domingo, 21 de dezembro de 2014

[ Discursivas CACD ] Economia 2013: Crise de 2008 e a "Currency War"



Guia de Estudos CACD 2014


Prova de 2013 

Economia - Questão 2


Em reação à crise financeira iniciada em 2008, muitos países, desenvolvidos e em desenvolvimento, lançaram mão de vigorosos planos de contenção da queda da demanda agregada e do aumento do desemprego e de proteção dos seus mercados. 

Um dos instrumentos anticíclicos mais utilizados pelos países emissores de moedas de curso internacional durante a crise foi a expansão monetária.


A partir dessas considerações, responda, de forma fundamentada, os questionamentos seguintes.

a. Do que se trata o termo "currency war", que emergiu em foros internacionais durante a crise financeira?

b. Por que países em desenvolvimento estariam especiaknente expostos à suposta "currency war"?

c. Quais são as relações entre "currency war" e comércio internacional? Que países tendem a se beneficiar e que países tendem a se prejudicar e por quê? 


FELIPE NEVES CAETANO RIBEIRO  

"O termo “currency wars”, estabelecido por Guido Mantega no contexto das respostas anticíclicas à crise dos “subprimes” e a seus efeitos, refere-se a políticas monetárias expansionistas praticadas sobretudo por países desenvolvidos, a fim de conferir competitividade a suas exportações. 

Essas medidas afetam, de forma mais drástica, economias emergentes, devido à competividade menor de suas indústrias, cujos produtos se tornam mais caros com a valorização da moeda nacional. 

O comércio multilateral é afetado, porquanto se distorcem os níveis regulares de exportações e de importações dos países, aumentando a recorrência do protecionismo convencional e não convencional, em desfavor dos países em desenvolvimento e de economias emergentes.

A expressão “currency wars” trata das desvalorizações competitivas realizadas principalmente por países desenvolvidos na esteira da crise de 2008, com a finalidade de estimular suas exportações. Essas desvalorizações decorrem de políticas monetárias expansionistas, exemplificadas pelo “quantitative easing” norte-americano, que, ao aumentar a oferta de moeda (Om↑) reduzem, por conseguinte, seu preço. 

Esse excesso de liquidez migra para outros países, também afetados pela crise econômica, acarretando a valorização de suas moedas, dado o excesso de liquidez internacional. 

Em resposta, países atingidos pela crise e pela pressão de valorização de suas moedas reagem por intermédio de novas desvalorizações competitivas, gerando “tsunamis monetários” e uma guerra cambial visando a conferir competividade às suas exportações.

Ocorre que os países em desenvolvimento, conforme ressaltado pelas delegações brasileiras no G20 financeiro e na OMC, são os maiores afetados pela guerra cambial. 

Esses países de economia emergente estão mais expostos, porque, não raro, mantêm taxas de juros elevadas, a fim de compensar eventuais inseguranças associadas a suas economias. Essa situação atrai o excesso de liquidez internacional, acarretando uma valorização da moeda nacional e o encarecimento de seus produtos. Além disso, deve-se ressaltar que a indústria dos países em desenvolvimento costuma ser menos competitiva. 

Nesse cenário, uma valorização da moeda nacional e uma desvalorização do câmbio, entendido como o preço do dólar, resultam em uma perda ainda maior de competividade, a qual se refle no comércio internacional em benefício dos países que praticam desvalorizações competitivas.


A guerra cambial relaciona-se com o comércio internacional por meio das taxas de câmbio e do protecionismo resultante. Ao promover distorções nos termos de troca, desvalorizando algumas moedas e valorizando outras, a guerra cambial desequilibra o comércio, porquanto os produtos dos países que praticam política monetária expansionista (desvalorizando sua moeda) tornam-se comparativamente mais baratos. 

Simultaneamente, os países que recebem o excesso de liquidez ou que não intervêm no mercado cambial perdem competividade e vendem produtos comparativamente mais caros (devido à valorização de sua moeda). Esse cenário induz ao aumento do protecionismo, contrariando os objetivos da Organização Mundial do Comércio, que visa à liberalização comercial e ao desenvolvimento equilibrado.

O protecionismo, nesse aspecto, pode manifestar-se tanto por meio da desvalorização competitiva, que torna inócuas tarifas consolidadas por países em desenvolvimento, quanto por intermédio da elevação tarifária, visando a minimizar importações e a perda de competividade. 

No cenário da guerra cambial, beneficiam-se predominantemente países desenvolvidos, em detrimento das economias emergentes. A maior competividade dos primeiros é intensificada, ao passo que se reduz a competividade dos últimos, sobretudo quanto a bens industriais, cuja produção intensiva em capital é, tradicionalmente, mais competitiva em países desenvolvidos.

A guerra cambial consiste em desvalorizações competitivas das moedas nacionais, visando a estimular exportações. Nesse cenário, países em desenvolvimento e economias emergentes encontram-se mais expostos, pois se caracterizam por juros elevados (o que atrai liquidez) e por menor competividade industrial. 

A guerra cambial distorce os termos de trocas comerciais em desfavor dos emergentes, razão pela qual o Brasil defende um debate multilateral aprofundado acerca dessa tema."

fonte: Guia de Estudos IRB para o CACD 2014 

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