As relações bilaterais Brasil-Alemanha
As relações diplomáticas entre Brasil e Alemanha começaram no século XIX, com os ministros residentes Julius Alexander de Saint Pierre (1871) e Graf Eberhard zu Solms-Sonnewalde (1872-1873). Nos anos seguintes o Brasil recebeu 16 enviados alemães e embaixadores.
Após a 2ª Guerra Mundial,
as relações diplomáticas entre os dois países foram restabelecidas em julho de
1951, com a construção da sede da Embaixada da Alemanha em Petrópolis, no Rio
de Janeiro.
Este ano (2011)
comemora-se os 140 anos das relações diplomáticas bilaterais, que são ainda
muito ativas tanto nos acordos quanto nas numerosas delegações que recentemente
estiveram em ambos países.
Em 2008 o então presidente
Lula e a chanceler alemã Angela Merkel assinaram o Plano de Ação da Parceria
Estratégica Brasil-Alemanha onde ratificaram sua determinação de aprofundar a
Parceria Estratégica, por meio da intensificação das relações bilaterais em
todos os níveis nas área de Governança Global, Mudança do Clima e Diversidade
Biológica, Desarmamento e Não-Proliferação, Defesa, Ciência, Tecnologia e Inovação,
Desenvolvimento Sustentável e Energia e Cooperação Econômica e Empresarial.
Estas relações estão
intercaladas na parceria estratégica entre a União Européia e o Brasil.
Em maio de 2011, durante
sua primeira visita ao Brasil, o então Presidente alemão Christian Wulff foi
recebido pela Presidenta Dilma Roussef no Salão Nobre do Palácio do Planalto.
Durante o encontro, ambos os presidentes expressaram plena concordância sobre a
intensificação da cooperação e do diálogo político em alto nível principalmente
nas áreas de inovação, cooperação científica, tecnológica e cultura. Dilma e
Wulff também anunciaram oficialmente a realização da Temporada da Alemanha no
Brasil, em 2013/2014.
Além de Wulff, outros
representantes políticos estiveram no Brasil neste primeiro ano de mandato da
Presidenta Dilma, entre eles o Ministro Federal dos Transportes, Construção e
Assuntos Urbanos, Peter Ramsauer, e a Ministra da Educação e Pesquisa Annette
Schavan.
A cooperação política
bilateral é multiforme. Ela abrange também assuntos como direitos humanos,
proteção ambiental, proteção dos povos indígenas, economia, energia, bem como
assuntos trabalhistas e sociais.
As relações entre a União Européia e o Brasil
A Alemanha é membro
fundador da União Européia formalmente criada com o Tratado de Maastrich, que
entrou em vigor em 1 de novembro de 1993, embora o Tratado de Roma assinado em
25 de março de 1957, já tenha constituído a Comunidade Econômica Européia.
Formado pela parceria econômica
e política entre 27 países europeus e com uma população de 500 milhões de
habitantes ePIB de quase 12,4 trilhões de euros, a UE é um extraordinário ator
econômico e comercial a nível mundial, sendo o principal exportador e o segundo
maior importador do mundo.
O seu comércio com o resto
do mundo corresponde a cerca de 20% do volume mundial das exportações e importações.
a UE é também o maior parceiro comercial do Brasil, com fluxo comerciais da
ordem de 61,9 bilhões de euros, equivalentes a 21,3% da corrente de comércio
brasileiro em 2010, e o maior investidor estrangeiro no País, com investimentos
acumulados na ordem de 131,9 bilhões de euros, correspondentes a 49,2% dos
investimentos estrangeiros registrados no país em 2010.
O Brasil se tornou
parceiro estratégico da UE em 2007 e desde então as relações bilaterais se
intensificaram. Do ponto de vista europeu, o Brasil é o seu principal parceiro
econômico na América Latina, ocupando a décima posição entre os parceiros de
negócios do bloco europeu e o nono entre os maiores mercados de vendas.
Além disso, as empresas
européias desempenharam um papel fundamental para a industrialização do Brasil
e são, ainda hoje, responsáveis pelos maiores investimentos no país,
respondendo por mais da metade dos investimentos diretos europeus.
Plano de Ação da Parceria Estratégica
Brasil-Alemanha
(Brasília, 14 de maio de
2008)
1. O Brasil e a Alemanha
ratificam sua determinação de aprofundar a Parceria Estratégica, por meio da
intensificação das relações bilaterais em todos os níveis e em suas variadas
vertentes. Os dois países aprofundarão o diálogo político regular, que
abrangerá também temas de mútuo interesse da agenda internacional.
2. Os dois países
continuarão a cooperar a fim de fortalecer o papel insubstituível da
Organização das Nações Unidas. Defendem a reforma das Nações Unidas, incluindo
a do Conselho de Segurança.
