terça-feira, 14 de julho de 2015

A Teoria dos Dois Campos e a Coexistência Pacífica

Stalin e Andrei Zdanov - A Teoria dos 2 Campos

Em 1947 Andrei Zdanov, ideólogo do stalinismo, concebeu a fórmula conhecida como a Teoria dos Dois Campos que serviu como cobertura ideológica para que o Partido Comunista da URSS acelerasse a satelitização do Leste europeu. 

Era a resposta soviética ao Plano Marshall de Churchill e à Doutrina Truman que, juntos, lançaram as bases da política anglo-americana da "contenção" ao comunismo que deu início à Guerra Fria.

Zdanov e a Teoria dos Dois Campos

A "Teoria dos dois Campos"  de Andrei Zdanov foi a resposta soviética à política norte-americana pós-guerra de distanciamento e hostilidade aos comunistas, especialmente após o discurso de Winston Churchill em Fulton, Missouri, Estados Unidos - onde surgiu a famosa expressão "Cortina de Ferro".

O clima de tensão entre os dois blocos hegemônicos no pós-guerra foi intensificado pela iniciativa do Plano Marshall - capitaneado pelos EUA - para reconstrução da economia mundial mas que deixava de fora os países do bloco socialista. 

Adicionava-se ainda à conjuntura de confrontamento, as ideias da chamada "Doutrina Truman", que claramente esboçavam uma política de isolamento em relação à crescente influência soviética na Europa e no extremo oriente.

A "Teoria dos dois campos"  foi utilizada como pretexto para que o Partido Comunista Soviético dinamizasse sua influência ante os países do Leste Europeu, tornando-os assim "satélites" soviéticos. 


A Teoria dos Dois Campos foi lançada em Szklarska Poreba, na Polônia, por ocasião da constituição do Kominform (Birô de Informação Comunista), a 22 de setembro de 1947, sendo uma réplica frontal ao Plano Marshall de auxílio à Europa.

De acordo com o que se pronunciou naquela reunião, todas as esferas da ação e pensamento estavam divididas em dois campos mutuamente excludentes, antagônicos e irreconciliáveis, sendo representados mundialmente pelas duas grandes potências, EUA e URSS. 

No primeiro bloco, estavam respectivamente os EUA sob liderança do Bloco Imperialista e Democrático, enquanto que a União Soviética fazia parte do grupo Antiimperialista e AntiDemocrático. 

Do mesmo modo, nos campos da filosofia e da ciência, o ser humano estaria diante de dois caminhos, o do idealismo socialista ou o do materialismo capitalista, sendo estudiosos, pesquisadores e grandes mentes das artes e das ciências em todos os tempos analisados e vistos a partir de tal paradigma; no cenário político, estaria-se experimentando a luta entre imperialismo e socialismo. 

Em resumo, todos os aspectos da existência humana estariam submetidos a tal dualidade, uma disputa entre o bem e o mal, em que o cidadão soviético que não estivesse alinhado entusiasmadamente com os ideais socialistas, estaria logicamente do outro lado, ou seja, o do mal.

A Teoria dos dois campos servia assim a dois propósitos: manter toda a população soviética unida em torno da doutrina stalinista, abafando de modo eficaz qualquer tipo de revolta contra o governo, e por outro lado, servia também para demonizar o outro lado, o dos norte-americanos, tornando-os inimigos a serem batidos pelo bem da sociedade proletária, facilitando a união dos comunistas espalhados pelo mundo em torno da URSS .

Apesar da Teoria dos dois campos estar presente de modo implícito na cultura popular produzida no ocidente durante muito tempo, ela entra em decadência já na metade da década de 1950, com morte de Stalin e a ascensão de Nikita Khrushchev como secretário-geral do partido comunista soviético. 

Khrushchev denuncia Stalin e o seu chamado "culto da personalidade", iniciando uma outra forma de convivência com os países ocidentais, batizada de "Coexistência Pacífica".

Khrushchev e a Coexistência Pacífica

Com a morte de Stalin em 5 de março de 1953, abriu-se uma nova fase nas relações internacionais. Nikita Khrushchev assume o poder no Kremlin e lança uma nova política externa, com objetivo de distender as tensões entre os EUA e a URSS. Esta nova teoria foi denominada de Coexistência Pacífica

A Coexistência Pacífica defendia a ideia que era possível um relacionamento pacífico com o capitalismo.

Khrushchev iniciou processo interno de abertura, amenizando a censura, reduzindo o poder da polícia política, reabilitando presos políticos do regime de Stalin e fechando campos de trabalhos forçados. Esse processo foi denominado de "Degelo" e "Desestalinização" 

Estas ações soviéticas repercutiram amplamente nos países socialistas da Europa Oriental. Em 1956 ocorre a Revolução Húngara que teve por objetivo por fim ao aparato repressivo do regime stalinista. A revolução no entanto foi sufocada por intervenção da própria URSS. 

O impacto da doutrina da Coexistência Pacífica também teve impactos na China. A China sob liderança de Mao Tse-tung, se distancia da URSS alegando que a atitude de confronto conta o capitalismo deveria ser mantida, rejeitando as ideias da coexistência pacífica.

No entanto, a partir de 1972 a China decide estabelecer relações comerciais com os EUA e  a acaba adotando uma "versão própria" da Coexistência Pacífica.

A Coexistência também possibilitou uma aproximação dos líderes da URSS e dos EUA. Khruschev reuniu-se diversas vezes com os presidentes Eisenhower e John Kennedy, entre 1956 e 1961. 

A distensão entre as superpotências no entanto não impediram que elas reafirmassem suas hegemonias em suas respectivas áreas de influência. 

Em 1953 as tropas de ocupação soviéticas reprimem violentamente protestos na Alemanha Oriental. Como comentado acima, em 1956 a URSS reprime brutalmente a revolução na Hungria. 

Os EUA também intervém com força para a derrubada de governos progressistas como o de Mossadegh no Irã em 1953, e em 1954 contra Arbenz na Guatemala. 

Esta ações mostram claramente a complexidade desta nova fase nas relações internacionais, que teve na crise dos mísseis soviéticos em Cuba em 1962 provavelmente o momento mais tenso da história mundial recente.      

Bibliografia:


1 Voltaire SCHILLING - Zdanov e a Teoria dos Dois Campos  

2 Eric Hobsbawn - A Era dos Extremos

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