sábado, 7 de junho de 2014

Pirâmide etária e Bônus demográfico nos BRICs




A transformação da estrutura etária é um processo que ocorre concomitantemente ao fenômeno de transição demográfica. 

Na medida em que a esperança de vida sobe a as taxas de fecundidade caem a pirâmide etária reduz sua base, aumenta a parte do meio e, progressivamente, eleva o percentual do topo da estrutura etária. 

Essa transformação é conhecida como processo de envelhecimento populacional e acompanha inexoravelmente os avanços na transição demográfica. 

Duas medidas simples podem ilustrar o processo de envelhecimento populacional. A idade mediana é aquela que divide a população em duas metades iguais em termos etários. O índice de envelhecimento representa a quantidade de idosos (65 anos e mais) para cada cem crianças e adolescentes com idades entre 0 e 14 anos.

O gráfico 1 mostra a idade mediana dos quatro países que compõem os BRICs, em um período de cem anos. 

Em 1950, metade da população do Brasil, Rússia, Índia e China tinha menos de 19,2 anos, 25 anos, 21,3 anos e 23,9 anos, respectivamente. No ano 2000 as idades medianas já haviam passado para 25,3 anos, 36,5 anos, 22,7 anos e 30 anos. As projeções para 2050 indicam que o Brasil terá o dobro da idade mediana de 100 anos antes, isto é, metade da população brasileira terá menos de 40,4 anos, enquanto a outra metade terá mais de 40,4 anos. 

A Índia terá a menor idade mediana, mas 38,6 anos será um valor quase o dobro do que tinha em 1950, demonstrando que mesmo com uma fecundidade mais alta a Índia não ficará imune ao processo de envelhecimento. Rússia e China apresentarão envelhecimento mais avançado e atingirão uma idade mediana de cerca de 45 anos.

 Gráfico 1: Idade mediana (em anos) de Brasil, Rússia, Índia e China: 1950 - 2050

Fonte: Population Division of United Nations. World Population Prospects: The 2006 Revision, 
 Disponível em:  http://esa,un,org/unpp, Visitado em: June 14, 2008.







O gráfico 2 mostra o índice de envelhecimento dos BRICs no período em questão.

Em 1950 existiam 7,2 idosos para cada 100 crianças e adolescentes entre 0 e 14 anos no Brasil, enquanto estes números eram de 21,4 idosos na Rússia, 8,4 na Índia e 13,4 na China.

As projeções indicam que a quantidade de idosos de 65 anos e mais ultrapassará o número de crianças adolescentes (0-14 anos) na Rússia após 2020 e após 2030 na China. 

O mesmo ocorrerá no Brasil por volta de 2050. A Índia será o único país dos BRICs que manterá uma percentagem de crianças e adolescentes maior do que a de idosos na metade do século XXI.

Gráfico 2: Índice de envelhecimento (IE) de Brasil, Rússia, Índia e China: 1950 a 2050

fonte: Population Division of United Nations. World Population Prospects: The 2006 Revision, 
disponível em: http://esa,un,org/unpp, Visitado em: June 14, 2008. 








O gráfico 3 mostra as pirâmides etárias de 2000 e 2050 para os quatro países que compõe os BRICs, segundo os dados do Census Bureau dos EUA.   

A pirâmide etária do Brasil que em 1950 tinha uma base muito larga já apresentava uma retração nos três primeiros grupos quinquenais no ano 2000, indicando que a coorte que nasceu entre 1980 e 1985 no Brasil é a maior da história demográfico brasileira. 

Já em 2050, a pirâmide etária brasileira terá uma estrutura envelhecida e com todos os grupos etários abaixo de 50 anos menores do que o grupo imediatamente anterior.

A pirâmide etária da Rússia reflete as ondas demográficas que aconteceram na Rússia desde a Primeira Guerra Mundial, prosseguiram na Segunda Guerra e continuou com as alterações nas taxas de fecundidade, conforme fica claro na pirâmide 2000. 

Já pirâmide de 2050 fica claro a diminuição da população russa, pois todos os grupos etários abaixo dos 60 anos são muito menores do que as coortes nascidas antes de 1991. 

A pirâmide etária da Índia do ano 2000 ainda mostrava aquela forma piramidal típica das estruturas etárias jovens e de fecundidade alta. 

Com a queda da fecundidade na Índia deve ocorrer de forma lenta e não muito acentuada, a pirâmide etária de 2050 mostra grupos quinquenais, antes dos 50 anos, mais ou menos uniformes, mostrando que o meio da pirâmide estrá mais cheio e o topo ainda não terá o peso de uma estrutura muito envelhecida.      

Gráfico 3: Pirâmides etárias do Brasil, Rússia, Índia e China: 2000 e 2050

                    pirâmide etária Brasil 2000                                                              pirâmide etária Brasil 2050 


                      pirâmide etária Rússia 2000                                                           pirâmide etária Rússia 2050


                      pirâmide etária Índia 2000                                                              pirâmide etária Índia 2050


                      pirâmide etária China 2000                                                                pirâmide etária China 2050

A pirâmide etária da China, em 2000, mostra um grande grupo etário entre 30-34 anos que foi aquele que nasceu durante a Revolução Cultural da década de 1960.

Depois aparece um outro grande grupo com idade entre 10 e 14 anos que reflete a alta natalidade que ocorreu devido ao alto número de mulheres em período reprodutivo. Ou seja, mesmo com a queda da fecundidade houve aumento da natalidade devido ao grande número de mulheres em período reprodutivo, mostrando que os efeitos da alta fecundidade ocorrida durante a Revolução Cultural se propaga em ondas por longo tempo.

