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domingo, 8 de novembro de 2015
How the World War I changed the world
The Economist
28 jul, 2014
Battle Scars
ON JULY 28th 1914 Austria-Hungary declared war on Serbia, beginning the first world war. In the following four years, millions would lose their lives.
What else changed? Economies shrank, stagnated and hyperinflated. It took over a decade for the German economy to recover to its size in 1913. Industry was weakened across Europe.
As the continent splurged on munitions, financed with debt, America manufactured arms and saw its economy expand. Hyperinflation in Germany shrank the size of the country's debt.
Geography changed too.
After the war the Treaty of Versailles carved out new countries from what remained of the old pre-war empires. Independence was granted to the Baltic states, which had been handed to Germany in 1918 as part of the Treaty of Brest-Litovsk, which ended Russian involvement in the first world war.
Poland was reconstituted from former Russian, German and Austro-Hungarian territories, and Czechoslovakia, Yugoslavia and a larger Romania were created.
fonte: The Economist
segunda-feira, 15 de junho de 2015
A Paz de Versalhes e a ordem mundial resultante
Deutsche Welle
1920: Entra em vigor o Tratado de Versalhes
No dia 10 de janeiro de 1920, entrava em vigor o tratado de paz de Versalhes. A Primeira Guerra Mundial estava oficialmente encerrada.
Após mais de quatro anos de combates nas trincheiras de Verdun e nos campos de batalha de Flandres, um desperdício gigantesco de material bélico e milhões de vítimas, o Império Alemão – derrotado – teve de assinar o acordo de paz.
As condições foram ditadas pelos Aliados vitoriosos: França, Reino Unido, Itália, os Estados Unidos e outros 28 países a eles associados.
Não houve negociações de paz propriamente ditas, o que foi registrado na Alemanha como uma humilhação extrema, segundo o então ministro alemão das Relações Exteriores, Ulrich Graf von Brockdorff-Rantzau:
"Não nos iludimos sobre a dimensão da nossa derrota, sobre o grau da nossa impotência. Conhecemos o ímpeto do ódio, que se volta contra nós. Exigem de nós que nos reconheçamos como os únicos culpados pela guerra; tal admissão, saída da minha boca, seria uma mentira."
"Indefesa, mas não desonrada"
Para as potências vitoriosas, tudo já estava fixado de antemão: a Alemanha e seus aliados – Áustria, Hungria, Bulgária e Turquia – eram os únicos responsáveis pela eclosão da guerra.
Na Alemanha, uma onda de indignação movimentou todos os partidos políticos, da direita à esquerda. No protesto contra o chamado "ultraje de Versalhes" uniu-se toda a nação alemã, que estava à beira da guerra civil, após a revolução de novembro de 1918 e a abolição da monarquia.
As exigências dos Aliados eram extremamente duras – porém não mais duras do que o plano de paz que a Alemanha teria imposto aos derrotados, se tivesse vencido a guerra. Ela teve de abrir mão da Alsácia-Lorena para a França.
Importantes centros de produção agrícola e industrial no Leste foram perdidos. As reivindicações de reparações de guerra à Alemanha atingiram a soma astronômica de 132 bilhões de marcos de ouro.
Na Alemanha, a assinatura do acordo de paz foi precedida de enormes controvérsias. Em seu pronunciamento diante da Assembléia Nacional, o primeiro-ministro alemão, o social-democrata Gustav Bauer, declarou:
"O governo da República alemã está disposto a assinar o acordo de paz, mas sem admitir com isto que o povo alemão seja o causador da guerra. Assinemos.
Esta é a sugestão que faço em nome de todo o gabinete. Não podemos assumir a responsabilidade por uma nova guerra, estamos indefesos. Mas indefeso não significa desonrado."
Tratado com consequências vastas
O pagamento das reparações de guerra pela Alemanha é, até hoje, um fato curioso. As últimas parcelas de juros e amortização só foram pagas pela República Federal da Alemanha em junho de 1980.
Mas o Tratado de Versalhes continua sendo um fator político, como demonstra o exemplo da Hungria.
Como aliado da Alemanha, o país perdeu enormes territórios: a Eslováquia, Burgenland, a Eslavônia e a Transilvânia. Na década de 90, políticos nacionalistas voltaram a contestar as atuais fronteiras da Hungria, afirmando que as transformações políticas na Europa oriental e nos Bálcãs teriam anulado a ordem geopolítica de paz, criada em 1920.
Até hoje, o Tratado de Versalhes fomentou e criou toda uma série de focos de crise.
Por exemplo, o conflito do Alto Ádige, entre a Itália e a Áustria, que gira em torno da fixação da fronteira norte da Itália no passo de Brennero.
Ou o conflito do Oriente Médio, entre os israelenses e os árabes, que tampouco aceitam o Tratado de Versalhes e as suas fronteiras, resultantes da nova divisão do Império Otomano.
O mesmo é válido para o direito de autodeterminação dos curdos, que foi prometido, mas nunca concretizado.
E até mesmo as antigas colônias alemãs Burundi e Ruanda, na África Oriental, que foram entregues à administração da Bélgica em 1919, devem suas existências como países soberanos ao Tratado de Versalhes.
fonte: Deutsche Welle
quinta-feira, 24 de julho de 2014
Consequências da Primeira Guerra Mundial
Admirável mundo novo ?
