Batalha do Riachuelo - Oscar Pereira da Silva |
No século XIX, as nações latino-americanas emancipadas após a crise do sistema colonial se lançaram ao desafio de estabelecer as soberanias políticas e econômicas de seus territórios.
O Brasil viveu um caso especial de formação nacional, com o estabelecimento da monarquia em contraponto às repúblicas estabelecidas em toda a América espanhola.
O governo brasileiro, bem como parte representativa da sociedade brasileira da época, percebia as repúblicas vizinhas como Estados desorganizados politicamente, liderados por "caudilhos" e em estágio de desenvolvimento político "inferior" à monarquia nacional - espelho de desenvolvimento europeu.
Enquanto o Brasil aspirava ser o "Primeiro-mundo na América", espelhando o desenvolvimento das cortes européias, as demais jovens nações recém-independentes latino-americanas buscavam suas identidades nacionais rejeitando o modelo monárquico europeu.
Estas novas repúblicas latino-americanas tinham motivos para manter posição de cautela e certo distanciamento em relação ao Brasil, tanto pela divergência de seus regimes políticos, quanto pelos processos de consolidação dos territórios nacionais e delimitação de fronteiras.
A América do Sul, desde o início de sua colonização pelos portugueses e espanhóis, foi palco de seguidas disputas pela soberania de territórios, disputas estas que se acirraram com as independências e o estabelecimento de Estados autônomos.
A região do rio da Prata, na região sul do continente americano, foi cenário de recorrentes conflitos entre Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia, tanto pela delimitação de fronteiras quanto pela luta pela supremacia de poder na região.
Estes conflitos foram fatores determinantes não somente para definição das fronteiras e o desenho dos atuais países envolvidos, mas também para forjar o destino e o desenvolvimento destes países. O Paraguai, por exemplo, sente até os dias de hoje os efeitos da derrota contra a tríplice aliança entre Brasil, Argentina e Uruguai - mesmo após quase 150 anos do fim da guerra.
Guerras Platinas
As chamadas Guerras Platinas foram um conjunto de conflitos diplomáticos e militares que ocorreram no decorrer do século XIX entre os países do Prata e o Brasil.
Os principais conflitos das Guerras Platinas foram:
1. Guerra da Cisplatina (1825 a 1828)
2. Guerra contra Oribe e Rosas (1851 a 1852)
3. Guerra contra Aguirre (1864 a 1865)
4. Guerra do Paraguai (1865 a 1870)
Em 1816, o príncipe regente D. João dá início ao processo de anexação da Banda Oriental do Prata, fixando a fronteira meridional do Brasil na margem esquerda do estuário do rio da Prata.
Após a independência do Brasil, o governo de D. Pedro I tem que lutar para controlar rebeliões em diferentes regiões do país. Com o governo central enfraquecido, um grupo de revoltosos da Banda Oriental lutam pela independência da Província Cisplatina.
A Guerra da Cisplatina dura de 1825 a 1828 e tem como consequência a criação do Estado independente do Uruguai. Esta derrota foi um dos principais fatores para a abdicação de D. Pedro I em 1831.
Saiba mais sobre este conflito no artigo Guerra Cisplatina, aqui no Missão Diplomática.
Os conflitos pela hegemonia regional se seguiram com as Guerras contra Oribe e Rosas e contra Aguirre, mas foi com a Guerra do Paraguai que a região sofreu o momento mais dramático e determinante, com a morte de dezenas de milhares de combatentes.
Guerra do Paraguai
Segundo alguns estudiosos, o processo de independência das nações latino-americanas não significou o fim da subserviência política e da dependência econômica. Sob outros moldes, esses países ainda estavam presos a instituições corruptas e à antiga economia agroexportadora.
Contrariando essa tendência geral, durante o século XIX, o Paraguai implementou um conjunto de medidas que buscavam modernizar o país.
Nos governos de José Francia (1811-1840) e Carlos López (1840-1862) o analfabetismo foi erradicado do país e várias fábricas foram instaladas com o subsídio estatal. Além disso, melhorou o abastecimento alimentício com uma reforma agrária que reestruturou a produção agrícola paraguaia ao dar insumos e materiais para que os camponeses produzissem.
Nos governos de José Francia (1811-1840) e Carlos López (1840-1862) o analfabetismo foi erradicado do país e várias fábricas foram instaladas com o subsídio estatal. Além disso, melhorou o abastecimento alimentício com uma reforma agrária que reestruturou a produção agrícola paraguaia ao dar insumos e materiais para que os camponeses produzissem.
Esse conjunto de medidas melhorou a condição de vida da população e fez surgir uma indústria autônoma e competitiva.
Em 1862, Solano López chegou ao poder com o objetivo de dar continuidade às conquistas dos governos anteriores. Nessa época, um dos grandes problemas da economia paraguaia se encontrava na ausência de saídas marítimas que escoassem a sua produção industrial.
Em 1862, Solano López chegou ao poder com o objetivo de dar continuidade às conquistas dos governos anteriores. Nessa época, um dos grandes problemas da economia paraguaia se encontrava na ausência de saídas marítimas que escoassem a sua produção industrial.
