do mundo. Nós não temos nenhuma barreira não-tarifária, ao contrário de todos os outros que se apresentam como campeões do livre comércio. Com os Estados Unidos, confiamos em soluções práticas de curto prazo, eu repito, para a remoção de barreiras não-tarifárias,  e de regulação que entorpecem o intercâmbio. Daremos igualmente ênfase às imensas possibilidades de cooperação em energia, meio ambiente, ciência, tecnologia e educação.
Nona diretriz:
9. Será prioritária a relação com parceiros novos na Ásia, em particular a China, este grande fenômeno econômico do século XXI, e a Índia. 
Estaremos empenhados igualmente em atualizar o intercâmbio com a África, o grande vizinho do outro lado do Atlântico. Não pode esta relação restringir-se a laços fraternos do passado e às correspondências culturais, mas, sobretudo, forjar parcerias concretas no presente e para o futuro. Ao contrário do que se procurou difundir entre nós, a África moderna não pede compaixão, mas espera um efetivo intercâmbio econômico, tecnológico e de investimentos. 
Nesse sentido, a solidariedade estreita e pragmática para com os países do Sul do planeta terra continuará a ser uma diretriz essencial da diplomacia brasileira. Essa é a estratégia Sul-Sul correta, não a que chegou a ser praticada com finalidades publicitárias, escassos benefícios econômicos e grandes investimentos diplomáticos. 
É importante ter a noção clara de que os diferentes eixos de relacionamento do Brasil com o mundo não são contraditórios nem excludentes, sobretudo dado o tamanho da nossa nação. Um país do tamanho do Brasil não escolhe ou repele parcerias, busca-as todas com intensidade, inspirado no seu interesse nacional. 
Vamos também aproveitar as oportunidades oferecidas pelos foros inter-regionais com outros países em desenvolvimento, como por exemplo os BRICS, para acelerar intercâmbios comerciais, investimentos e compartilhamento de experiências. E, com sentido de pragmatismo, daremos atenção aos mecanismos de articulação com a África e com os países árabes.
Décima diretriz:
10. Nas políticas de comércio exterior, o governo terá sempre presente a advertência que vem da boa análise econômica, apoiada em ampla e sólida consulta com os setores produtivos. 
É ilusório supor que acordos de livre comércio signifiquem necessariamente a ampliação automática e sustentada das exportações. Só há um fator que garante esse aumento de forma duradoura: o aumento constante da produtividade e da competitividade. Se alguém acha que basta fazer um acordo e abrir, que isso é condição necessária suficiente, está enganado. É preciso investir no aumento constante da competitividade e da produtividade. 
Daí a ênfase que será dada à redução do custo Brasil, mediante a eliminação das distorções tributárias que encarecem as vendas ao exterior e a ampliação e modernização da infraestrutura por meio de parcerias com o setor privado, nacional e internacional. 
O custo Brasil hoje é da ordem de 25%, ou seja, uma mercadoria brasileira idêntica a uma mercadoria típica média dos países que são nossos parceiros comerciais, custa, por conta da tributação, dos custos financeiros, dos custos de infraestrutura, dos custos tributários, 25% a mais. Imagine-se o desafio que nós temos por diante. 
E apenas assumi o ministério, eu me dei conta, conversando com nosso embaixador na China, o Roberto Jaguaribe, do esforço de nossas embaixadas para atrair investimentos nestes setores básicos da economia. O Roberto estava trabalhando inclusive para seduzir os capitais chineses a virem ao Brasil, investir em parceria com o Estado brasileiro nas obras de infraestrutura. Esse esforço será multiplicado, tenho certeza, com sucesso.
Aqui encerro as diretrizes, mas se eu tivesse que  acrescentar uma a mais, me alongar, que valeria a pena se alongar, eu citaria uma que temos que cumprir, colaborando com os ministérios da Justiça, da Defesa e da Fazenda, no que se refere à Receita Federal: a proteção das fronteiras, hoje o lugar geométrico do desenvolvimento do crime organizado no Brasil, vamos ter isso claro, que se alimenta do contrabando de armas, contrabando de mercadorias, que é monumental, e do tráfico de drogas. 
Em especial, nos empenharemos em mobilizar a cooperação dos países vizinhos para uma ação conjunta contra essas práticas criminosas que tanto dano trazem ao nosso povo e à nossa economia.
Por último, não menos importante, quero reafirmar meu compromisso com as comunidades brasileiras no exterior e o bom funcionamento de nosso serviço consular. Continuaremos a dar atenção prioritária à garantia dos direitos dos cidadãos brasileiros, onde quer que eles estejam.
Dirijo-me agora ao corpo de funcionários do ministério. Nós vamos recuperar a capacidade de ação do Itamaraty, acreditem. Num período de grandes transformações e, por que não dizer, incertezas no cenário internacional e de promissoras mudanças internas, a nossa diplomacia, não tenho dúvida, terá de, gradualmente, atualizar-se e inovar, e até mesmo ousar, promovendo uma grande reforma modernizadora nos objetivos, métodos e técnicas de trabalho. 
A diplomacia do século XXI não pode repousar apenas na exuberância da retórica e no tom auto-laudatório dos comunicados conjuntos. Precisa ter objetivos claros e ser a um só tempo discurso político e resultado concreto.
Os diplomatas brasileiros despertam o orgulho do país e o respeito dos parceiros do Brasil no exterior. Quero valorizar a carreira diplomática, assim como as demais carreiras do serviço exterior. Respeitar o critério do mérito. Não discriminar em favor dos amigos do rei ou de correligionários de um partido político. 
Quero progressivamente retirar o Itamaraty da penúria de recursos em que foi deixado pela irresponsabilidade fiscal que dominou a economia brasileira nesta década. Quero reforçar a casa, e não enfraquecê-la. Vamos restaurar o orgulho das novas gerações em servir ao Itamaraty e, sobretudo, ao Brasil. A Casa será reforçada, e não enfraquecida. E no governo do presidente Temer, o Itamaraty volta ao núcleo central do governo.
Meu programa de ação corresponderá à minha tradição na vida pública: trabalhar muito, apresentar e receber ideias, tomar iniciativas, delegar responsabilidades, cobrar resultados e promover negociações efetivas, bem como ter presença marcante, longe de cumprir um calendário de visitas inócuas, para “cumprir tabela”.
Estes são compromissos que apresento hoje. Este é o convite que faço a todos os servidores desta Casa, a fim de que façamos um esforço comum para valorizar o Itamaraty e pelo êxito de um governo que enfrentará, como todos sabemos, desafios imensos, mas que criará, se Deus quiser, as condições para a reconstrução do sistema político, o fortalecimento da representatividade da nossa democracia e a volta do crescimento da produção e do emprego.
Muito obrigado, mãos à obra, vamos em frente."
fonte: Itamaraty

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