Guia de Estudos CACD 2014
Prova 2013 - GEOGRAFIA
QUESTÃO 1
O acordo de Sykes-Picot, assinado em 1916 entre França e Grã-Bretanha, definiu a partilha de
territórios pertencentes ao antigo Império Otomano no Oriente Médio.
Aponte qual o princípio geopolítico que norteou a divisão dos territórios e explique como foram divididas as fronteiras entre os dois países.
Aponte qual o princípio geopolítico que norteou a divisão dos territórios e explique como foram divididas as fronteiras entre os dois países.
FELIPE NEVES CAETANO RIBEIRO
"O Oriente Médio constitui, historicamente, um “hotspot” da geopolítica mundial. Seja
nas concepções de Spykman acerca do “Rimland”, áreas peninsulares que circundam o
“heartland”, ou nas concepções de Zbigniew Brzezinski acerca da área balcânica eurasiana,
constata-se a grande importância dessa região não apenas em decorrência de sua topopolítica, mas também devido à sua fisiopolítica e a seus recursos naturais de poder,
ainda valorizados pela geopolítica atual.
O acordo Sykes-Picot, negociado durante a Primeira Guerra Mundial entre França e Inglaterra, dispondo acerca das divisões do esfacelado Império Otomano, baseou-se no princípio geopolítico das esferas de influência e prestou-se a promover interesses britânicos e franceses na região.
O acordo Sykes-Picot, negociado durante a Primeira Guerra Mundial entre França e Inglaterra, dispondo acerca das divisões do esfacelado Império Otomano, baseou-se no princípio geopolítico das esferas de influência e prestou-se a promover interesses britânicos e franceses na região.
O esfacelamento do Império Otomano revelava as reminiscências do chamado
“grande jogo” geopolítico na Europa, caracterizado pelos esforços ingleses de conter a
Rússia e seu acesso a mares quentes, sobretudo durante o século XIX.
Ocorre que as revoltas enfrentadas pelo Império Otomano nos Balcãs e nos países árabes enfraqueciam, crescentemente, o “grande enfermo” europeu, abrindo um vácuo de poder em uma região estratégica, principalmente para os interesses britânicos.
A Primeira Guerra Mundial, em que o Império Otomano se colocou ao lado da tríplice aliança liderada pelo Império Alemão, em oposição à tríplice entente, foi o golpe final para o Império Otomano e para o que Eric Hobsbawm denominou de “Eras dos Impérios”, ainda que o imperialismo franco-britânico permanecesse na região.
Diante do fim do Império Otomano, protegido pelos ingleses no século XIX para evitar o expansionismo russo, França e Inglaterra entabulam negociações que vão ocorrer em detrimento da comunidade judaica, do sionismo e do povo árabe.
Na concepção inglesa, mais importante que o sionismo e a futura declaração Balfour, em que prometeria apoiar um Estado judeu na Palestina, ou mesmo as promessas feitas aos governantes da Jordânia e do Iraque, era garantir que o vácuo de poder na “terra dos cinco mares” não fosse preenchido por outra potência, em especial aquelas às quais se opunha durante a guerra.
É nesse cenário de redefinição geopolítica, anterior à Revolução Russa, que se estabelece o acordo Sykes-Picot, definindo as fronteiras de territórios antes pertencentes ao Império Otomano, com base no princípio das áreas de influência e sem descuidar dos interesses estratégicos dos países envolvidos.
O acordo Sykes-Picot dividiu as fronteiras entre Inglaterra e França em uma área que se estende do Mediterrâneo ao golfo pérsico, de maneira a atender os interesses das duas principais potências envolvidas.
Nesse contexto, é relevante considerar que os interesses franco-britânicos no Oriente Médio e na Ásia menor remontam à presença no Egito em meados do século XIX, que permitiu aos franceses construir o canal de Suez, até a tomada do poder pelos britânicos, aumentando rivalidades entre essas duas potências, apaziguadas após a crise de Fashoda.