Com esse objetivo
concordam em:
a) dar continuidade à
estreita cooperação em nível bilateral e no âmbito do G4, a fim de concretizar
a expansão do Conselho de Segurança em ambas as categorias de membros
permanente e não permanente, incluindo países em desenvolvimento em ambas;
b) reafirmar com ênfase o
mútuo apoio a seus respectivos pleitos a um assento permanente em um Conselho
de Segurança ampliado;
c) manter a cooperação
entre o G-8 e o G-5, realçando a relevância do processo de Heiligendamm, no
intuito de dialogar em busca de soluções para as questões centrais da economia
mundial;
d) reforçar a dimensão
social da globalização nos foros internacionais apropriados como, por exemplo,
na Organização Internacional do Trabalho (OIT);
e) promover as iniciativas
internacionais em prol de maior coerência das metas de desenvolvimento
econômico e social.
3. O Brasil e a Alemanha
partilham a convicção de que, em matéria de política de segurança, inclusive de
desarmamento e não-proliferação, uma abordagem multilateral constitui a melhor
forma para assegurar a paz e a ordem internacional.
Com esse objetivo concordam
em:
a) apelar a todos os
Estados para que apóiem os processos de desarmamento e não-proliferação;
b) cooperar para o sucesso
de uma revisão equilibrada do Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares
(TNP) e convidam a comunidade internacional a participar de modo construtivo
nesse processo.
Direitos Humanos
4. Os dois países compartilham
o princípio de que democracia, desenvolvimento e respeito aos direitos humanos
e às liberdades fundamentais são interdependentes e se reforçam mutuamente.
Com esse objetivo
concordam em:
a) intensificar seu
diálogo e apoiar mutuamente suas atividades em foros internacionais, como o
Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas;
b) dar especial atenção às
questões trabalhistas, ao direito ao desenvolvimento e à proteção e à promoção
do Direito Humano à Alimentação Adequada.
Prevenção e combate ao crime e ao terrorismo internacional
5. Ambos os países decidem
fortalecer a cooperação no combate e prevenção ao crime transnacional e ao
terrorismo nas áreas judicial e policial.
Com esse objetivo concordam em:
a) concluir prontamente as
negociações do Tratado de Cooperação em Matéria Jurídica e Penal, bem como do Acordo
de Extradição e do Tratado de Transferência de Pessoas Condenadas.
OMC
6. Os dois países
reafirmam seu total comprometimento com as negociações da Rodada de Doha, em
consonância com o compromisso da Rodada de promover o desenvolvimento, e com
sua conclusão bem-sucedida, ambiciosa e equilibrada.
Com esse objetivo
concordam em:
a) promover sua pronta
conclusão.
Sistema Financeiro Internacional e o G-20
7. Ambos os países
compartilham a convicção de que o sistema financeiro internacional deve
contribuir para a manutenção de um ambiente que estimule o crescimento
econômico, a criação de empregos, a diminuição da pobreza e o cumprimento das
Metas de Desenvolvimento do Milênio.
Com esse objetivo concordam em:
a) contribuir para o
aumento da transparência e da estabilidade do setor financeiro internacional
nos foros e instituições apropriados como o G-20 financeiro e o FMI, entre
outros;
b) manter diálogo contínuo
bilateral sobre a situação nos mercados financeiros.
Relações entre UE e América Latina e Caribe
8. O Brasil e a Alemanha
atribuem elevada prioridade aos encontros regulares entre os Chefes de Estado e
de Governo da UE e da América Latina e Caribe. Ambos os países reconhecem
também o significado estratégico das relações entre o Brasil e a UE.
Com esse
objetivo concordam em:
a) contribuir para que os
resultados da Cúpula de Lima sirvam para estreitar as relações entre a América
Latina e Caribe e a UE;
b) apoiar ativamente e
imprimir novo impulso ao processo de negociação do acordo de associação
inter-regional UE-Mercosul;
c) contribuir para a
pronta conclusão do Plano de Ação da Parceria Estratégica Brasil-UE, assim como
sua bem-sucedida implementação.
Comércio Bilateral Brasil-Alemanha
9. O Brasil e a Alemanha
constatam o expressivo aumento das trocas comerciais bilaterais e dos
investimentos e destacam a importância dos trabalhos do Encontro Econômico
Brasil-Alemanha e da Comissão Mista de Cooperação Econômica.
Com esse objetivo
concordam em:
a) implementar as
recomendações constantes das atas emanadas das Comissões Mistas;
b) estimular o aumento dos
fluxos de cooperação, comércio e investimentos, com atenção especial às
oportunidades oferecidas pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC);
c) apoiar a maior
participação das pequenas e médias empresas no intercâmbio econômico;
d) implementar os
entendimentos firmados no setor de transporte aéreo, em novembro de 2007, com
vistas à celebração de novo acordo bilateral sobre a matéria;
e) com base no Memorando
de Entendimento existente entre os respectivos Ministérios de Trabalho,
explorar as possibilidades de celebração de um Acordo sobre Seguridade Social;
f) apoiar iniciativas
empresariais para maior responsabilidade social;
g) estimular entendimentos
com vistas a retomar o diálogo sobre possibilidades de negociação de novo
acordo para evitar a bitributação.