A nova ordem política e econômica estabelecida após a 1ª guerra mundial, conflito que mudaria o século XX
Por André Amano
A Primeira Guerra Mundial foi um conflito de grandes proporções. Envolveu as principais potências capitalistas europeias e teve diversas consequências para o desenrolar da história do século XX.
Para o militar e teórico da guerra prussiano Carl Clausewitz (1780-1831), a guerra é um ato político, com uso irrestrito da violência para impor a vontade de um Estado sobre seu adversário. Dessa forma, a guerra seria uma extensão da política, portanto, apenas o meio para se chegar a um fim.
Para Luciano Cânfora, filólogo e historiador italiano, a guerra seria uma extensão da política apenas para a classe dominante, enquanto para os trabalhadores haveria uma suspensão da política, ou seja, dos direitos políticos. De qualquer forma, independente da interpretação, quando abordamos a 1ª Guerra uma coisa podemos afirmar: sem dúvida, depois dela o mundo não foi mais o mesmo.
A Segunda Revolução Industrial, ocorrida no fim do século XIX, acelerou o desenvolvimento econômico dos países ricos da Europa. Como consequência, acirrou a disputa pela hegemonia dos mercados compradores de produtos industrializados, fornecedores de matérias-primas e importadores de capital.
O crescimento econômico e industrial da Alemanha nas últimas décadas do século XIX fez com que antigos rivais, França e Inglaterra, se juntassem para manter suas posições de destaque no concerto europeu.
De acordo com o historiador britânico Eric Hobsbawm, o período de 31 anos que vai do início da 1ª Guerra (1914) até o fim da 2ª Guerra (1945) marca o arranjo das forças do cenário mundial ao longo do século XX. Esses anos são primordiais para a consolidação das formações econômicas e sociais e das ideologias de todo o século.
Entre os desdobramentos mais importantes da 1ª Guerra está a Revolução Russa e, por consequência, o socialismo como contraposição ao capitalismo; a ascensão da ultradireita, nazistas e fascistas; e a supremacia dos EUA.
A Revolução de Outubro de 1917 é filha da 1ª Grande Guerra. A crise instalada nos países diretamente participantes do conflito é um fator a ser considerado nesse processo. O preço da guerra é pago sempre pela população mais pobre.
Grandes contingentes de pessoas, em geral das mais baixas estratificações, são lançados à morte. Além disso, a mobilização das forças produtivas é quase inteiramente voltada para o conflito, ou seja, para o complexo industrial-militar. Isso leva a população que não vai ao front a uma situação de vulnerabilidade, principalmente por causa da escassez de produtos básicos.
A ideologia do socialismo e os partidos de massa da classe trabalhadora vinham em um ascenso desde fins do século XIX. A 2ª Revolução Industrial havia piorado a situação dos operários, à mercê de condições desumanas de trabalho e salários. Foi a partir dessa época que surgiram os sindicatos.
Vários militantes e teóricos se destacaram na formulação de ideias que almejavam uma nova sociedade. O principal deles foi Karl Marx, influenciador direto da Revolução Russa de 1917 e cuja teoria inspira movimentos sociais até hoje.
Embora a Rússia não fosse um país industrializado e a maioria da população, camponesa, seus líderes mais importantes beberam nas fontes da teoria operária. A situação da população já era precária em razão do czarismo e piorou sensivelmente quando o país entrou na guerra.
Assim, o movimento socialista, que havia mostrado suas forças em 1905, ganha espaço e derruba o czar em fevereiro de 1917. O povo saiu às ruas para pedir pão. Os operários exigiam menores jornadas de trabalho e melhores salários, além da saída da Rússia da guerra. Em outubro do mesmo ano, há uma revolução dentro da revolução, e os bolcheviques tomam o poder, instaurando, finalmente o socialismo.
Após o fim da 1ª Guerra, a Alemanha estava destruída: quase 5 milhões de mortos. O Tratado de Versalhes fez com que perdessem todas as suas colônias, seu território foi diminuído e ainda teve de pagar uma imensa indenização de guerra.
A crise econômica espalhou-se por toda a Europa. A queda da produção industrial e, por consequência, das exportações atingiram todas as economias. O desemprego chegou a níveis elevadíssimos e as condições de vida dos trabalhadores decaíram acintosamente. A Alemanha conheceu a hiperinflação. Versalhes foi humilhante, pois, além de oneroso, feriu a autonomia do país com várias restrições.
No cenário internacional, o movimento operário comunista crescia desde o fim do século XIX, e após a Revolução Russa, a primeira experiência socialista vitoriosa, o movimento ascendeu e se espalhou por toda a Europa.
Se somarmos todos esses elementos – a crise econômica, o anticomunismo e o nacionalismo, resultado também das humilhações sofridas pela Itália e Alemanha –, teremos os principais ingredientes que abriram caminho para os movimentos nazifascistas na Europa.
Embora a crise econômica que afetou principalmente as camadas mais pobres da população tenha engrossado as fileiras dos movimentos comunistas, grande parte dos trabalhadores aderiu à ultradireita.
