quinta-feira, 7 de agosto de 2014
Palestina e Israel: Resumo de uma história de conflitos
O envolvimento das potências ocidentais no Oriente Médio data dos séculos XIX e XX, como parte do processo de Imperialismo da Rússia, do Reino Unido e da França.
O mapa local foi redesenhado várias vezes na história; mais recentemente, com a queda do Império Otomano após a 1a Guerra Mundial.
A região da Palestina é palco de um dos mais complexos conflitos contemporâneos, com povos árabes e judeus protagonizando recorrentes batalhas.
Para se entender melhor este conflito, é necessário resgatar alguns antecedentes históricos sobre a Palestina e a criação do Estado de Israel.
Palestina
Palestina é a denominação histórica dada pelo Império Romano, a partir de um nome hebraico bíblico, para a região do Oriente Médio situada entre a costa oriental do Mediterrâneo e as atuais fronteiras ocidentais do Iraque e da Arábia Saudita, hoje compondo os territórios da Jordânia, Israel, sul do Líbano e os territórios da Faixa de Gaza e a Cisjordânia.
A Palestina, sendo um trecho estreito de terra favorável para a passagem entre a África e a Ásia, foi palco de inúmeras disputas por diferentes povos na história.
No século XV a.C, a região foi conquistada pelos egípcios. Com o enfraquecimento do poder dos egípcios a partir do século XIII a.C, a região passou a ser invadida pelos "Povos dos Mares".
Um desses povos, os Filisteus, fixou-se junto à costa da região, construindo vilarejos e cidades. Nesta mesma época, chegam também à região tribos de Hebreus, que se instalam mais ao interior.
Filisteus e Hebreus entram em conflito pelo domínio das terras. As tribos hebraicas se unem para combater o inimigo, formando uma monarquia cujo primeiro rei é Saul.
O sucessor de Saul, David, derrota os filisteus no século X a.C unificando a região, e fixa a capital de seu reinado em Jerusalém.
Durante o reinado do sucessor de David, Salomão, o novo reino vive período de grandes prosperidade. Salomão constrói grandes monumentos e templos, como o "Templo Sagrado do Monte Moriá" e consolida Jerusalém como local sagrado e capital política e religiosa dos judeus.
No entanto, com a morte de Salomão, a região é novamente dividida em duas partes: ao norte é criado o reino de Israel (com capital em Samaria) e ao sul é criado o reino de Judá (com capital em Jerusalém).
A região novamente é palco de várias disputas nos séculos seguintes, sendo conquista por diferentes povos, como Assírios, Babilônicos, Persas e Gregos até ser conquistada pelo Império Romano no ano de 63 a.C.
Jerusalém que já era terra sagrada dos judeus, passa também a ser centro religioso da nova religião nascente, o Cristianismo.
Após a divisão do Império Romano, entre os séculos III e VI d.C a região passa por mais uma fase de prosperidade, sob o controle do Império Bizantino.
O Império Bizantino era predominantemente cristão, e, durante os 3 séculos de seu controle sobre a Palestina, os judeus foram proibidos de viver na região.
No ano de 638 d.C, o Califado Islâmico conquista a Palestina e Jerusalém passa a ser considerada uma das cidades sagradas do Islã. Nesta época tanto os judeus quanto os cristãos foram permitidos de viver na Palestina.
Em 1099 os Cruzados conquistam a região e novamente os judeus são expulsos da Palestina, junto com os muçulmanos, permanecendo somente cristãos na região.
Em 1517 a região foi conquistada pelo Império Turco Otomano e novamente tanto os muçulmanos quanto os judeus retornam para a Palestina.
Em 1917 o Império Otomano, aliado da Alemanha na Primeira Guerra Mundial, é derrotado pelas tropas aliadas com o apoio dos árabes da região e os turcos são expulsos da Palestina.
A Grã-Bretanha, ainda durante a guerra, promete aos judeus a constituição de um Estado Judaico totalmente independente da Turquia, através da "Declaração de Balfour".
Com a vitória dos aliados, conforme o Tratado de Versalhes, a Palestina é dividida entre a França e a Grã-Bretanha, cabendo à França a região das atuais Síria e Líbano e à Grã-Bretanha a região ao sul que corresponde à região da atual Jordânia, Faixa de Gaza e Cisjordânia.
