terça-feira, 10 de junho de 2014

Portugal e a Revolução dos Cravos


A tradicional Monarquia portuguesa foi deposta por um golpe em 1910, sendo instituída a Primeira República Portuguesa. 

Os anos seguintes à queda da Monarquia foram de muita instabilidade. 

Lutas entre o novo governo e a Igreja Católica,  disputas pelo poder e divergências entre os próprios republicanos. Vários parlamentos, vários presidentes, juntas de governo e grupos se alternaram no governo sem que nenhum se consolidasse efetivamente.  

Neste contexto de instabilidade, em 1926 um golpe militar, liderado por Gomes da Costa e Óscar Carmona, põe fim à Primeira República de Portugal instituindo uma ditadura. Em 1928 Carmona consolida o poder e é eleito presidente. 
Em 1933, o então Ministro das Finanças António Salazar coordena a elaboração de uma nova Constituição, com caráter autoritário e inspirações fascistas. Com a nova Constituição é instituído um novo governo, batizado de Estado Novo
No Brasil, em 1937, Getúlio Vargas se inspira no regime autoritário português e copia o nome, chamando também de Estado Novo o regime que lidera até 1945. 
António Salazar, com a promulgação da nova Constituição e o novo governo, ganha poder e assume o posto de Presidente do Conselho de Ministros. 
Durante todo o Estado Novo em Portugal, os presidentes foram regularmente eleitos, porém tinham na prática funções meramente cerimoniais. O Presidente do Conselho de Ministros, Salazar, detinha o poder de fato, dirigindo efetivamente o comando da política e os destinos do país.
Em 1968, após mais de 35 anos no poder, Salazar, doente, é substituído por Marcelo Caetano, que dá continuidade ao regime autoritário em Portugal. 
A Revolução dos Cravos
Durante o Estado Novo em Portugal, o autoritarismo do governo foi acentuado. 
Os partidos e movimentos políticos estavam proibidos, as prisões políticas estavam cheias, os líderes oposicionistas estavam exilados, os sindicatos eram fortemente controlados, as greves eram proibidas, as demissões fáceis e a vida cultural estritamente vigiada.
A sociedade também estava cansada com as guerras coloniais. Rara a família na época que não tivesse alguém combatendo nas guerras das colônias na África. O serviço militar durava quatro anos, opiniões contra o regime e contra a guerra eram severamente reprimidas pela censura e pela polícia.
O contexto unia descontentes em todos os setores da sociedade contra o governo. 
A  chamada Revolução dos Cravos começou com a transmissão, pelo rádio, de uma música até então proibida. Pouco após a meia-noite de 25 de abril de 1974 começou a soar na emissora católica de Lisboa a música "Grândola, Vila Morena". 
Era o sinal combinado para o início do levante militar em Portugal. Em apenas algumas horas, as Forças Armadas ocuparam locais estratégicos em todo o país. 
Ao clarear, multidões já cercavam as emissoras de rádio à espera de notícias. A operação, calculada minuciosamente, havia pego o regime de surpresa. Acuado pelo povo e pelos militares, Marcelo Caetano transmite sua renúncia por telefone ao líder dos golpistas, general António de Spínola.
Os únicos a oferecer resistência foram os agentes da polícia política. Três pessoas morreram no conflito pela tomada de seu quartel-general.
Transportado de tanque ao aeroporto de Lisboa, Caetano embarca para o exílio no Brasil. Em quase 18 horas, havia sido derrubada a mais antiga ditadura fascista no mundo.
Os cravos enfiados pela população nas espingardas dos soldados acabaram virando o símbolo da revolução, que encerrou, ao mesmo tempo, 48 anos de ditadura fascista e 13 anos de guerras nas colônias africanas.
Golpe militar vira festa revolucionária

Artistas, políticos e desertores começaram a retornar do exílio. As colônias recebem a independência.  
Ao voltar do exílio em Paris, Mário Soares, o dissidente mais popular do governo Salazar, foi recebido por milhares de pessoas na estação ferroviária de Lisboa. 
Cravos vermelhos foram jogados de helicóptero sobre a cidade e só se ouvia a famosa canção Grândola, vila morena, que já havia se tornado o hino da revolução.
Em 1º de maio, a esquerda, fortemente engajada, mostrou sua força em Lisboa, enquanto trabalhadores rurais do Alentejo expulsavam latifundiários e banqueiros eram desapropriados.
Com o movimento vitorioso, a caça às bruxas aos responsáveis pela ditadura acabou não acontecendo, e as dívidas do governo anterior foram todas pagas.
Consolidação do novo governo
Em 1974, Portugal era um país atrasado, isolado na comunidade internacional, embora fizesse parte da ONU e da Otan. 
Era o último país europeu a manter colônias e vinha travando uma longa guerra contra a independência de Angola, Moçambique e Guiné. O regime de Salazar, iniciado em 1926, havia conseguido manter-se através da repressão e fora tolerado pelos países vencedores da Segunda Guerra Mundial.
A esquerda europeia viu em Lisboa um palco ideal para os movimentos frustrados de 68. 
A pacata e católica população portuguesa, por seu lado, sentiu-se ignorada e, a partir do norte conservador, iniciou um movimento contra os extremistas.
Em 1975, aconteceu a dupla tentativa de golpe, da esquerda e da direita, contra o governo socialista, levando Portugal à beira da guerra civil. A ala militar extremista de esquerda obteve o domínio da situação em novembro de 1975. Após as eleições do ano seguinte, o general António Ramalho Eanes foi eleito presidente.
Estabilizada a conjuntura política, em 1976 entra em vigor a Constituição Democrática da nova República Portuguesa.  
O Partido Socialista, com Mário Soares, assumiu um governo minoritário. A crise econômica o levou à renúncia em 1978. Entre 1979 e 1980, o país teve cinco primeiros-ministros. 
Em 1985, o governo foi assumido por Aníbal Cavaco Silva e Mário Soares tornou-se presidente no ano seguinte. Em 1986, Portugal ingressou na então Comunidade Econômica Europeia, hoje União Europeia.
O dia 25 de abril foi declarado feriado nacional, denominado "Dia da Liberdade". 

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