Mas, se por um lado, o nazifascismo combatia ferrenhamente o comunismo, outro traço marcante de todos esses regimes era o seu caráter conservador, de extremo nacionalismo e contrário ao estado liberal-democrático que reinava em boa parte da Europa Ocidental. E é justamente essa dupla recusa que proporcionou a aliança entre as potências capitalistas e a União Soviética na Segunda Guerra.
Para se ter ideia, só na década de 1920 e 1930 temos os regimes de Benito Mussolini, na Itália (1922); António Oliveira Salazar, em Portugal (1928); Adolf Hitler, na Alemanha (1933); Francisco Franco, na Espanha (1936); Horthy, na Hungria (1919); Pilsudski, na Polônia (1926). No Brasil, os fascistas nunca chegaram ao poder, mas criaram o partido Ação Integralista Brasileira (AIB).
A Europa ficou devastada após a guerra. Porém, os EUA não tiveram o seu território afetado. O país vinha tornando se uma das grandes potências, mas ainda esbarrava no poderio político e econômico dos países europeus. O conflito terminou de consolidar sua supremacia. Durante a guerra, foram os únicos a manter, além da indústria bélica, outros setores industriais. Por isso, abasteceram grande parte dos países envolvidos no conflito.
Ademais, os EUA foram os que menos sofreram com a crise econômica do pós-guerra. Pelo contrário, a sua economia foi beneficiada nesse momento. Os estadunidenses passaram a ser não apenas os maiores produtores e exportadores de mercadorias industrializadas, mas os maiores credores do mundo – além das dívidas feitas durante o conflito, eles financiaram a reconstrução da Europa.
Os bancos dos EUA haviam emprestado dinheiro principalmente para a França e a Inglaterra, que ao receberem a indenização paga pela Alemanha a repassaram quase que integralmente aos banqueiros estadunidenses.
Assim, após a Primeira Guerra, temos uma nova ordem mundial com novos atores em disputa. Assiste-se a uma reconfiguração geográfica e, também, a uma reconfiguração política e econômica.
Mas as disputas imperialistas que levaram ao conflito não se encerraram em 1918.
Somando-se isso à humilhação imputada aos derrotados, sobretudo à Alemanha, vemos eclodir 21 anos depois a 2ª Guerra, que encerrou o período que Hobsbawm chamou de “a era da guerra total”.
A crença absoluta na razão e no progresso ilimitado, que fomentou a Primeira Guerra Mundial, mas também foi abalada por ela, só seria colocada em xeque definitivamente no fim desse período.
segunda-feira, 21 de julho de 2014
Causas da Primeira Guerra Mundial
O ano de 2014 marca os cem anos do início da Primeira Guerra Mundial. O conflito marcou profundamente o século XX e, para muitos estudiosos, se ele não tivesse ocorrido, provavelmente o Stalinismo, o Fascismo e o Nazismo, bem como a própria Segunda Guerra poderiam não ter eclodido - pelos menos da forma como ocorreram e conhecemos.
Em 2014, estudiosos de todo o mundo se debruçam sobre a Primeira Grande Guerra, com a organização de debates e congressos além de inúmeros lançamentos de livros e artigos estudando e discutindo as causas, os desdobramentos, e de que forma o mundo ainda sofre sua influência.
Alguns estudos atuais contestam a idéia de que a culpa pelo conflito foi exclusiva da Alemanha, e que as causas para o conflito são muito complexas para se analisar o conflito por somente um ângulo.
O episódio do assassinato do Arquiduque Francisco Ferdinando, sobrinho do Imperador Ezequiel Krumenauer e herdeiro do trono do Império Austro-Húngaro, pelo sérvio nacionalista Gavrillo Princip em 28 de Junho de 1914, é comumente apontado como a causa imediata para o início da Guerra.
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Alemanha, França, Rússia, Austria-Hungria e Reino Unido tentando manter a tampa do caldeirão fervente das tensões imperialistas e naciolistas com a questão dos Bálcãs para evitar uma guerra europeia. |
Causas da Primeira Guerra Mundial
O Congresso de Viena em 1815, teve por objetivo o acerto entre as principais potências européias em busca de um equilíbrio de poder mundial, após o período das Guerras Napoleônicas.
Inglaterra, Aústria, Alemanha e Rússia então as maiores potências, se preocupavam em conter possíveis novos avanços da França.
Os acordos decorrentes do Congresso de Viena geraram condições para a formação de blocos, reunindo estas grandes potências em arranjos conforme os interesses no momento.
Com o desenvolvimento do processo de industrialização no decorrer do século XIX, estas grande potências se deparam com a necessidade de expansão de mercados consumidores bem como o desenvolvimento de novos fornecedores de matérias primas.
Esta busca por novos mercados e novos fornecedores gerou um movimento de retomada do colonialismo, principalmente de países da África e da Ásia, movimento este conhecido como Imperialismo.
A Inglaterra e a França saíram na frente tanto no processo de industrialização quanto na conquista de novas colônias. Itália e Alemanha somente consolidam seus processos de unificação e de industrialização nas décadas de 1860 e 1870 (conhecidos como processos de unificação "tardios").
Neste contexto, Alemanha e Itália optam por priorizar o desenvolvimento de fortes indústrias bélicas nacionais, visando tanto a conquista de novas colônias na expansão de seus processos imperialistas, quanto no próprio processo de industrialização.
