sábado, 10 de janeiro de 2015

Desafios de Mauro Vieira: cortes no orçamento do Itamaraty e a Diplomacia de Resultados


O corte no orçamento do Itamaraty é "passageiro". É com essa confiança que o novo chanceler brasileiro, Mauro Vieira, assume o cargo, indicando que a falta de recursos não deve ser justificativa para uma diplomacia menos ativa.

A diminuição da fatia do Itamaraty no Orçamento foi um sinal palpável de sua perda de influência no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff. De 2003 a 2013, sua cota nos gastos federais caiu pela metade em termos proporcionais, de 0,5% do PIB para 0,28%.

Vieira, que foi embaixador em dois dos mais importantes postos para o Brasil –Argentina e EUA–, mal teve tempo de começar sua mudança de Washington, onde estava desde 2010, para Brasília. Poucos dias após tomar posse, no dia 2, embarcou para Pequim para participar do primeiro Foro Celac-China.

A falta de recursos encolheu a participação do Brasil em foros internacionais e causou atraso no pagamentos de auxílio-moradia para funcionários no exterior e do aluguel de imóveis. O chanceler, porém, não se alarma.

"Acho que todos os ministérios tiveram dificuldades, mas é passageiro. Ninguém pode admitir que haja reduções ou cortes constantes, perenes. São momentos em que houve necessidade de se adaptar, mas tenho certeza de que voltaremos aos níveis anteriores" disse Vieira à Folha.

O clima de insatisfação entre os diplomatas também não parece preocupar Vieira. "Estou no exterior há 11 anos e tenho contato com um número muito grande de diplomatas jovens. Vejo em todos um grande entusiasmo."

A viagem de Vieira, poucos dias depois de assumir o ministério, é apontada pela diplomacia brasileira como um sinal da importância dada não apenas à relação "prioritária" com a China, mas à nova associação entre Pequim e os 33 países da Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos).

Foro Celac-China

Após dois dias de reuniões, o Foro Celac-China divulgou três documentos: a Declaração de Pequim, que estabelece as bases da associação, um mapa operacional e um Plano de Cooperação (2015-2019).

O plano aponta para múltiplas áreas de coordenação, de mudanças climáticas e segurança na internet à reforma da governança global.

Em relação à parceria econômica, a China estabeleceu a meta de dobrar o comércio com a América Latina para US$ 500 bilhões em dez anos. Para o investimento direto, a ambição é ainda maior: atingir US$ 250 bilhões em uma década –atualmente está em US$ 10 bilhões anuais.

Com oito páginas, o plano tinha 24 na versão original proposta pelos chineses, segundo a Folha apurou. Ele foi enxugado para dar tempo aos diplomatas latino-americanos de revisarem.

O documento manteve várias iniciativas de integração que mostram que a pretensão da China não é só ganhar contratos lucrativos e saciar sua necessidade de matérias-primas, mas ampliar sua influência. Um exemplo é a promoção do ensino do mandarim em países latino-americanos por meio do Instituto Confucio, e a concessão de 6.000 bolsas de estudo e 6.000 vagas de estágio.

Além disso, a China quer trazer mil políticos da região para visitar o país nos próximos cinco anos e mil "jovens líderes" para conhecerem o treinamento dos quadros do Partido Comunista.

Maior parceira comercial do Brasil, a China comprou 18% das exportações brasileiras em 2014. O comércio bilateral caiu 6% em relação a 2013, em meio à queda na demanda chinesa e ao declínio dos preços de commodities.

Em seu discurso de posse, Mauro Vieira prometeu uma "diplomacia de resultados". Segundo o chanceler, a máxima se aplica a comércio e a questões geopolíticas. 

Ele terá o desafio de vitaminar o comércio exterior num momento em que a balança brasileira registrou o primeiro déficit comercial desde 2000.

fonte: Folha de SP

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