Os produtos paraguaios tinham que atravessar a região da Bacia do Prata, que abrangia possessões territoriais do Brasil, Uruguai e Argentina.
Segundo alguns historiadores, essa travessia pela Bacia do Prata era responsável, vez ou outra, pela deflagração de inconvenientes diplomáticos entre os países envolvidos.
Segundo alguns historiadores, essa travessia pela Bacia do Prata era responsável, vez ou outra, pela deflagração de inconvenientes diplomáticos entre os países envolvidos.
Visando melhorar o desempenho de sua economia, Solano pretendia organizar um projeto de expansão territorial que lhe oferecesse uma saída para o mar. Dessa maneira, o governo paraguaio se voltou à produção de armamentos e a ampliação dos exércitos que seriam posteriormente usados em uma batalha expansionista.
No entanto, outra corrente historiográfica atribuiu o início da guerra aos interesses econômicos que a Inglaterra tinha na região.
No entanto, outra corrente historiográfica atribuiu o início da guerra aos interesses econômicos que a Inglaterra tinha na região.
De acordo com essa perspectiva, o governo britânico pressionou o Brasil e a Argentina a declararem guerra ao Paraguai alegando que teriam vantagens econômicas e empréstimos ingleses caso impedissem a ascensão da economia paraguaia. Com isso, a Inglaterra procurava impedir o aparecimento de um concorrente comercial autônomo que servisse de modelo às demais nações latino-americanas.
Sob esse clima de tensão, a Argentina tentava dar apoio à consolidação de um novo governo no Uruguai favorável ao ressurgimento do antigo Vice Reinado da Prata, que englobava as regiões da Argentina, do Paraguai e Uruguai.
Sob esse clima de tensão, a Argentina tentava dar apoio à consolidação de um novo governo no Uruguai favorável ao ressurgimento do antigo Vice Reinado da Prata, que englobava as regiões da Argentina, do Paraguai e Uruguai.
Em contrapartida, o Brasil era contra essa tendência, defendendo a livre navegação do Rio da Prata. Temendo esse outro projeto expansionista, posteriormente defendido por Solano López, o governo de Dom Pedro II decidiu interceder na política uruguaia.
Após invadir o Uruguai, retaliando os políticos uruguaios expansionistas, o governo brasileiro passou a ser hostilizado por Solano, que aprisionou o navio brasileiro Marquês de Olinda. Com esse episódio, o Brasil decidiu declarar guerra ao Paraguai.
Após invadir o Uruguai, retaliando os políticos uruguaios expansionistas, o governo brasileiro passou a ser hostilizado por Solano, que aprisionou o navio brasileiro Marquês de Olinda. Com esse episódio, o Brasil decidiu declarar guerra ao Paraguai.
A Inglaterra, favorável ao conflito, concedeu empréstimos e defendeu a entrada da Argentina e do Uruguai na guerra.
Em 1865, Uruguai, Brasil e Argentina formaram a Tríplice Aliança com o objetivo de aniquilar as tropas paraguaias. Inicialmente, os exércitos paraguaios obtiveram algumas vitórias que foram anuladas pela superioridade do contingente militar e o patrocínio inglês da Tríplice Aliança.
Mesmo assim, as boas condições estruturais e o alto grau de organização dos exércitos paraguaios fizeram com que a guerra se arrastasse por cinco anos. Somente na série de batalhas acontecidas entre 1868 e 1869, que os exércitos da Tríplice Aliança garantiram a rendição paraguaia.
O saldo final da guerra foi desastroso.
Em 1865, Uruguai, Brasil e Argentina formaram a Tríplice Aliança com o objetivo de aniquilar as tropas paraguaias. Inicialmente, os exércitos paraguaios obtiveram algumas vitórias que foram anuladas pela superioridade do contingente militar e o patrocínio inglês da Tríplice Aliança.
Mesmo assim, as boas condições estruturais e o alto grau de organização dos exércitos paraguaios fizeram com que a guerra se arrastasse por cinco anos. Somente na série de batalhas acontecidas entre 1868 e 1869, que os exércitos da Tríplice Aliança garantiram a rendição paraguaia.
O saldo final da guerra foi desastroso.
O Paraguai teve cerca de 80% de sua população de jovens adultos morta. O país sofreu uma enorme recessão econômica que empobreceu o Paraguai durante muito tempo. Com o final da guerra, o Brasil conservou suas posses na região do Prata.
Em contrapartida, o governo imperial contraiu um elevado montante de dívidas com a Inglaterra e fez do Exército uma instituição interessada em interferir nas questões políticas nacionais.
Em contrapartida, o governo imperial contraiu um elevado montante de dívidas com a Inglaterra e fez do Exército uma instituição interessada em interferir nas questões políticas nacionais.
A maior beneficiada com o conflito foi a Inglaterra, que barrou o aparecimento de uma concorrente comercial e lucrou com os juros dos empréstimos contraídos.
fontes: 1 História do Brasil - Bóris Fausto
2 Manual do Candidato (FUNAG) História do Brasil - 2013
2 Manual do Candidato (FUNAG) História do Brasil - 2013
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