Na pirâmide etária chinesa de 2050 o maior grupo etário é exatamente o de 60-64 anos, isto é, aquele que tinha 10-14 anos em 2000. Abaixo deste grupo todos os outros são menores indicando a queda da fecundidade abaixo do nível de reposição, a redução da população a partir de 2025 e o processo de envelhecimento da China.

A análise dos dados anteriores mostram que os quatro países estão passando pelo processo de envelhecimento, mas antes de chegar a percentuais elevados de idosos na população, existe uma etapa intermediária em que a parte central da pirâmide cresce mais rápido do que as demais. 

Este período é conhecido como Janela de Oportunidade, Dividendo ou Bônus demográfico.

O Bônus Demográfico é um fenômeno que ocorre em um período de tempo no qual a estrutura etária da população apresenta menores razões de dependência (menos idosos, crianças e adolescentes) e maiores percentuais de população em idade produtiva, possibilitando que as condições demográficas atuem no sentido de incrementar o crescimento econômico e a melhoria das condições sociais dos cidadãos do país.

O bônus demográfico ocorre quando caem as razões de dependência (que é calculada pela divisão da população com idades entre 15-64 anos, pelo denominador formado pela soma da população dos grupos 0-14 anos e 65 anos e mais, o resultado multiplicado por 100).

Uma forma de medir esse fenômeno é considerar o bônus demográfico o período em que as razões de dependência estão abaixo dos percentuais da População em Idade Ativa (PIA).

O gráfico 4 mostra o bônus demográfico para o Brasil. 

Nota-se que o bônus começa em 1995 e deve acabar em 2055, quando a razão de dependência voltar a ultrapassar o percentual da PIA. 

 Gráfico 4: PIA e Razão de dependência total, crianças e idosos, Brasil: 1950 - 2050 

Fonte: Population Division of United Nations. World Population Prospects: The 2006 Revision, 
Disponível em: http://esa,un,org/unpp, Visitado em: June 14, 2008.








O gráfico 5 mostra que a despeito de toda a propalada crise demográfica russa, a janela de oportunidade no país é a mais longa entre os 4 BRICs. 

Nota-se que no ano 2010 o bônus demográfico da Rússia deve atingir o seu ponto máximo (a diferença entre a razão de dependência e a PIA atinge 34,5%). 

O fim do bônus na Rússia deve ocorrer somente em 1950, quando a razão de dependência for maior do que o percentual da PIA. 

 Gráfico 5: PIA e Razão de dependência total, crianças e idosos, Rússia: 1950 - 2050


Fonte: Population Division of United Nations. World Population Prospects: The 2006 Revision,  
Disponível em: http://esa,un,org/unpp, Visitado em: June 14, 2008. 







O gráfico 6 mostra que o bônus demográfico na Índia começou muito recentemente, em 2005, e deve se prolongar para além de 2050. Isto ocorre devido ao processo mais lento de queda da fecundidade. Portanto, a Índia vai continuar apresentando uma estrutura etária favorável quando os demais países dos BRICs estiverem com uma estrutura mais envelhecida.

 Gráfico 6: PIA e Razão de dependência total, crianças e idosos, Brasil: 1950 - 2050

Fonte: Population Division of United Nations. World Population Prospects: The 2006 Revision, Disponível em: http://esa,un,org/unpp, Visitado em: June 14, 2008. 









O gráfico 7 mostra o bônus demográfico na China que deve ser um pouco mais curto do que o brasileiro, mas será o que apresenta a maior janela entre os percentuais das razões de dependência e as da PIA. 

O bônus chinês começou em 1985 e deve acabar em 2035, época em que terá uma população bastante envelhecida. A vantagem da China é que o país tem mantido altas taxas de crescimento do PIB, do emprego e das condições de saúde e educação, ou seja, a política macroeconômica da China tem capitalizado o bônus demográfico de uma forma mais ampla do que os outros BRICs. 

 Gráfico 7: PIA e Razão de dependência total, crianças e idosos, Brasil: 1950 - 2050

Fonte: Population Division of United Nations. World Population Prospects: The 2006 Revision,
Disponível em: http://esa,un,org/unpp, Visitado em: June 14, 2008.








A China é o país que tem aproveitado melhor o momento demográfico favorável, pois tem gerado empregos em ritmo acelerado, mantido altas taxas de participação feminina no mercado de trabalho, avançado rapidamente nos níveis educacionais e de saúde.

Parece que os dirigentes chineses têm bastante consciência que esta abertura da janela de oportunidade não é para sempre e que as condições demográficas vão ficar mais difíceis a partir de 2035.

A Rússia é um país que contam com uma força de trabalho muito qualificada e tem mantido altas taxas de crescimento econômico, contribuindo, inclusive, para melhorar suas condições de saúde e ter ganhos de esperança de vida.

O Brasil tem aproveitado parcialmente o bônus demográfico pois não tem avançado suficientemente rápido com o crescimento econômico e com a inserção e qualificação da mão-de-obra.

A Índia ainda está se preparando para colher os frutos do bônus demográfico que deve ocorrer nas décadas vindouras.

De qualquer forma, os BRICs estão bem posicionados no quesito demográfico para enfrentar os desafios econômicos e sociais da contemporaneidade. 

José Eustáquio Diniz Alves 
Professor titular da ENCE e coordenador da Pós-graduação do IBGE 

fonte: Instituto Economia - UFRJ

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