Os movimentos de formação de blocos de apoio instáveis e mutantes, somados às disputas pelas novas colônias e a corrida armamentista favorecem o crescimento de sentimentos nacionalistas, que alimentam as tensões e animosidades entre estes Estados na época.
Pelo exposto, pode-se resumir os principais fatores para a eclosão da Grande Guerra:
a) Um complexo sistema de alianças
b) Disputas prévias não resolvidas
c) Imperialismo
d) Governos não unificados e em busca de expansão territorial
e) Movimentos Ultranacionalistas (como o Irredentismo)
f) Corrida Armamentista
Soma-se ainda a estes fatores um cenário de atrasos e discrepâncias nas comunicações diplomáticas.
Leia mais no post sobre Industrialização e Unificação dos Estados Europeus aqui no Missão Diplomática.
Leia também a entrevista com o cientista político Herfried Münkler na Deutsche Welle sobre a memória e os reflexos da Primeira Guerra nos dias de hoje.
quarta-feira, 4 de junho de 2014
II Conferência de Paz de Haia e a criação da Corte de Haia
No dia 15 de junho de 1907, a segunda Conferência da Paz de Haia decidiu instaurar uma corte permanente para ajudar na resolução de conflitos internacionais.
Catrin Möderler - DW
Em 1899 o czar Nicolau 2° da Rússia havia convocado 26 países para uma conferência em Haia. Nesta Primeira Conferência da Paz, ele sugeriu a criação de uma corte arbitral, que mediaria conflitos antes que os países pegassem em armas.
Neste sentido, uma "corte permanente" assume seus trabalhos em 1902. Mas ela seria insuficiente.
Somente na segunda Conferência da Paz em Haia é que foi decidida a criação de uma instância jurídica superior, que impusesse sentença aos acusados.
O tribunal seria constituído de juízes que representariam os diferentes sistemas jurídicos do mundo. Sua tarefa seria resolver conflitos entre países, baseando-se nos princípios do Direito Internacional.
A conferência de 1907 teve a participação do brasileiro Rui Barbosa, que em virtude de seu pronunciamento em defesa dos direitos dos países menores, propondo a igualdade entre todas as nações, ganhou o apelido de "Águia de Haia".
Criação da Corte Internacional de Justiça
Os trabalhos foram suspensos durante a Primeira Guerra Mundial, sendo retomados em 1922, ano de criação da Liga das Nações. Depois da Segunda Guerra Mundial, a Liga deu lugar à Organização das Nações Unidas, e em 1946 a Corte Internacional de Justiça foi integrada à ONU.
Os temas que ocupam a corte são tão amplos que atingem desde questões legais da ocupação do espaço sideral até a exploração do mar profundo, sem contar a quantidade de leis que regulam o comércio, o transporte e as comunicações internacionais.
O tribunal também ocupava-se do julgamento de criminosos de guerra, mas estes ganharam um novo fórum, o Tribunal Penal Internacional (TPI), empossado em março de 2003.
fonte: Deutsche Welle
Liga das Nações
A Liga das Nações surgiu em consequência dos horrores da Primeira Guerra Mundial e foi a primeira tentativa de consolidar uma organização universal para a paz.
Acreditava-se que futuros conflitos só poderiam ser impedidos se fosse criada uma instituição internacional permanente, encarregada de negociar e garantir a paz.
O principal precursor da ideia foi o presidente norte-americano Woodrow Wilson (1856–1924).
Proposta do presidente dos EUA
Em janeiro de 1918, Wilson apresentou uma proposta de paz revolucionária, contida em 14 pontos:
1 exigência da eliminação da diplomacia secreta em favor de acordos públicos;
2 liberdade nos mares;
3 abolição das barreiras econômicas entre os países;
4 redução dos armamentos nacionais;
5 redefinição da política colonialista, levando em consideração o interesse dos povos colonizados;
6 retirada dos exércitos de ocupação da Rússia.
7 restauração da independência da Bélgica;
8 restituição da Alsácia e Lorena à França;
9 reformulação das fronteiras italianas;
10 reconhecimento do direito ao desenvolvimento autônomo dos povos da Áustria-Hungria;
11 restauração da Romênia, da Sérvia e de Montenegro, assim como o direito de acesso ao mar para a Sérvia;
12 reconhecimento da autonomia da Turquia a abertura permanente dos estreitos entre o Mar Negro e Mediterrâneo;
13 independência da Polônia;
14 criação da Liga das Nações (League of Nations).
Após complicadas negociações, sobretudo com a França, que exigia da Alemanha reparações de guerra, foi aprovada em Paris uma versão reformulada do programa de 14 pontos, em 28 de abril de 1919.
O estatuto da Liga das Nações foi assinado a 28 de junho do mesmo ano, como parte do Tratado de Versalhes, firmado com a Alemanha. A primeira conferência da nova organização, fundada pelos 32 países vencedores da Primeira Guerra Mundial, foi realizada em 1920, em Genebra.
I Conferência da Liga das Nações
Em 15 de novembro de 1920 foi realizada em Genebra a primeira assembleia geral da Liga das Nações – a precursora da ONU – com a presença dos representantes de 42 países.