Além do canal de Suez, estratégico para permitir o acesso do Mediterrâneo ao oceano Índico, cumpre destacar o caráter igualmente estratégico do golfo de Ácaba e do estreito de Ormuz, dos quais a Inglaterra se aproximaria por meio do acordo Sykes-Picot.
A França, por sua vez, expandiria sua influência, com acesso a novos portos no Mediterrâneo e maior ascendência sobre territórios já conquistados, como a Argélia.
A partilha feita pelo acordo Sykes-Picot dividiu territórios do Império Otomano da seguinte forma: a França teria controle sobre Líbano, Síria e sudeste da Turquia, enquanto a Inglaterra controlaria territórios do Iraque à Palestina, tendo grande influência sobre as autoridades da Arábia e da Jordânia.
Dessa forma, consagrava-se o princípio das áreas de influência, perfazendo fronteiras contíguas entre os territórios sob o controle da Inglaterra e da França, o que visava também a conter os interesses de outras potências, em um espaço que configurava a grande hinterlândia do Oriente Médio.
A França controlaria o norte da região, ao passo que a Inglaterra controlaria uma área próxima ao canal de Suez, na iminência da independência do Egito, além do Iraque, próximo ao Irã – alvo crescente dos interesses ingleses, com a descoberta de reservas de hidrocarbonetos.
O acordo Sykes-Picot entre Inglaterra e França baseou-se na ideia de áreas de
influência e dividiu antigos territórios do Império Otomano, de modo a favorecer desígnios
franco-britânicos no Oriente Médio.
As fronteiras não levaram em conta os interesses da população regional, o que resultou em conflitos em uma área que permanece central para a compreensão das questões geopolíticas no mundo atual."
fonte: Guia de Estudos IRB para o CACD 2014
Ocorre que as revoltas enfrentadas pelo Império Otomano nos Balcãs e nos países árabes enfraqueciam, crescentemente, o “grande enfermo” europeu, abrindo um vácuo de poder em uma região estratégica, principalmente para os interesses britânicos.
A Primeira Guerra Mundial, em que o Império Otomano se colocou ao lado da tríplice aliança liderada pelo Império Alemão, em oposição à tríplice entente, foi o golpe final para o Império Otomano e para o que Eric Hobsbawm denominou de “Eras dos Impérios”, ainda que o imperialismo franco-britânico permanecesse na região.
Diante do fim do Império Otomano, protegido pelos ingleses no século XIX para evitar o expansionismo russo, França e Inglaterra entabulam negociações que vão ocorrer em detrimento da comunidade judaica, do sionismo e do povo árabe.
Na concepção inglesa, mais importante que o sionismo e a futura declaração Balfour, em que prometeria apoiar um Estado judeu na Palestina, ou mesmo as promessas feitas aos governantes da Jordânia e do Iraque, era garantir que o vácuo de poder na “terra dos cinco mares” não fosse preenchido por outra potência, em especial aquelas às quais se opunha durante a guerra.
É nesse cenário de redefinição geopolítica, anterior à Revolução Russa, que se estabelece o acordo Sykes-Picot, definindo as fronteiras de territórios antes pertencentes ao Império Otomano, com base no princípio das áreas de influência e sem descuidar dos interesses estratégicos dos países envolvidos.
O acordo Sykes-Picot dividiu as fronteiras entre Inglaterra e França em uma área que se estende do Mediterrâneo ao golfo pérsico, de maneira a atender os interesses das duas principais potências envolvidas.
Nesse contexto, é relevante considerar que os interesses franco-britânicos no Oriente Médio e na Ásia menor remontam à presença no Egito em meados do século XIX, que permitiu aos franceses construir o canal de Suez, até a tomada do poder pelos britânicos, aumentando rivalidades entre essas duas potências, apaziguadas após a crise de Fashoda.
Além do canal de Suez, estratégico para permitir o acesso do Mediterrâneo ao oceano Índico, cumpre destacar o caráter igualmente estratégico do golfo de Ácaba e do estreito de Ormuz, dos quais a Inglaterra se aproximaria por meio do acordo Sykes-Picot.
