sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Guerra do Paraguai

Batalha do Riachuelo - Oscar Pereira da Silva

No século XIX, as nações latino-americanas emancipadas após a crise do sistema colonial se lançaram ao desafio de estabelecer as soberanias políticas e econômicas de seus territórios. 

O Brasil viveu um caso especial de formação nacional, com o estabelecimento da monarquia em contraponto às repúblicas estabelecidas em toda a América espanhola. 

O governo brasileiro, bem como parte representativa da sociedade brasileira da época, percebia as repúblicas vizinhas como Estados desorganizados politicamente, liderados por "caudilhos" e em estágio de desenvolvimento político "inferior" à monarquia nacional - espelho de desenvolvimento europeu. 

Enquanto o Brasil aspirava ser o "Primeiro-mundo na América", espelhando o desenvolvimento das cortes européias, as demais jovens nações recém-independentes latino-americanas buscavam suas identidades nacionais rejeitando o modelo monárquico europeu.    

Estas novas repúblicas latino-americanas tinham motivos para manter posição de cautela e certo distanciamento em relação ao Brasil, tanto pela divergência de seus regimes políticos, quanto pelos processos de consolidação dos territórios nacionais e delimitação de fronteiras.

A América do Sul, desde o início de sua colonização pelos portugueses e espanhóis, foi palco de seguidas disputas pela soberania de territórios, disputas estas que se acirraram com as independências e o estabelecimento de Estados autônomos. 

A região do rio da Prata, na região sul do continente americano, foi cenário de recorrentes conflitos entre Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia, tanto pela delimitação de fronteiras quanto pela luta pela supremacia de poder na região. 

Estes conflitos foram fatores determinantes não somente para definição das fronteiras e o desenho dos atuais países envolvidos, mas também para forjar o destino e o desenvolvimento destes países. O Paraguai, por exemplo, sente até os dias de hoje os efeitos da derrota contra a tríplice aliança entre Brasil, Argentina e Uruguai - mesmo após quase 150 anos do fim da guerra. 

Guerras Platinas

As chamadas Guerras Platinas foram um conjunto de conflitos diplomáticos e militares que ocorreram no decorrer do século XIX entre os países do Prata e o Brasil. 

Os principais conflitos das Guerras Platinas foram:

1. Guerra da Cisplatina (1825 a 1828)
2. Guerra contra Oribe e Rosas (1851 a 1852)
3. Guerra contra Aguirre (1864 a 1865)
4. Guerra do Paraguai (1865 a 1870)

Em 1816, o príncipe regente D. João dá início ao processo de anexação da Banda Oriental do Prata, fixando a fronteira meridional do Brasil na margem esquerda do estuário do rio da Prata. 

Após a independência do Brasil, o governo de D. Pedro I tem que lutar para controlar rebeliões em diferentes regiões do país. Com o governo central enfraquecido, um grupo de revoltosos da Banda Oriental lutam pela independência da Província Cisplatina. 

A Guerra da Cisplatina dura de 1825 a 1828 e tem como consequência a criação do Estado independente do Uruguai. Esta derrota foi um dos principais fatores para a abdicação de D. Pedro I em 1831. 

Saiba mais sobre este conflito no artigo Guerra Cisplatina, aqui no Missão Diplomática. 

Os conflitos pela hegemonia regional se seguiram com as Guerras contra Oribe e Rosas e contra Aguirre, mas foi com a Guerra do Paraguai que a região sofreu o momento mais dramático e determinante, com a morte de dezenas de milhares de combatentes. 

Guerra do Paraguai  

Segundo alguns estudiosos, o processo de independência das nações latino-americanas não significou o fim da subserviência política e da dependência econômica. Sob outros moldes, esses países ainda estavam presos a instituições corruptas e à antiga economia agroexportadora. 

Contrariando essa tendência geral, durante o século XIX, o Paraguai implementou um conjunto de medidas que buscavam modernizar o país.