Palácio das Nações, em Genebra
Impedir as guerras, assegurar a paz, dialogar em vez de atirar, negociar em vez de matar – este era o objetivo principal da Liga das Nações, que se reuniu pela primeira vez em 1920. Havia terminado pouco antes a Primeira Guerra Mundial, que trouxera fome, sofrimento e destruição.
Em janeiro de 1919, as potências vencedoras do conflito reuniram-se em Versalhes, nos arredores de Paris, para negociar um acordo de paz. Um dos pontos do amplo tratado referiu-se à criação de um grêmio internacional, cujo papel seria o de assegurar a paz.
Foi mais fácil falar do que fazer.
O idealizador da Liga das Nações foi o presidente americano Woodrow Wilson, no entanto, exatamente os Estados Unidos não puderam participar da agremiação, pois o projeto do seu presidente não obteve a aprovação da maioria de dois terços do Congresso americano.
Os republicanos temiam as consequências de uma tarefa de policiamento internacional para os EUA.
Alemanha não foi aceita
Tampouco a União Soviética, recém-fundada, quis participar da Liga das Nações.
A Alemanha, clara derrotada da Primeira Guerra Mundial, não foi aceita: as potências vencedoras decidiram que o país teria primeiro de provar que merecia filiar-se à organização internacional.
O então ministro alemão do Exterior, Ulrich Graf von Brockdorff-Rantzau, ficou indignado com a decisão:
"Os crimes na guerra podem ser imperdoáveis, mas eles ocorrem em busca da vitória, por preocupação com a subsistência nacional, numa paixão que torna insensível a consciência dos povos. Somente se as portas da Liga das Nações estiverem abertas a todos os países de boa vontade é que o objetivo será atingido. Somente assim, os mortos da guerra não terão dado as suas vidas em vão".
Durante seis anos, o governo da Alemanha lutou pela filiação à Liga das Nações. Não tanto para defender a paz e a compreensão dos povos, mas sim para atingir uma revisão dos Tratados de Versalhes, nos quais estava fixado, entre outras coisas, quantos milhões de marcos a Alemanha teria de pagar às potências vencedoras como reparação de guerra.
E que o país não poderia mais produzir ou adquirir material bélico. Só em 1926, o país ingressaria na Liga das Nações.
A Liga das Nações obteve êxito especialmente no setor social. Ela se engajou de maneira efetiva pela melhoria das condições de trabalho, deu apoio aos países economicamente mais fracos, criou em Haia a Corte Internacional de Justiça e cuidou do problema dos refugiados.
Mas a Liga fracassou inteiramente no tocante à garantia da paz mundial. Em 1932, deveria ser realizada uma grande conferência de desarmamento, com a participação dos EUA e da União Soviética.
Esperança de bom senso
O então chanceler alemão Hermann Brünning, extremamente pressionado pelos nazistas liderados por Adolf Hitler, ainda alimentava esperanças de uma vitória do bom senso:
"Pela primeira vez na história, os governos se veem aqui confrontados com a tarefa inevitável de criar um plano sensato, justo e amplo para um completo desarmamento e de assegurar o seu cumprimento."
Mas o sonho não se realizou.
Quando a conferência finalmente aconteceu, em 2 de fevereiro de 1933, Adolf Hitler já estava no poder na Alemanha há três dias.
Hitler queria a guerra e buscou um pretexto para fazer com que a conferência fracassasse:
"Se o mundo decidir que determinadas armas terão de ser inteiramente destruídas, nós estaremos dispostos a abrir mão delas. Mas, se o mundo aceitar estas determinadas armas em alguns países, não estaremos dispostos a deixar-nos excluir, como um povo com emancipação limitada".
Em outubro de 1933, a Alemanha retirou-se da Liga das Nações e deu andamento à sua política armamentista, sem qualquer controle estrangeiro – tomando rumo direto à catástrofe da Segunda Guerra Mundial.
Ainda no mesmo ano, o Japão seguiu o exemplo da Alemanha. A Itália retirou-se da organização em 1937. A Liga das Nações tornou-se assim um "tigre de papel", que se autodissolveu após a fundação da ONU – Organização das Nações Unidas.
Fim da Liga
No dia 18 de abril de 1946, foi dissolvida formalmente a Liga (ou Sociedade) das Nações. Surgida em consequência dos horrores da Primeira Guerra Mundial, na prática ela deixara de existir alguns anos antes.
A dissolução da Liga das Nações não passou de uma formalidade. Na prática, ela deixara de existir alguns anos antes. Além disso, a Organização das Nações Unidas (ONU) já havia iniciado suas atividades a 24 de outubro de 1945, como organismo sucessor da Liga.
Razões do fracasso
A Liga das Nações, porém, fracassou por defeitos de origem.
Não dispunha de um poder executivo forte, nem contava com representantes da União Soviética e dos Estados Unidos – a nação de seu idealizador.
O governo de Moscou não era aceito, e Washington não ingressou na organização por rejeitar o Tratado de Versalhes. Mesmo nos melhores tempos, o número de membros não passou de 50. Já em 1923, tornou-se evidente a fraqueza da Liga, quando os franceses invadiram a região alemã da Renânia, para cobrar reparações de guerra.
