A Grécia votou ontem (5 julho 2015) contra a manutenção da política de austeridade e as exigências do FMI e da União Européia para receber novas ajudas financeiras.
Se o resultado fosse o "SIM" os gregos teriam aceito as exigências dos credores e, a curto prazo, garantiriam a permanência na zona do euro. Porém teriam que implementar mais cortes nos gastos públicos - como benefícios aos aposentados - bem como aumentar impostos.
Com a escolha do "NÃO" haverá novas tentativas de negociação entre a Grécia e seus credores. Se não houver um acordo rápido, os bancos gregos podem ficar sem recursos e quebrar, e a Grécia pode sair da zona do euro.
Entendendo a Crise e o Referendo
A Grécia enfrenta uma forte crise econômica por ter gastado mais do que podia. Essa dívida foi financiada por empréstimos do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do resto da Europa.
Na última terça-feira (30), venceu uma parcela de € 1,6 bilhão da dívida com o FMI. Sem recursos para saldar essa dívida, o país entrou em "default" (situação de calote), o que pode resultar na sua saída da zona do euro.
Essa saída não é automática e, se acontecer, pode demorar, pois inclusive, não existe um mecanismo de "expulsão" de um país da zona do euro.
Como a crise ficou mais grave, os bancos estão fechados nesta semana para evitar que os gregos saquem tudo o que têm e quebrem as instituições.
A Grécia depende de recursos da Europa para conseguir fazer o pagamento ao FMI, no entanto, os europeus exigem que o país corte gastos e aumente impostos para liberar mais dinheiro. O prazo para renovar essa ajuda também venceu nesta terça-feira.
O governo grego apresentou uma nova proposta de ajuda ao Eurogrupo - grupo que reúne ministros da União Europeia - fazendo concessões, mas rejeitando algumas das medidas de cortes mais duras.
O primeiro-ministro grego convocou um referendo para este domingo (5 de julho). Os gregos foram consultados se concordavam com as condições europeias para o empréstimo mas votaram contra.
Consequências do NÃO
A Europa pressiona para que a Grécia aceite as condições e fique na zona do euro, isso porque uma saída pode gerar uma crise ainda maior, prejudicando a confiança do mundo na região e na moeda única.
Para a Grécia, a saída do euro significa retomar o controle sobre sua política monetária (que hoje é "terceirizada" para o BC europeu), o que pode ajudar nas exportações, entre outras coisas, mas também deve fechar o país para a entrada de capital estrangeiro e agravar a crise econômica.
O primeiro-ministro, Alexis Tsipras, afirmou que o resultado não foi um voto contra a Europa, mas uma permissão para que ele pudesse renegociar uma solução viável para a crise.
Há pelo menos três possíveis cenários:
Cenário 1 – Saída da Grécia da zona do euro
Essa é vista por muitos como a opção mais provável, mesmo após Tsipras ter dito que o resultado não significava uma ruptura com a Europa.
O problema é que muitos de seus colegas europeus viram o plebiscito como o fim do caminho – e acreditam que é chegada a hora de uma decisão rápida.
Ministros alemães, assim como líderes da Itália e da França, interpretaram a votação como um referendo sobre permanecer ou não com o euro.
O vice-chanceler alemão, Sigmar Gabriel, disse, no domingo à noite, que o premiê grego havia "queimado as últimas pontes entre a Europa e a Grécia que poderiam levar a um acordo".
Há diversas reuniões marcadas para os próximos dias entre líderes e ministros da zona do euro, mas o clima não é de otimismo.
O presidente do Eurogrupo (que reúne os ministros das Finanças dos países que usam o euro como moeda), Jeroen Dijsselbloem, disse que, "para recuperar a economia grega, reformas e medidas difíceis serão inevitáveis" e que o grupo "aguarda pelas iniciativas das autoridades gregas".
A premiê polonesa, Eva Kopacz, disse que o referendo foi "um provável novo estágio em direção à saída de Atenas do Euro".
Cenário 2 - Colapso dos bancos gregos
Outra grande incógnita nesses acontecimentos é o futuro dos bancos gregos, que foram fechados em 29 de junho.
O governo grego prometeu que uma vitória do "NÃO" levaria à reabertura dos bancos, na terça-feira. Mas o Banco Central Europeu não deve abrir a torneira do apoio financeiro que dá aos bancos gregos - e a sobrevivência dos bancos é uma questão de dias.
Uma das opções é os bancos reabrirem com uma moeda paralela até a reimplantação da antiga moeda grega, o dracma.
Por outro lado, a situação de queda livre da economia grega pode persuadir os europeus a recapitalizar o sistema bancário do país. Mas isso traria consequências políticas para outros países da zona do euro, como a Espanha, onde há turbulentas disputas políticas sobre o implemento de medidas de austeridade.
Mas muitos são contra a novas injeções de dinheiro aos bancos gregos, especialmente após o calote da dívida ao FMI, e com "recados" de autoridades: "A rejeição das reformas pelos gregos não pode significar que eles vão obter dinheiro mais facilmente", disse o ministro das Finanças da Eslováquia, Peter Kazimir.
Cenário 3 – Líderes europeus entram em acordo e evitam o colapso bancário
Parece pouco provável, mas o premiê grego já forneceu detalhes sobre um novo acordo e novas reformas, que não seriam tão distantes das propostas pelos credores.
Tsipras não quer apenas mais dinheiro. Nas mesas de negociações, ele também estará armado com um relatório do FMI, publicado três dias antes do plebiscito, que diz que a Grécia precisa de um considerável perdão da dívida e também de 50 bilhões de euros nos próximos três anos.
Além disso, para os bancos serem recapitalizados, a Grécia precisaria de acesso ao fundo permanente de resgate da zona do euro, que oferece taxas de juros mais baixas e termos de pagamento facilitados. Mas a essa altura, é difícil de se imaginar essa possibilidade.
fonte: UOL Economia
Nenhum comentário:
Postar um comentário