A França, por sua vez, expandiria sua influência, com acesso a novos portos no Mediterrâneo e maior ascendência sobre territórios já conquistados, como a Argélia.
A partilha feita pelo acordo Sykes-Picot dividiu territórios do Império Otomano da seguinte forma: a França teria controle sobre Líbano, Síria e sudeste da Turquia, enquanto a Inglaterra controlaria territórios do Iraque à Palestina, tendo grande influência sobre as autoridades da Arábia e da Jordânia.
Dessa forma, consagrava-se o princípio das áreas de influência, perfazendo fronteiras contíguas entre os territórios sob o controle da Inglaterra e da França, o que visava também a conter os interesses de outras potências, em um espaço que configurava a grande hinterlândia do Oriente Médio.
A França controlaria o norte da região, ao passo que a Inglaterra controlaria uma área próxima ao canal de Suez, na iminência da independência do Egito, além do Iraque, próximo ao Irã – alvo crescente dos interesses ingleses, com a descoberta de reservas de hidrocarbonetos.
A forma como se deu o acordo Sykes-Picot e suas áreas de influência teriam grande
impacto na configuração geopolítica da região, com repercussões ainda nos dias atuais.
A independência das áreas sob o domínio franco-britânico coincide, após a Segunda Guerra Mundial, com o período em que o Oriente Médio passa a ser visto como um “hotspot” geopolítico não apenas devido a seus recursos, mas também devido ao surgimento de animosidades e de conflitos.
As fronteiras artificiais do acordo Sykes-Picot ignoraram as diferenças religiosas e étnicas existentes na região. De modo similar ao acordo de Lausanne, que definiu as fronteiras da Turquia, o acordo Sykes-Picot não se preocupou, por exemplo, com as populações curdas no Iraque e no norte da Síria, o que repercute, ainda, em conflitos atuais.
De forma semelhante, é possível relacionar o acordo Sykes-Picot a importantes questões políticas e geopolíticas que marcaram o século XX, a exemplo da queda de Mossaddeq no Irã em 1953, até então sob a influência britânica, ao conflito palestino- israelense, considerando-se as dificuldades para definir as fronteiras regionais, além da criação do Kuait, revelando o intento de manter a influência estrangeira na região.
Nesse sentido, o acordo Sykes-Picot e seus desdobramentos revelam-se importantes para a compreensão da geopolítica no início do século XX, resultante de interesses que remontam ao século anterior e que repercutem atualmente.
A independência das áreas sob o domínio franco-britânico coincide, após a Segunda Guerra Mundial, com o período em que o Oriente Médio passa a ser visto como um “hotspot” geopolítico não apenas devido a seus recursos, mas também devido ao surgimento de animosidades e de conflitos.
As fronteiras artificiais do acordo Sykes-Picot ignoraram as diferenças religiosas e étnicas existentes na região. De modo similar ao acordo de Lausanne, que definiu as fronteiras da Turquia, o acordo Sykes-Picot não se preocupou, por exemplo, com as populações curdas no Iraque e no norte da Síria, o que repercute, ainda, em conflitos atuais.
De forma semelhante, é possível relacionar o acordo Sykes-Picot a importantes questões políticas e geopolíticas que marcaram o século XX, a exemplo da queda de Mossaddeq no Irã em 1953, até então sob a influência britânica, ao conflito palestino- israelense, considerando-se as dificuldades para definir as fronteiras regionais, além da criação do Kuait, revelando o intento de manter a influência estrangeira na região.
Nesse sentido, o acordo Sykes-Picot e seus desdobramentos revelam-se importantes para a compreensão da geopolítica no início do século XX, resultante de interesses que remontam ao século anterior e que repercutem atualmente.
As fronteiras não levaram em conta os interesses da população regional, o que resultou em conflitos em uma área que permanece central para a compreensão das questões geopolíticas no mundo atual."
fonte: Guia de Estudos IRB para o CACD 2014
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