Com base no acordo "Sykes-Picot", foi criado o chamado "Mandato Britânico", que previa que esta região estaria sob controle Britânico, como uma administração internacional.
Em 1923, a Grã-Bretanha divide a região em dois distritos, separados pelo rio Jordão.
Os judeus somente seriam permitidos na parte da costa a oeste do Jordão (correspondendo a 25% do Mandato Britânico). Os restantes 75% do território vieram a formar a atual Jordânia.
Os árabes rejeitam a divisão, receando tornar-se minoria, bem como cobrando o apoio dado aos britânicos durante a guerra.
Os impasses continuam nos anos seguintes, e após a Segunda Guerra Mundial, sem mais condições para administrar os conflitos e as pressões na região, os britânicos entregam a decisão de solução da disputa para a recém criada ONU.
Em 1947, a Assembléia Geral da ONU determina a partilha da região a oeste do rio Jordão com a criação de um Estado Judeu e outro Estado Árabe, baseado na concentração de populações nos territórios, através da Resolução 181.
A proposta da ONU para a divisão está representada no mapa ao lado.
Mesmo sem a definição das negociações entre judeus e árabes, em 14 de maio de 1948, um dia antes do fim do Mandato Britânico, os israelenses declaram unilateralmente a constituição do Estado de Israel.
Os países da chamada "Liga Árabe", composta por Síria, Líbano, Jordânia, Arábia Saudita, Iraque, Iêmem e Egito, se opõe a criação de Israel e conclamam os árabes locais a abandonar o território e que fosse declarada guerra contra a formação do Estado judeu.
A Liga Árabe prometia derrotar os judeus e devolver todo o território para os árabes da região, no entanto, Israel vence a guerra contra os Estados Árabes, formando um país ainda maior do que o inicialmente proposto pela ONU.
O Egito consegue ocupar a Faixa de Gaza e a Jordânia a região da Judéia e Samaria.
Em 1967, a Liga Árabe mobiliza novamente seus exércitos contra Israel, mas novamente são derrotados.
Naquela que ficaria conhecida como "Guerra dos 6 dias", Israel novamente derrota os árabes e desta vez ocupa as Colinas de Golã na Síria, a Península do Sinai no Egito e a região da Cisjordânia na Jordânia, incluindo o controle total sobre a cidade de Jerusalém.
A partir da Guerra dos 6 dias, Israel adota política de construção de colônias civis de assentamento nos territórios desocupados, avançando e consolidando os territórios do país.
Em 1978, o presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, consegue reunir o presidente do Egito, Anwar Sadat, e o Primeiro-Ministro de Israel, Menachem Begin, em Camp David, a fim de negociar o primeiro acordo de paz entre árabes e israelenses.
Neste primeiro acordo de "Camp David", Israel se compromete a devolver a Península do Sinai, bem como retirar as colônias israelenses construídas na região. O Egito se compromete a não mais atacar Israel e os dois países decidem restabelecer relações políticas e comerciais.
OLP e a formação do Estado Palestino
Em 1964, o Alto Comissariado da Palestina solicita à Liga Árabe a criação de uma organização para libertação da Palestina, a chamada OLP.
O principal líder da OLP foi o egípcio Yasser Arafat, que participa ativamente das lutas e negociações do grupo por 40 anos, até sua morte em 2004.
Em 1988, a OLP proclama o estabelecimento do Estado da Palestina, no entanto sem reconhecimento internacional.
Após anos de conflitos contra Israel e poucos avanços, Arafat decide suspender a luta armada e inicia negociações para o estabelecimento de um acordo diplomático de paz com Israel.
Em 1994 são assinados os chamados "Acordos de Oslo" com o reconhecimento de Arafat como liderança legítima dos Palestinos, negociação de cessão de territórios para o estabelecimento de um Estado autônomo da Palestina na Faixa de Gaza e na Cisjordânia.
Infelizmente, tanto em Israel quanto entre os árabes houve resistências ao acordo e os conflitos posteriormente foram retomados.
Atualmente a Faixa de Gaza é governada pelo Hamas, grupo terrorista contrário às negociações com Israel, e a Cisjordânia (região de Judéia e Samaria) é controlada pelo Fatah, grupo mais moderado.