Nos governos de José Francia (1811-1840) e Carlos López (1840-1862) o analfabetismo foi erradicado do país e várias fábricas foram instaladas com o subsídio estatal. Além disso, melhorou o abastecimento alimentício com uma reforma agrária que reestruturou a produção agrícola paraguaia ao dar insumos e materiais para que os camponeses produzissem. 

Esse conjunto de medidas melhorou a condição de vida da população e fez surgir uma indústria autônoma e competitiva.

Em 1862, Solano López chegou ao poder com o objetivo de dar continuidade às conquistas dos governos anteriores. Nessa época, um dos grandes problemas da economia paraguaia se encontrava na ausência de saídas marítimas que escoassem a sua produção industrial. 

Os produtos paraguaios tinham que atravessar a região da Bacia do Prata, que abrangia possessões territoriais do Brasil, Uruguai e Argentina.

Segundo alguns historiadores, essa travessia pela Bacia do Prata era responsável, vez ou outra, pela deflagração de inconvenientes diplomáticos entre os países envolvidos. 

Visando melhorar o desempenho de sua economia, Solano pretendia organizar um projeto de expansão territorial que lhe oferecesse uma saída para o mar. Dessa maneira, o governo paraguaio se voltou à produção de armamentos e a ampliação dos exércitos que seriam posteriormente usados em uma batalha expansionista.

No entanto, outra corrente historiográfica atribuiu o início da guerra aos interesses econômicos que a Inglaterra tinha na região. 

De acordo com essa perspectiva, o governo britânico pressionou o Brasil e a Argentina a declararem guerra ao Paraguai alegando que teriam vantagens econômicas e empréstimos ingleses caso impedissem a ascensão da economia paraguaia. Com isso, a Inglaterra procurava impedir o aparecimento de um concorrente comercial autônomo que servisse de modelo às demais nações latino-americanas.

Sob esse clima de tensão, a Argentina tentava dar apoio à consolidação de um novo governo no Uruguai favorável ao ressurgimento do antigo Vice Reinado da Prata, que englobava as regiões da Argentina, do Paraguai e Uruguai. 

Em contrapartida, o Brasil era contra essa tendência, defendendo a livre navegação do Rio da Prata. Temendo esse outro projeto expansionista, posteriormente defendido por Solano López, o governo de Dom Pedro II decidiu interceder na política uruguaia.

Após invadir o Uruguai, retaliando os políticos uruguaios expansionistas, o governo brasileiro passou a ser hostilizado por Solano, que aprisionou o navio brasileiro Marquês de Olinda. Com esse episódio, o Brasil decidiu declarar guerra ao Paraguai. 

A Inglaterra, favorável ao conflito, concedeu empréstimos e defendeu a entrada da Argentina e do Uruguai na guerra.

Em 1865, Uruguai, Brasil e Argentina formaram a Tríplice Aliança com o objetivo de aniquilar as tropas paraguaias. Inicialmente, os exércitos paraguaios obtiveram algumas vitórias que foram anuladas pela superioridade do contingente militar e o patrocínio inglês da Tríplice Aliança.

Mesmo assim, as boas condições estruturais e o alto grau de organização dos exércitos paraguaios fizeram com que a guerra se arrastasse por cinco anos. Somente na série de batalhas acontecidas entre 1868 e 1869, que os exércitos da Tríplice Aliança garantiram a rendição paraguaia.

O saldo final da guerra foi desastroso. 

O Paraguai teve cerca de 80% de sua população de jovens adultos morta. O país sofreu uma enorme recessão econômica que empobreceu o Paraguai durante muito tempo. Com o final da guerra, o Brasil conservou suas posses na região do Prata.

Em contrapartida, o governo imperial contraiu um elevado montante de dívidas com a Inglaterra e fez do Exército uma instituição interessada em interferir nas questões políticas nacionais. 

A maior beneficiada com o conflito foi a Inglaterra, que barrou o aparecimento de uma concorrente comercial e lucrou com os juros dos empréstimos contraídos.

fontes: 1 História do Brasil - Bóris Fausto 
            Manual do Candidato (FUNAG) História do Brasil - 2013
            3 Brasil Escola

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