Guia do Calango Lumbrera - Turma CACD 2014
Prova 2014 PORTUGUÊS
PARTE II – EXERCÍCIO 1
Recife, 1923.
O que sinto é que sou repelido pelo Brasil a que acabo de regressar homem, depois de o ter deixado menino, como se me tivesse tornado um corpo estranho ao mesmo Brasil. É incrível o número de artigos e artiguetes aparecidos nestes poucos meses contra mim; e a insistência de quase todos eles é neste ponto: a de ser eu um estranho, um exótico, um meteco, um desajustado, um estrangeirado.
Sendo estrangeiro— argumentam eles — é natural que não me sinta mais à vontade no Brasil, se não sei admirar Rui Barbosa na sua plenitude, se não me ponho em harmonia com o progresso brasileiro nas suas expressões mais modernas, antes desejo voltar aos dias coloniais — uma mentira — se isto, se mais aquilo, por que não volto aos lugares ideais onde me encontrava, deixando o Brasil aos brasileiros que não o abandonaram nunca por tais lugares? Este parece ser o sentido dominante nos artiguetes que vêm aparecendo contra mim.
A verdade é que eu me sinto identificado com o que o Brasil tem de mais brasileiro. Esses supostos defensores do Brasil contra um nacional que dizem degenerado ou deformado pelo muito contato com universidades estrangeiras me parecem excrescências.
Gilberto Freyre. Tempo morto & outros tempos. Rio de Janeiro: José Olympio, 1975, p. 128 (com adaptações).
Considerando que o fragmento de texto acima tem caráter unicamente motivador, discuta a importância da manutenção da consciência sobre a nacionalidade em contraste com a absorção de influências estrangeiras.
"Edward Said, em Cultura e imperialismo, afirma que as culturas e as nacionalidades formadas sob dominação estrangeira apresentam dificuldades no desenvolvimento de linguagem própria. No Brasil, por exemplo, o desejo de criar nacionalidade original, sem influência estrangeira, é uma constante perceptível desde o Romantismo.
A expressão da nacionalidade pareceu, no entanto, ser restringida pela existência de cânones estrangeiros, os quais, paradoxalmente, se tornaram referências de validade da cultura autóctone.
Recife, 1923.
O que sinto é que sou repelido pelo Brasil a que acabo de regressar homem, depois de o ter deixado menino, como se me tivesse tornado um corpo estranho ao mesmo Brasil. É incrível o número de artigos e artiguetes aparecidos nestes poucos meses contra mim; e a insistência de quase todos eles é neste ponto: a de ser eu um estranho, um exótico, um meteco, um desajustado, um estrangeirado.
Sendo estrangeiro— argumentam eles — é natural que não me sinta mais à vontade no Brasil, se não sei admirar Rui Barbosa na sua plenitude, se não me ponho em harmonia com o progresso brasileiro nas suas expressões mais modernas, antes desejo voltar aos dias coloniais — uma mentira — se isto, se mais aquilo, por que não volto aos lugares ideais onde me encontrava, deixando o Brasil aos brasileiros que não o abandonaram nunca por tais lugares? Este parece ser o sentido dominante nos artiguetes que vêm aparecendo contra mim.
A verdade é que eu me sinto identificado com o que o Brasil tem de mais brasileiro. Esses supostos defensores do Brasil contra um nacional que dizem degenerado ou deformado pelo muito contato com universidades estrangeiras me parecem excrescências.
Gilberto Freyre. Tempo morto & outros tempos. Rio de Janeiro: José Olympio, 1975, p. 128 (com adaptações).
Considerando que o fragmento de texto acima tem caráter unicamente motivador, discuta a importância da manutenção da consciência sobre a nacionalidade em contraste com a absorção de influências estrangeiras.
"Edward Said, em Cultura e imperialismo, afirma que as culturas e as nacionalidades formadas sob dominação estrangeira apresentam dificuldades no desenvolvimento de linguagem própria. No Brasil, por exemplo, o desejo de criar nacionalidade original, sem influência estrangeira, é uma constante perceptível desde o Romantismo.
A expressão da nacionalidade pareceu, no entanto, ser restringida pela existência de cânones estrangeiros, os quais, paradoxalmente, se tornaram referências de validade da cultura autóctone.
A revolução culturalista promovida pelo Modernismo transformou a
maneira de entender a nacionalidade e a influência estrangeira. O hibridismo
não era o que impedia o acesso do Brasil à modernidade, mas o que
viabilizava uma inserção diferenciada no mundo.
A integração de diferentes culturas ocorreria de forma antropofágica, como qualificado por Mário de Andrade, o que conferiria expressão singular da nacionalidade.
Esse processo, permanente e dinâmico, relativiza o antagonismo entre o nacional e o estrangeiro."
NOTA: 17,64/20
Avaliação:
Apresentação 0,88
Argumentação 3,38
Análise 3,38
Gramática 10,00
FONTE: Guia Calango Lumbrera - Turma IRB 2014
A integração de diferentes culturas ocorreria de forma antropofágica, como qualificado por Mário de Andrade, o que conferiria expressão singular da nacionalidade.
Esse processo, permanente e dinâmico, relativiza o antagonismo entre o nacional e o estrangeiro."
NOTA: 17,64/20
Apresentação 0,88
Argumentação 3,38
Análise 3,38
Gramática 10,00
FONTE: Guia Calango Lumbrera - Turma IRB 2014
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