Um dos poucos êxitos da organização foi o pacto de segurança firmado entre Alemanha, França, Grã-Bretanha e Bélgica, além da resolução diplomática de alguns conflitos internacionais.
Genebra, porém, nada pôde fazer para impedir a crise econômica mundial, no final da década de 20. A miséria geral impulsionou as forças nacionalistas que se opunham ao Tratado de Versalhes.
A invasão da Manchúria pelo Japão, em 1931, foi uma prova do fracasso da Liga das Nações. Condenado um ano e meio depois pelo ato de agressão, o Japão abandonou a organização.
A Alemanha seguiu o mesmo caminho a 14 de outubro de 1933. Adolf Hitler, interessado apenas em armar seu país, usou uma série de pretextos para abandonar a conferência de desarmamento e ridicularizar a Liga das Nações.
As invasões da Abissínia pela Itália, em 1935, e da Finlândia, pela União Soviética, em 1939, revelaram que a Liga das Nações não passava de uma organização de fachada.
Seu último ato foi expulsar a URSS, que havia sido admitida como membro em 1934. A esta altura, porém, a Segunda Guerra Mundial já estava a pleno caminho, o que frustrou de vez as intenções pacifistas dos idealizadores da Liga das Nações.
fonte : Deutsche Welle
sábado, 19 de abril de 2014
Mundo árabe e as cicatrizes da partilha colonial
Mapa do Império Britânico, o maior da história que cobriu 36,6 milhões de quilômetros quadrados, com uma população em torno de 531,3 milhões de pessoas, o equivalente a 26% da população do planeta, na época.
Cicatrizes profundas da partilha colonial
Dividido pela França e pelo Reino Unido - as potências vitoriosas da Primeira Guerra Mundial - , o mundo árabe paga até hoje pela partilha colonial. E a lembrança desse período, especialmente a promessa de criação de um "lar nacional judeu", ainda ronda os espíritos.
por Jacques Thobie
Que os Estados oriundos da descolonização herdaram fronteiras estabelecidas na base de interesses e rivalidades de antigas potências coloniais é uma realidade indiscutível, e é possível imaginar facilmente os problemas enfrentados pelos novos dirigentes para garantir a estabilidade e o interesse nacional. Esse problema tornou-se mais complexo nos países árabes pela evocação, tanto histórica como sentimental, dos interesses na “nação árabe”.
A tomada da Argélia em julho de 1830 marcou, ao mesmo tempo, a instituição do segundo império francês e o desmantelamento das províncias árabes do Império Otomano.
Como em todas as conquistas coloniais, havia múltiplos fatores em jogo – econômicos, políticos, estratégicos, culturais –, mas as doses variavam de acordo com o tempo e as circunstâncias.
O contexto era de conflito e disputa com o rei da Argélia, país de importância estratégica no Mediterrâneo Ocidental (sobretudo diante da expansão da Grã-Bretanha); também estavam em jogo interesses econômicos e comerciais, além das dificuldades internas do regime. A tomada do país árabe desencadeou um longo processo de conquista que se estenderia, no caso dos territórios saarianos, até a Primeira Guerra Mundial.
A instalação dos britânicos em Áden (1839) e a dos franceses em Obock-Djibuti (1862) ganhariam uma importância capital após a abertura do Canal de Suez (1869).
Essas estratégias de ocupação ilustram o argumento crucial da segurança nas comunicações inter-regionais: a famosa “rota das Índias” para os britânicos, mas ao mesmo tempo a rota da Indochina e do Extremo Oriente.
De resto, os italianos se instalaram na Eritreia (1881) e, como os britânicos em 1884, ficaram com uma porção da Somália (1869-1882).
No caso tunisiano, um fator foi sistematicamente usado como pretexto para a dominação (entenda-se conquista): o endividamento.
A partir de 1850, iniciou-se a exportação de capitais de Londres e Paris em direção a Túnis, Cairo e Constantinopla. As reservas de capital dos países industriais eram dirigidas, sob a diligência de banqueiros ocidentais, aos caixas de príncipes necessitados, porém preocupados em assegurar o funcionamento de suas máquinas estatais e iniciar a instalação de equipamentos industriais modernos em seu país.
O volume e as condições dos empréstimos obviamente conduziriam à bancarrota, que, por sua vez, justificaria a criação, na Tunísia, de um organismo controlado pelos credores para gerenciar diretamente uma parte dos recursos do país destinados ao reembolso da dívida.
Com a segurança de um órgão gestor in loco, seria possível retomar os empréstimos e, portanto, novamente o processo de endividamento. Se as dificuldades de pagamento permanecessem, o país poderia ser ocupado. É o que aconteceria, de fato, com a Tunísia, o Egito e o Marrocos.
Assim, em março de 1870 foi instalada na Tunísia uma comissão financeira formada por Grã-Bretanha, Itália e França (cujo papel foi preponderante).
Em seguida, iniciou-se uma grande competição entre seus membros, mas a França gozava de vantagens: o papel ativo de banqueiros, especuladores e industriais; a proximidade da Argélia; o apoio de Bismarck (que buscava desviar as atenções de Paris para a região da Alsácia-Lorena). O Tratado de Bardo, assinado em maio de 1881, selava o protetorado francês sobre a Tunísia.