Os dois grupos também lutam entre si na Faixa de Gaza por disputas políticas e ideológicas.
Em 29 de novembro de 2012, 65 anos após a Resolução 181, a Assembléia Geral da ONU numa votação histórica, decide reconhecer os territórios ocupados pelos palestinos como um Estado não-membro da ONU, status político semelhante ao do Estado do Vaticano.
139 países foram favoráveis, entre eles o Brasil e a maioria dos Estados europeus. 9 países são contra, entre eles Israel, EUA e Turquia. 41 países se abstiveram.
Israel
A Grã-Bretanha, enfraquecida após a 2a Guerra Mundial, e com as pressões dos judeus e árabes, em 1947 entrega a responsabilidade de decisão sobre a partição dos territórios da Palestina para a ONU, que delibera a Resolução 181 para a formação dos Estados judeu e árabe e que estes dois Estados deveriam criar uma união econômica e aduaneira.
No entanto, Israel, liderado por David Ben-Gurion em 1948 declara a Independência e criação do Estado de Israel.
A Liga Árabe recusa a partilha proposta pela ONU e não reconhece a formação do novo Estado de Israel, declarando guerra um dia após a declaração de independência.
A Guerra Árabe-Israelensede 1948, também chamada Guerra da Independência, dura mais de 1 ano. Com a vitória de Israel, mais de 700 mil refugiados palestinos ficam impossibilitados de retornar às suas casas, tendo que permanecer em campos de refugiados no sul do Líbano.
O Estado de Israel é reconhecido pela ONU em 1949 e o país passa a receber milhares de imigrantes de todo o mundo, em especial sobreviventes da perseguição nazista da 2a Guerra e de judeus oriundos dos países árabes vizinhos.
Após a Guerra dos 6 dias, em 1967, judeus são expulsos do Egito e também emigram para Israel. Esta guerra gera uma onda anti-judaísmo nos países de influência soviética e nos anos seguintes centenas de milhares de judeus desembarcam em Israel provenientes de países socialistas.
Política em Israel
David Ben-Gurion foi o primeiro Primeiro-Ministro de Israel, ocupando o cargo entre 1949 a 1953.
Ben-Gurion foi sucedido por Moshe Sharett, que foi considerado um político de pouca expressão. Gurion retorna ao poder em 1955 e fica até 1963.
Levi Eshkol sucede Gurion em 1963 e fica no poder até 1969 quando vem a falecer.
Golda Meir sucede Eshkol, construindo um gabinete de coalizão, convidando os partidos de direita para participar do governo.
O perfil simpático e carismático de Golda Meir atrai a simpatia internacional para Israel, no entanto, setores mais à esquerda acusam Golda de ser refratária às tentativas de paz com os árabes.
A invasão de Israel pelos exércitos da Síria e do Egito em 1973 na Guerra do Yom Kipur, foi um grande desafio para o governo de Golda.
Israel consegue vencer mais esta guerra, no entanto com grande desgaste político para o governo.
Nesta época, os árabes percebem no petróleo uma forma de arma política: através da OPEP boicotam o fornecimento de petróleo para os países que apoiaram Israel na guerra, provocando pânico na economia mundial, naquele que veio a ser conhecida a 1a Crise do Petróleo. A crise que se sucedeu ao boicote gerou grande antipatia internacional contra Israel.
Golda Meir é reeleita após a guerra, no entanto devido à pressões de diversos setores e frente à crise econômica acaba renunciando em 1974.
Golda é sucedida por Yitzhak Rabin que retoma negociações com os árabes, especialmente com o Egito durante seu governo.
Rabin perde a eleição de 1977 para Menachem Begin.
O governo de Begin dá continuidade às negociações com o Egito iniciadas por Rabin e assina os primeiros acordos de paz entre israelenses e árabes em Camp David em 1978.
No entanto, o restante do mundo árabe repudia os Acordos de Camp David e expulsa o Egito da Liga Árabe.
Primeira Intifada
Após alguns anos de certa tranquilidade entre árabes e palestinos, em 1987 eclode uma revolta ("revolta das pedras") nos territórios árabes ocupados e em Jerusalém.
Israel reprime os rebeldes com violência e sofre condenação da opinião pública internacional e da ONU.
