América Latina é desacelerada por suas maiores economias: Brasil e México
Paulo Paranaguá
27.05.2014
A Cepal (Comissão Econômica para a América Latina), um órgão das Nações Unidas que se tornou uma referência para a região, prevê um crescimento de 2,7% para essa zona em 2014.
Paulo Paranaguá
27.05.2014
A Cepal (Comissão Econômica para a América Latina), um órgão das Nações Unidas que se tornou uma referência para a região, prevê um crescimento de 2,7% para essa zona em 2014.
Certos países, como o Panamá, a Bolívia, o Peru e o Equador, verão seus PIBs (Produto Interno Bruto) progredirem acima de 5%, mas a média regional é puxada para baixo pelo fraco desempenho das duas principais economias: Brasil (2,3%) e México (3%). Alicia Barcena, secretária-executiva da Cepal, de passagem por Paris, admite que se trata de um "crescimento medíocre" para uma região emergente.
"As economias latino-americanos continuam vulneráveis, pois o crescimento não provém de fatores internos, mas depende das exportações de matéria-prima e de seus preços, da demanda da China, dos Estados Unidos e da Europa ou do fluxo de investimentos estrangeiros", explica Barcena.
Ela estima que a diversificação da produção continua insuficiente por falta de investimentos consistentes em pesquisa e desenvolvimento. "No lugar da inovação e da tecnologia, nossa competitividade é baseada em baixos salários e na precariedade. Nós vendemos um número reduzido de produtos para poucos compradores.
Enquanto as trocas dentro da União Europeia representam 66% de seu comércio, as trocas entre países da América Latina não passam de 19%", lamenta a representante do think tank (fundação para assuntos estratégicos).
Pode-se dizer que a integração regional permanece incerta, apesar do acúmulo de associações de dimensões variáveis. A Cepal fez da integração aberta uma de suas principais bandeiras.
Diante das manobras visando mega tratados de livre-comércio transpacífico e transatlântico, Barcena rejeita o recuo defensivo e a volta ao protecionismo. Para ela, é melhor negociar em conjunto para superar as assimetrias, como fez a América Central com a UE e como o Mercosul está se preparando para fazer com a UE.
Redução da pobreza
"O comércio dentro da América Central chega a 30%, bem acima da média", ressalta a diretora da Cepal. "O mercado regional favorece a diversificação das manufaturas e a criação de cadeias de valor. Não faltam oportunidades. A América Latina precisa se inserir melhor na economia global, formando um mercado potente e atraente."
Apesar dos progressos conquistados para reduzir a pobreza, a América Latina continua muito desigual. Isso resulta em um fraco dinamismo dos mercados internos por não maximizar o potencial de consumidores.
A má qualidade da educação é também um freio ao crescimento. "Nós sofremos de uma adaptação insuficiente das instituições de ensino às necessidades profissionais", explica Barcena. Esta também considera necessários mais investimentos no ensino superior.
"É preciso recuperar o papel social da educação, desvirtuado por instituições privadas de fins lucrativos. Foi o que provocou a revolta dos jovens chilenos anos atrás. É preciso exigir mais qualidade e diálogo entre as universidades e o mercado de trabalho."
A criação de um polo de excelência ligado à indústria aeronáutica em Querétaro, no México, bem como o investimento dos dividendos do petróleo do pré-sal brasileiro na educação (75%) e na saúde (25%) vão no sentido recomendado pela Cepal.
Barcena cita o economista Thomas Piketty para propor uma reorientação da política fiscal, às vezes muito elevada no Brasil, em prol de uma tributação progressiva e redistributiva.
"A redução da pobreza foi conseguida por programas sociais de redistribuição e pelo aumento do salário mínimo", ela observa. "Mas as receitas fiscais dependem essencialmente dos impostos indiretos, da taxa sobre consumo. Assim, as desigualdades se mantêm em vez de diminuir de maneira substancial."
A política social é necessária, mas insuficiente para alcançar um desenvolvimento sustentável. "É preciso uma política industrial e reformas estruturais", insiste Barcena. "E uma América Latina mais bem integrada diante dos desafios da globalização."
fonte: Le Monde/Folha
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