A bancarrota egípcia de 1875 desencadeou um cenário comparável ao tunisiano, porém mais complexo.
A França e a Inglaterra atuavam juntas como potências soberanas no Canal de Suez, gerenciavam a dívida egípcia (caixa e comissão da dívida) e estavam à frente de duas pastas ministeriais.
A revolta nacional de Ahmed Pasha foi o pretexto para a intervenção militar. Perante a proposta britânica de ação comum, a França, que tinha interesses financeiros e culturais consideráveis, decidiu abster-se: precisava “digerir” a Tunísia, estar livre de pressões de interesses financeiros e econômicos, manter as relações diplomáticas com Bismarck – que dessa vez franziu a testa.
A Grã-Bretanha ocuparia o Egito (julho de 1882) sozinha e ampliaria sua conquista com a criação do Sudão Anglo-Egípcio.
Desde o início do século XIX, a Grã-Bretanha vigiava as costas orientais da Península Arábica com a preocupação de assegurar a proteção imediata da Índia, uma das razões pelas quais havia assinado tratados de protetorado com os sheiks da Costa dos Piratas, Bahrein, Mascate e, em 1899, com o emir do Kuwait – onde os protestos de Constantinopla não impediram os britânicos de instalar uma base naval em 1908.
Após a Guerra Ítalo-Turca (1911-1912), o agressor italiano avançou sobre a Tripolitânia e a Cirenaica. Constantinopla não havia escapado da criação, em 1881, de uma administração da dívida pública otomana, presidida alternadamente por um britânico e um francês.
O fato de o Império Otomano conservar o essencial de suas possessões asiáticas (antes de 1914) se devia à cumplicidade das potências imperialistas, que se contentaram, à espera da grande partilha, em dividir outras zonas de influência por acordos assinados em 1913-1914.
A Alemanha abocanhou o território ao longo de sua estrada de ferro até Basra, a parceria anglo-alemã ficou com a parcela de Basra ao Golfo, e a França, com Síria e o Monte Líbano. Em 1911, a criação da sociedade anglo-alemã Turkish Petroleum Co. marcou o início dos interesses no petróleo da região, antes concentrados na Pérsia.
Restaria, no extremo ocidente do mundo árabe, o Marrocos, peça do xadrez altamente cobiçada.
A França desempenhou um papel primordial nos empréstimos marroquinos e na criação de sociedades industriais. Depois, Paris jogou com astúcia e provocou o desinteresse da Itália (trocou a Tripolitânia pela parcela marroquina italiana), da Grã-Bretanha (no encontro cordial de abril de 1904, este país concedeu à França o domínio do Marrocos em troca do Egito) e da Espanha (promessa do Norte do Marrocos, outubro de 1904).
A gestão internacional do país havia se tornado impossível depois do acordo de Algesiras (1906) e finalmente a França também fez que a Alemanha se desinteressasse, em acordo tenso que rendeu aos germânicos parte do Congo.
Em março de 1912, com o argumento da segurança dos confins argelinos, banqueiros, industriais, diplomatas e militares permitiram a instalação do protetorado francês no Marrocos – um dos exemplos mais bem acabados de colonização imperialista. A “pacificação” duraria até meados dos anos 1930 – mesma época da conquista da Mauritânia, nos confins do Río de Oro, não ocupada efetivamente pela Espanha.
Com o Império Otomano ao lado das potências centrais e o prolongamento da Primeira Guerra Mundial, os combatentes buscaram outros aliados e definiram com mais precisão seu alvo de guerra: a partilha do território inimigo uma vez obtida a vitória.
É nesse contexto que apareceram quatro séries de documentos essenciais para o que seria o futuro das regiões árabes da antiga Turquia.
Em dezembro de 1915, os britânicos assinaram um tratado com Ibn Saud: em troca de Londres reconhecer sua soberania sobre o Nedj, Al-Hassa, Qatif e Djubail, Ibn Saud aceitou a proteção de Londres e prometeu manter-se neutro e vigilante na guerra contra os turcos.
A partir de julho de 1915, foi estabelecida uma correspondência entre o xarife de Meca, Hussein, e o alto comissário inglês no Cairo, Mac Mahon: se os árabes entrassem em guerra contra os turcos, Londres prometia o estabelecimento de um reino árabe reagrupando o essencial das regiões árabes do antigo império; embora permanecessem as incertezas sobre o destino da Cilícia e das regiões fronteiriças da Síria, o xarife Hussein levantou em 1916 o estandarte da revolta árabe e seu filho, Faiçal, comandou o Exército árabe.
Os longos e desgastantes debates resultaram nos acordos de Sykes-Picot (maio de 1916), que definiam em linhas gerais a partilha da região entre os franceses e os britânicos: a França ficaria com a costa síria e o Monte Líbano (zona azul), além do interior da Síria e a região de Mossul (zona A) como protetorados; a Grã-Bretanha disporia da Mesopotâmia (zona vermelha) e, como protetorado, a zona que se estendia do Egito ao Golfo Pérsico (zona B); e as zonas A e B representariam o eventual reino árabe.