Acordos de paz de Oslo
No começo da década de 1990, após anos de luta armada, a OLP de Arafat e Israel se dispõem a negociar um caminho para a paz.
As conversações são intermediadas pelo governo da Noruega e Arafat e Rabin, novamente Primeiro-Ministro de Israel, se encontram em Oslo para negociar.
As negociações avançam bem: Israel aceita ceder terras para o estabelecimento de um Estado autônomo na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, em troca, a OLP reconheceria o direito de existência do Estado de Israel e renunciaria ao combate armado e o terrorismo contra Israel.
Este acordo deveria, em tese, abrir caminho para uma paz definitiva com os demais países árabes na região.
Em 1994, a Jordânia assina acordo de paz com Israel em Camp David.
Arafat, Rabin e Shimon Peres, então chanceler de Israel, recebem o Prêmio Nobel da Paz em 1994.
Em 1995 Israel e a OLP ratificam os Acordos de Oslo, aparentemente consolidando o caminho para uma paz definitiva.
Resistências aos Acordos de Oslo e o assassinato de Yitzhak Rabin
A OLP agora transformada em governo começa a receber ajuda financeira e inicia organização administrativa e criação de uma força militar.
No entanto, grupos terroristas como o Hamas, na Faixa de Gaza, e a Jihad Islâmica, na Cisjordânia, não aceitam a paz com Israel e ameaçam não interromper os ataques contra Israel.
Do outro lado, grupos de extrema direita e lideranças religiosas de Israel não concordam com as concessões de territórios aos árabes, nem o reconhecimento de um novo Estado Palestino.
Em 4 de novembro de 1995, Yitzhak Rabin é assassinado por um extremista judeu.
Netanyahu e Barak
Shimon Peres assume o lugar de Rabin, mas perde as eleições de 1996 para Benjamin Netanyahu.
Netanyahu e seu partido Likud demonstram maior ceticismo em relação aos acordos de paz com os árabes.
Os ataques terroristas do Hamas e da Jihad continuam contra Israel, reforçando a percepção negativa do governo e da população de Israel contra os palestinos.
O processo de paz recua e o governo israelense bloqueia os acessos aos territórios palestinos autônomos.
Em 1997, os EUA reconhecem Jerusalém como capital de Israel, gerando protestos no mundo árabe.
Israel passa por crises econômicas e protestos populares contra o governo do partido Likud de Netanyahu.
Em 1999 o trabalhista Ehud Barak vence as eleições. Com posição mais moderada e perfil semelhante ao de Yitzhak Rabin, Barak retoma as negociações com a OLP e com a Síria.
No entanto, em 2000, o líder do Likud, Ariel Sharon, faz uma visita ao Monte Sagrado do Templo Moriá em Jerusalém, área administrada pelos Palestinos, gerando indignação e protestos.
A visita de Sharon ao Templo faz eclodir a 2a Intifada, provocando grave crise institucional do governo de Ehud Barak, a paralisação das negociações de paz e o retorno da violência entre Israel e os Palestinos.
Ariel Sharon
Com a 2a Intifada e a escalada de violência, Ariel Sharon vence as eleições em 2001, com discurso belicista contra os palestinos.
Sharon é muito criticado pela opinião internacional, mas não retrocede e declara Arafat personalidade irrelevante.
As retaliações israelenses vitimam populações civis palestinas e alimenta a revolta dos demais países árabes.
Em 2006 Sharon é sucedido por Ehud Olmert como Primeiro Ministro.
Desde 2007, Israel jantem a Faixa de Gaza bloqueada, com objetivo de sufocar o governo do Hamas.
Em 2009, Sharon volta ao poder e é o atual Primeiro-Ministro de Israel.
A última crise recente entre Israel e os Palestinos, com os bombardeios da Faixa de Gaza e o uso desproporcional da força por Israel, matando milhares de civis palestinos, é mais um capítulo desta história de sangue que parece não estar perto de uma paz definitiva.
fontes: 1 Manual do Candidato (FUNAG) Política Internacional - 2012
2 Manual do Candidato (FUNAG) História Contemporânea - 3a Ed - 2012
3 A Era dos Extremos - Eric Hobsbawn
4 A Era dos Impérios - Eric Hobsbawn
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