quarta-feira, 11 de junho de 2014

União Econômica Eurasiática


União Econômica Eurasiática reflete projeto de poder de Putin

Deutsche Welle
29.05.2014

Inspirado na antiga União Soviética e na União Europeia, bloco formado por Rússia, Cazaquistão e Belarus quer abrir mercado a países menores e ampliar influência de Moscou na região.

Alguns estão se sentindo de volta nos tempos da União Soviética. Outros, na União Europeia.

De certa maneira os dois blocos econômicos serviram de inspiração para a União Econômica Eurasiática (UEE), cujo acordo de criação foi selado nesta quinta-feira (29/05) entre os presidentes da Rússia, do Cazaquistão e de Belarus na capital cazaque, Astana.
O novo bloco deve começar a funcionar em 1º de janeiro de 2015.

Segundo um comunicado divulgado pelo Kremlin, "os três Estados comprometem-se a garantir a livre circulação dos produtos, serviços, capitais e trabalhadores, a aplicar uma política concertada nos domínios chave da economia: na energia, indústria, agricultura, transportes".

O presidente russo, Vladimir Putin, declarou que os três países vão criar "em conjunto um centro poderoso e atrativo de desenvolvimento econômico, um mercado regional importante que unirá 170 milhões de pessoas", assinalando que os signatários dispõem de "enormes recursos naturais", que representam um quinto dos recursos mundiais de gás e quase 15% dos de petróleo.

A crise da Ucrânia influenciou na data marcada para fechar o acordo. Nos últimos anos, o presidente russo, Vladimir Putin, vinha tentando de todas as formas aproximar a Ucrânia do Kremlin– afastando-a, assim, da União Europeia (UE).

No fim do ano passado, sob pressão de Moscou, o então presidente ucraniano Victor Yanukovitch rejeitou um já acertado acordo de associação com o bloco europeu.

A recusa de Yanukovitch foi o estopim para uma grande onda de protestos, que culminou com sua queda da presidência e com a posse interina de pró-europeus–fator determinante para que a Ucrânia ficasse de fora da UEE.

MODELO SOVIÉTICO ?

Assim, apenas três países mantiveram a posição assumida em 2010 e deram sinal verde para expandir a então simples união aduaneira para uma cooperação econômica e política, como prevê a UEE.

Para Andrei Suslazev, da Escola Superior de Economia (HSE) de Moscou, a formação do bloco tem um objetivo estratégico bem definido sob o ponto de vista russo.

"A Rússia não pode ser uma potência sem um bloco próprio de integração desenvolvido rapidamente", acredita. Vladimir Scharichin, vice-diretor do Instituto GUS, aliado do Kremlin, não acredita que a união eurásia almeje uma nova versão do império soviético.

Para ele, a criação do novo bloco é, sim, fruto do esforço do Cazaquistão e de Belarus –que procuram um espaço no mercado– na busca por uma zona econômica comum grande e eficiente.

RAZÕES ECONÔMICAS

"Um dos motivos para a criação da União Econômica Eurasiática é que a construção de uma aliança econômica entre a União Europeia e a Rússia está estagnada", avalia Scharichin em entrevista à Deutsche Welle.

"Essa aliança não saiu do papel por muitos motivos, entre eles, sem dúvida, o fato de que os Estados Unidos observavam essa ideia com ciúmes", acredita o especialista.

Sendo assim, a Rússia decidiu correr atrás de seu próprio projeto de integração, especialmente diante da constatação de que a globalização tem levado a "grandes aglomerados econômicos", afirma Scharichin. A Otan, o Mercosul e a própria UE são exemplos disso.

O diretor executivo do Instituto Gaida para assuntos Políticos e Econômicos, Serguei Prihodko, também acredita que o principal motivo para criação do novo bloco na Eurásia seja econômico, mas ele avalia sob outra perspectiva.

Para muitas empresas russas, cazaques e bielorrussas, a manutenção das mesmas relações existentes dos tempos da União Soviética ainda é a única possibilidade de empreender uma cooperação internacional.

"De forma clara, é isso: fora os consumidores mais tradicionais, ninguém mais quer a maioria de nossos produtos. Por isso essa cooperação oferece, no momento, benefício mútuo", avalia Prihodko.

Mas o especialista não acredita que a UEE venha a se tornar um bloco estável e eficiente. E isso não tem nada a ver com a Ucrânia, diz.

Diversos observadores avaliam que, apesar de ser lamentável o fato de o país não mais compor o grupo da Eurásia, sua ausência é perfeitamente tolerável.

O mais preocupante agora é o fato de os atuais integrantes da UEE, assim como os potenciais futuros integrantes da União Eurasiática –como Armênia e Quirguistão– estarem em estágios tão diferentes de desenvolvimento tanto do ponto de vista econômico, quanto político.

Andrei Susdalsev concorda e aponta para o Cazaquistão e Belarus.

Ele ressalta que é difícil imaginar uma profunda integração em países sob regimes autoritários, uma vez que os passos necessários para compor um bloco comum envolvem algumas renúncias, o que vai contra os anseios de poder dos líderes dos respectivos países.

À Rússia, porém, não resta outra saída para alcançar seus objetivos: é preciso insistir nas parcerias.

COOPERAÇÃO COM A UE

Susdalzev está convencido de que uma maior aproximação com a Rússia é de todo interesse dos povos vizinhos.

"Sem essa integração, Belarus não conseguiria sobreviver uma única semana", afirma o docente.

A opinião também é partilhada por Scharichin. Os dois especialistas de Moscou ressaltam que tanto a união aduaneira já existente quanto a UEE foram designadas de modo a possibilitar uma cooperação e uma compatibilidade com a UE.

A ideia é não se distanciar totalmente do bloco europeu. O Comitê alemão para Relações Econômicas com o Leste Europeu também vê essa possibilidade, porém, de maneira diferente.

"Há várias barreiras, por exemplo, quando se avaliam compatibilidades junto à Organização Mundial do Comércio", comenta Rainer Lindner, diretor executivo do comitê, em entrevista à Deutsche Welle.

Mas os dois não deveriam ser vistos como blocos irreconciliáveis, opina Linder, ressaltando ser necessário buscar uma maneira de garantir negociações políticas e econômicas entre ambos.

"Esta será uma missão para os próximos anos", afirma.

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