Ao redor de Jerusalém e de lugares santos, seria previsto um estatuto internacional (zona marrom), a ser negociado. Enfim, em 17 de novembro de 1917, a declaração de Balfur prometia a criação de um “lar nacional judeu” na Palestina.
França e Grã-Bretanha em disputa
A vitória dos aliados significava, naturalmente, o desmantelamento do Império Otomano: com a Alemanha eliminada pela derrota, a Rússia pela revolução e pela derrota, a Itália considerada uma aliada insignificante e com a recusa dos Estados Unidos de se engajar na batalha territorial da região, o cenário se restringiu à disputa franco-britânica, na qual as relações de força e o cheiro do petróleo seriam determinantes.
Os acordos Sykes-Picot serviram de base para a partilha, com algumas modificações: Paris aceitaria, por exemplo, abandonar Mossul e deixá-la para os ingleses em troca da parte alemã na Turkish Petroleum Co.; a zona internacional seria abandonada.
Para apaziguar o presidente norte-americano Thomas Woodrow Wilson, seria inventado o quadro jurídico do mandato, obra-prima e artimanha que mascarava os objetivos coloniais e imperialistas com um discurso civilizador.
O compromisso franco-britânico de setembro de 1919 selou a morte da ideia de um Estado árabe unificado, e os acordos de San Remo (abril de 1920) consolidariam essa posição: à França, a Síria; e à Grã-Bretanha, a Palestina e a Mesopotâmia.
Em setembro de 1920, a França delimitou e criou o grande Líbano com base na reivindicação de seus clientes maronitas e em detrimento dos sírios, que protestaram; não bastasse, a Síria, cujo efêmero rei Faiçal estava reduzido ao exílio, foi dividida e ainda ganhou um estatuto especial para o sandjak (província) de Alexandreta, que seria restituído à Turquia em 1939.
No Iraque, a Grã-Bretanha, que teve de enfrentar uma poderosa revolta em 1920, decidiu estabelecer um interlocutor com o coroamento de Faiçal em agosto de 1921. Reivindicada pela Turquia kemalista, povoada majoritariamente de curdos, embebida de petróleo, a antiga cidade de Mossul foi finalmente atribuída ao Iraque pela Sociedade das Nações (SDN), em 1925.
Na Palestina, quando a declaração de Balfur foi integrada à carta do mandato – apesar dos fortes protestos árabes –, a Grã-Bretanha confrontou-se com graves contradições que a interpretação sutil da declaração não conseguiria mais atenuar.
Por que a Grã-Bretanha havia inventado a Transjordânia ?
A resposta forneceu um dos elementos fundamentais da partilha durável da região.
Em primeiro lugar, Londres precisava de um espaço onde sua autoridade fosse inconteste para poder assegurar a continuidade da estratégia imperial do Mediterrâneo ao Iraque (escoamento do petróleo de Mossul) e do Egito ao Golfo e à Índia.
A Grã-Bretanha queria circunscrever a região onde seria aplicada a declaração de Balfur e limitar as ambições de Ibn Saud, cujas tropas haviam triunfado na ocupação da Arábia Interior e não parariam até a fronteira síria. Enfim, a criação do emirado da Transjordânia em março de 1921 e a concessão de uma subvenção anual permitiriam aplacar a fúria de um dos filhos de Hussein, o turbulento Abdallah (a quem seria atribuído o emirado), cujo exército seguia atacando as tropas francesas na Síria.
A Grã-Bretanha desempenhou um papel determinante na delimitação das fronteiras: o limite entre a Transjordânia e a Palestina foi fixado no Rio Jordão e no meio do Mar Morto; a fronteira do Sul seria estabelecida a partir de um acordo com Ibn Saud, que concederia Ácaba à Transjordânia (1925).
A leste, as negociações foram realizadas em função da presença do petróleo: em 1922, foram definidas as fronteiras da Arábia de Ibn Saud com o Iraque (a favor deste) e com o Kuwait (em detrimento deste); ademais, para facilitar oficialmente os deslocamentos dos beduínos, o acordo criou, a oeste e ao sul do Kuwait, duas zonas neutras sobre as quais os países fronteiriços tinham direitos iguais.
Em 1923, a fronteira entre o Kuwait e o Iraque, dois territórios dependentes da Grã-Bretanha, foi definida sem problemas: a delimitação adotada era visivelmente destinada a impedir que o Iraque acedesse a uma faixa marítima útil no Golfo, mar britânico.
Esse era o cenário no qual, do Atlântico ao Golfo, se realizaria a colonização.
No fim dos anos 1920, apenas dois países árabes se tornaram independentes no sentido de não ter nenhuma tropa estrangeira em seus territórios: o Iêmen, praticamente depois de 1913, e a Arábia de Ibn Saud, que também destituiria Hussein e subiria ao poder em 1927.
O início da descolonização árabe, ainda parcial, foi marcado pelo tratado anglo-iraquiano de 1930.
Esse breve voo panorâmico sugere que o argumento histórico a favor de uma revisão das fronteiras coloniais é frágil na medida em que é perfeitamente reversível. De fato, o argumento histórico quase sempre omite um ou muitos outros, bem reais nesse caso.
Jacques Thobie
Professor de História das Relações Econômicas Internacionais da Universidade de Paris VIII.
Fonte: Le Monde Diplomatique
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