Cooperação Energética
Brasil-Alemanha
10. Os dois países
manifestam satisfação quanto à conclusão das negociações do abrangente Acordo
bilateral na área de energia (“Acordo Bilateral sobre Cooperação em Matéria de
Energia com foco em Energia Renovável e Eficiência Energética”). Ambos os
países têm o objetivo comum de garantir um abastecimento energético seguro,
econômico e sustentável.
Com esse objetivo concordam em:
a) promover a eficiência
energética e o uso crescente das energias renováveis;
b) promover a produção e o
uso sustentável de biocombustíveis no plano internacional, nos três pilares de
sustentabilidade: ambiental, econômico e social e dessa forma contribuir para o
desenvolvimento de um mercado internacional de biocombustíveis;
c) estimular o desenvolvimento
de projetos comuns no âmbito do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo do Protocolo
de Quioto.
Meio Ambiente
11. Ambos os países
concordam que as ações para enfrentar a mudança do clima devem estar fundadas
na Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima e em seu Protocolo
de Quioto. Realçam a necessidade de uma cooperação ambiciosa e inovadora em
âmbito global com base no princípio das responsabilidades comuns, porém
diferenciadas dos Estados e de suas capacidades, levando em consideração também
a responsabilidade histórica. Com esse objetivo concordam em:
a) estreitar o diálogo e a
cooperação sobre o regime internacional referente à mudança do clima no
pós-2012;
b) estimular a criação de
incentivos positivos para a redução das emissões derivadas do desmatamento;
c) privilegiar tecnologias
limpas, bem como ações ligadas à adaptação aos efeitos da mudança do clima.
12. Os dois países estão
determinados a incrementar sua cooperação para o desenvolvimento sustentável e
a proteção do meio ambiente. Com esse objetivo concordam em:
a) promover o
desenvolvimento sustentável com a plena incorporação dos Instrumentos
Internacionais adotados por ambos os países;
b) cooperar para a
conclusão exitosa da 9ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica
(COP) de Bonn e, em particular, estabelecer, antes da 10a COP, instrumento
internacional sobre acesso e repartição dos benefícios auferidos do uso da
biodiversidade, que também proteja o conhecimento tradicional associado;
c) continuar a estabelecer
e a manter sistemas de áreas protegidas, amplas e representativas;
d) focar a cooperação em
áreas prioritárias da proteção e do manejo de recursos naturais, das energias
renováveis e eficiência energética;
e) cooperar em benefício
de terceiros países;
f) cooperar na
implementação do Programa brasileiro “Plano Amazônia Sustentável”;
g) elaborar avaliação das
iniciativas no âmbito dos Mecanismos Financeiros Inovadores para o combate à
fome e à pobreza e para a consecução das demais Metas de Desenvolvimento do
Milênio;
h) dar prosseguimento à
cooperação entre o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) e seu
equivalente alemão, o DPMA (“Deutches Patent und Markenamt”).
Patrimônio Cultural
13. Ambos os países
reiteram o interesse de preservar e ampliar seu patrimônio cultural comum, em
cujo contexto destacam a importância dos laços humanos entre os dois países
decorrentes também da imigração alemã para o Brasil. Com esse objetivo
concordam em:
a) trabalhar para ampliar
o intercâmbio cultural bilateral com base no fortalecimento da presença
cultural nos respectivos países por meio da promoção do ensino da língua alemã
no Brasil e do idioma português na Alemanha, bem como do apoio à criação de leitorados
e de cursos de brasilianística/germanística em cada país;
b) estimular a divulgação
cultural recíproca, em diferentes áreas, por meio da participação da iniciativa
privada;
c) estudar formas de
evitar desvantagens fiscais para os agentes culturais das duas Partes;
d) intensificar o
intercâmbio de estudantes e pós-graduados, assim como nas competências-chave e
na formação profissional.
Ciência e Tecnologia
14. Ambos os países
realçam a importância da Comissão Mista para cooperação na pesquisa científica
e no desenvolvimento tecnológico, sobretudo nas seguintes áreas:
aeronáutica, espaço, meio
ambiente, clima, energia, agricultura, saúde, capacitação tecnológica,
tecnologias da informação e de comunicação e nanotecnologia, assim como
transferência de tecnologia. Com esse objetivo concordam em:
a) colocar em prática as
recomendações da Comissão Mista;
b) dar continuidade à
cooperação em curso no setor de aeronáutica;
c) incentivar a inovação
tecnológica em cadeias produtivas;
d) aplicar o progresso
científico em prol do desenvolvimento sustentável e dar continuidade a projetos
comuns destinados à preservação do meio ambiente como, por exemplo, o Programa
Mata Atlântica, e implementar novos projetos nas zonas semi-áridas, e o
Programa Brasileiro de Plantas Medicinais e Fitoterápicas;
e) reforçar a cooperação
nos usos pacíficos do espaço exterior em benefício da agricultura, prevenção de
desastres naturais, proteção ambiental e gerenciamento de recursos naturais.
Sociedade Civil
15. Ambos os países saúdam
o diálogo entre as Sociedades Civis da Alemanha e do Brasil. Concordam em:
convidar as fundações políticas, associações binacionais e outras entidades
civis para ativar esse diálogo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário