quinta-feira, 19 de maio de 2016

José Serra no MRE: Como fica o Itamaraty ?






































Como fica o Itamaraty com José Serra ministro das Relações Exteriores ?
José Serra terá um Itamaraty turbinado pela Apex, mas com pouco tempo e recursos para grandes mudanças

Época
13 maio 2016


Quem espera uma guinada liberal na política externa brasileira, ou mudanças profundas nos temas mais espinhosos no Ministério das Relações Exteriores, pode ter uma decepção com a chegada de José Serra ao Itamaraty. Certamente a saída de Dilma Rousseff e dos petistas da Presidência da República vai significar o sepultamento da diplomacia condescendente com os governos de esquerda da região. 
Também significará uma tentativa de dar mais enfoque ao comércio exterior do que na gestão de Dilma. Mas o tempo curto, a falta de apoio popular ao governo Michel Temer e a falta de recursos em função da crise econômica serão entraves grandes para o novo ministro.
"Haverá mudanças profundas onde fazer a mudança for fácil", afirma Matias Spektor, coordenador do Centro de Relações Internacionais da Fundação Getulio Vargas. "Em relação à Venezuela, a mudança de tom será dramática, será o fim rápido de qualquer tendência pró-bolivariana por parte do governo brasileiro. Isso é fácil de mudar porque o regime venezuelano está implodindo sozinho. Mas em áreas onde há muitos interesses brasileiros em jogo, como o Mercosul, será difícil ver uma guinada radical. Porque apesar de o Serra ser crítico do Mercosul, o Temer não chega ao governo com um mandato popular para fazer grandes guinadas. Temer vai evitar, na medida do possível, comprar grandes brigas".
Além disso, há uma importante questão no caminho de Serra: o tempo. 
"Em relação ao comércio, existe uma predisposição maior, mas há muita dúvida em relação a quanto se pode conseguir em um período muito curto. A partir de abril de 2018, não vai ter mais um governo que consiga fazer grandes coisas, porque todo mundo estará olhando para a eleição", afirma Oliver Stunkel, professor de relações internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV). "Acordos comerciais não são coisas rápidas, elas levam tempo. Estamos há mais de uma década negociando o acordo com a União Europeia. O que nós vamos ver nos próximos dias são símbolos, são atos simbólicos para demonstrar que o Brasil procura melhorar sua avaliação ruim, no ranking do Banco Mundial. É pouco provável que vamos ver uma guinada liberal radical na política externa, porque isso são coisas que requerem um tempo. Tanto que uma liberalização gera sempre resistência interna".
Mesmo com a o contingenciamento de recursos Serra vai assumir um Ministério das Relações Exteriores turbinado com a Apex, a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos. A Apex tem orçamento de R$ 590 milhões e grande parte desses recursos não são contingenciáveis, já que vêm do sistema S. O Sistema S, que inclui Senai, Sesi, Sebrae, é financiado com recolhimentos compulsórios das empresas. 
Os recursos trarão alívio ao Itamaraty, que passou por sucessivos cortes e hoje tem orçamento de R$ 2,98 bilhões. Serra também pode coordenar a Câmara de Comércio Exterior (Camex). Temer quer ter a Camex sob sua saia. Hoje em dia ela é presidida pelo ministro do Desenvolvimento e tem no conselho outros seis ministros. Na reformulação, a Camex passaria a ter o presidente da República como presidente e teria uma secretaria executiva. Serra também é cotado para ser nomeado secretario executivo da Camex.
O objetivo é fazer a Camex se transformar no principal órgão formulador de política comercial do país. Serra pretende incrementar as rodadas de negócios, feiras internacionais e uma atuação mais ousada junto aos potenciais compradores de produtos e serviços brasileiros. 
"Não é apenas uma questão de nomenclatura, isso vai mudar muita coisa", afirma Rubens Barbosa, que foi embaixador do Brasil nos Estados Unidos entre 1999 e 2004. "Vai acabar com a influencia ideológica, a política partidária que dominou o Itamaraty nesses 13 anos, e vai ajudar na abertura de negociações com outros parceiros além dos bolivarianos regionais, vai retirar o foco do isolamento e fazer o Brasil ter voz mais forte no comércio exterior".
Para alguns analistas, colocar Serra no Ministério das Relações Exteriores foi uma manobra de mestre de Michel Temer, similar à feita por Barack Obama em 2009, quando colocou Hillary Clinton como Secretaria de Estado dos EUA (cargo que ela ocupou até 2013). A manobra de Obama visava agradar Hillary com um cargo imponente, para não tê-la como inimiga política, ao mesmo tempo em que a mantinha distante do cotidiano do governo, sem interferência nas políticas de Obama para os EUA. 
"Como Serra ainda tem pretensões políticas evidentes, e vai querer influenciar o resultado da campanha, fará o melhor trabalho possível a frente do Itamaraty", afirma Matias Spektor. "O chanceler passa muito tempo fora do país. Como o Serra é um ministro que ocupa muito espaço, aparece muito, era melhor tê-lo dentro da tenda cuspindo pra fora, do que fora da tenda cuspindo pra dentro".
Entre diplomatas de carreira, há um clima de entusiasmo com a indicação de um nome representativo para a pasta. Há avaliação de que haverá mais trânsito político junto ao Planalto e que o Itamaraty deixará de ser deixado de escanteio - uma fonte disse que o Itamaraty “estava entregue às baratas” e que agora é possível um certo “resgate de autoestima” entre os diplomatas e da tradição do debate de políticas a serem encampadas dentro da pasta. 
Uma mudança significativa depois dos anos Dilma Rousseff, em que a política externa foi esvaziada e o Itamaraty acabou destituído de prerrogativas e recursos.

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