sábado, 20 de junho de 2015

[ Discursivas CACD ] Geografia 2013: Políticas Energéticas dos EUA, China e Rússia




























Guia de Estudos IRB - CACD 2014

Prova 2013 GEOGRAFIA 


Questão 2


Estados Unidos da América, China e Rússia possuem visões bastante distintas a respeito de seu próprio futuro energético. Discrimine quais são estas visões, identificando até que ponto cada uma delas se ajusta ou não ao paradigma do "desenvolvimento sustentável".

CAIO GROTTONE TEIXEIRA DA MOTA

"O desenvolvimento sustentável, em âmbito global, dependerá, em grande medida, das estratégias das grandes potências quanto ao seu futuro energético. Nesse cenário, destacam-se recentes desdobramentos nos EUA, na Rússia e na China. 

De maneira geral, os hidrocarbonetos têm mantido importância estratégica crucial para a economia e para a geopolítica dessas nações. O impacto sobre o meio ambiente, contudo, deve ser analisado caso a caso, dada a emergência de novas oportunidades e desafios no século XXI.

Nos EUA, uma nova fronteira energética foi aberta, nos últimos anos, com a tecnologia do fraturamento de rochas de xisto, impregnadas de hidrocarbonetos. Antes inviável, a exploração do "shale gas" e do "tight oil" pode transformar os EUA no maior produtor mundial de gás natural (superando a Rússia por volta de 2015) e mesmo de petróleo (superando a Rússia e a Arábia Saudita por volta de 2017). 

Os EUA, ademais, possuem essas reservas perto de grandes centros industriais, o que poupará gastos de infraestrutura, como oleodutos e gasodutos.

As consequências da revolução do xisto são inúmeras. A oferta de gás natural barato deverá atrair para o território estadunidense investimentos de indústrias eletrointensivas, gerando empregos locais, mas prejudicando países emergentes. 

O déficit na balança comercial, que agrava a dependência de financiamento externo no atual contexto de discussão sobre o teto da dívida pública, será mitigado. O impacto ambiental, por sua vez, tem dividido a opinião pública. 

De um lado, o aumento da participação do gás natural na matriz energética, ao substituir o carvão mineral pelo gás natural, contribui para a redução da emissão de gases-estufa, coadunando-se com os esforços de redução da poluição do ar e do aquecimento global. 

De outro lado, a tecnologia do fraturamento emite gás metano, mais nocivo para o efeito estufa do que o gás carbônico, e pode contaminar, com produtos químicos, lençóis freáticos e aquíferos. O ajuste da nova estratégia energética estadunidense ao desenvolvimento sustentável dependerá, portanto, dos avanços da tecnologia do fraturamento em evitar impactos ambientais.

Outra consequência da produção estadunidense do gás de xisto tem sido a exportação de carvão mineral a preços mais baixos para a Europa Ocidental. Embora isso contrarie esforços da UE de combate à mudança climática, o alívio financeiro no contexto de crise é inegável. 

Esse movimento pode ser capaz de reduzir a dependência energética da Europa em relação ao gás russo, que envolve a "geopolítica dos dutos". 

Os EUA, para reduzir o poder de barganha russo diante dos europeus, haviam apoiado a construção do gasoduto Nabucco, que levaria o gás natural dos países do Mar Cáspio à Europa passando pela Turquia (membro histórico da OTAN). 

Esse projeto foi sobrepujado por iniciativas russas mais bem-sucedidas, como o South Stream e o Nord Stream, que consolidaram grande participação do gás russo nas matrizes energéticas do leste europeu, da Alemanha e da Itália.

A estratégia energética russa baseia-se, de maneira geral, em dois pilares: a exportação dos hidrocarbonetos de suas extensas bacias sedimentares à Europa e a submissão política dos países que compõem seu "Exterior Próximo". 

No contexto da guerra ao terror, quando a Rússia também era ameaçada por separatismos em territórios de maioria muçulmana, Putin consentiu com o estabelecimento de bases estadunidenses em algumas das repúblicas que compunham a URSS. Hoje, essas bases aumentaram a influência dos EUA sobre os recursos do Mar Cáspio, reeditando o "grande jogo" do século XIX, travado entre russos e britânicos. 

Os estadistas russos tendem a enquadrar sua política energética em perspectiva geopolítica, visto que seus recursos naturais têm possibilitado a manutenção de sua influência política e a recuperação econômica com Putin, após anos de crise com Yeltsin. 

A possibilidade favorável ao desenvolvimento sustentável decorre dos fundos soberanos formados a partir da receita obtida com tarifas de exportação sobre hidrocarbonetos. A exemplo de países do Oriente Médio, a Rússia pode financiar, com esses fundos, o desenvolvimento de tecnologias para energia alternativa, visando a um contexto futuro de escassez de petróleo.

A China, por sua vez, deve tornar-se a maior importadora líquida de petróleo do mundo em 2013, ultrapassando os EUA. Embora seja a líder mundial em investimentos "verdes", é o maior poluidor do mundo, devido ao carvão mineral predominante em sua matriz. 

As reformas propostas por Xi Jinping vão ao encontro da necessidade de fortalecer o pilar ambiental do desenvolvimento sustentável chinês. O apoio à produção de painéis solares, que têm ganhado destaque no mercado europeu e que originaram grande contencioso comercial na OMC, exemplifica esse quadro. 

De todo modo, a China não descuidou dos hidrocarbonetos. Suas petrolíferas estatais lançaram, nos últimos anos, agressiva política de investimentos no mundo. Alguns temem que a ideia seja suprir a demanda chinesa crescente por petróleo. 

Contudo, essas empresas têm vendido petróleo no mercado internacional, mostrando maior interesse na aquisição de tecnologia. Disso decorre sua participação no recente no leilão de Libra no Brasil: acesso à tecnologia da Petrobrás sobre exploração em águas profundas.

Recentes desdobramentos sobre política energética oferecem prós e contras para o desenvolvimento sustentável. É importante ressaltar que o foco recente na "revolução do xisto" não deve ofuscar os avanços tecnológicos experimentados por fontes alternativas. 

O Brasil, que, ao lado dos EUA e do Canadá, será um dos maiores contribuidores para o aumento da produção mundial de petróleo, tem uma matriz energética relativamente limpa, está na vanguarda dos biocombustíveis e apresentou, em 2012, crescimento de 87% na geração de energia eólica. 

Ainda assim, os hidrocarbonetos, tradicionalmente apontados como "vilões ambientais", podem fortalecer os três pilares do desenvolvimento sustentável (econômico, social e ambiental), desde que políticas públicas adequadas acompanhem sua exploração. 

Se EUA, China e Rússia se pautarem pelo equilíbrio que caracteriza as políticas brasileiras, o desenvolvimento sustentável poderá ser fortalecido.

fonte: Guia de Estudo IRB para o CACD 2014  


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