domingo, 14 de maio de 2017

Morre Antonio Cândido aos 98 anos

























São Paulo 
12 de Maio 2017

O crítico literário e sociólogo Antonio Cândido morreu em São Paulo na madrugada desta sexta-feira (12) aos 98 anos.

Pioneiro da crítica literária brasileira

Antonio Cândido foi um dos mais importantes críticos literários brasileiros. Ele nasceu no Rio de Janeiro em 24 de julho de 1918, filho do médico Aristides Cândido de Mello e Souza e Clarisse Tolentino de Mello e Souza. 

Na infância, não estudou em escolas e foi educado em casa tendo a mãe como professora. Ainda criança, ele se mudou para Poços de Caldas (MG) e depois para São João da Boa Vista, no interior de São Paulo. Cândido também viveu na França entre 10 e 12 anos.

Em 1937, iniciou os cursos de Direito e de Ciências Sociais na Universidade de São Paulo (USP). Quatro anos depois se formou em Ciências Sociais. 

Iniciou a carreira como crítico literário nos anos 40, tendo escrito para jornais como "Folha da Manhã", "Diário de São Paulo" e "O Estado de São Paulo". 

Tornou-se livre-docente de literatura brasileira em 1945 e doutor em Ciências em 1954. Em 1974 passou a ser professor titular de teoria literária e literatura comparada da USP, cargo em que se aposentou em 1978. 

Obras mais importantes

De suas obras de crítica literária, a mais importante é "Formação da Literatura Brasileira", de 1959, sobre os momentos decisivos da formação do sistema literário brasileiro. 

Também foi importante graças a seus estudos sociológicos. Analisou o "caipira paulista e sua transformação" em "Os parceiros do Rio Bonito" (1964). 

Ao lado de outros intelectuais brasileiros, entre eles Sérgio Buarque de Holanda (1902/1982), Antonio fez parte da criação do Partido dos Trabalhadores (PT), em 1980. 

Prêmios

Em 1998, recebeu o Prêmio Camões, concedido pelos governos do Brasil e de Portugal, em Lisboa. 

Em 2005, ganhou o Prêmio Internacional Alfonso Reyes, no México.  

Cândido ganhou também quatro vezes o Prêmio Jabuti, o mais importante no Brasil. Venceu por "Formação da Literatura Brasileira" (1960), "Os parceiros do Bonito" (1965), "Brigada ligeira e outros escritos" (1993), e a estatueta de personalidade do em 1966.

Antonio cândido também foi professor-emérito da USP e da UNESP e doutor honoris causa da Unicamp, de Campinas (SP), além de professor honorário de Estudos Avançados da USP. 

Livros fundamentais para entender o Brasil

Em 2000, Antonio Cândido publicou na revista "Teoria e Debate" uma lista com os 11 livros que ele considerava fundamentais para quem deseja conhecer o Brasil. 

Mesmo reconhecendo que a tarefa era um pouco ingrata e que deixaria muita coisa boa de fora, ele se propôs a apontar aqueles que, na sua opinião, abordariam aspectos fundamentais sobre o Brasil para que desejasse "adquirir boa informação a fim de poder fazer reflexões pertinentes, mas sabendo que se trata de uma amostra'.

Eis os livros:

1. "O Povo Brasileiro" de Darcy Ribeiro -  "livro trepidante, cheio de ideias originais, que esclarece num estilo movimentado e atraente o objetivo expresso no subtítulo". 

2. "Raízes do Brasil" de Sérgio Buarque de Holanda - "análise inspirada e profunda do que se poderia chamar a natureza do brasileiro e da sociedade brasileira a partir da herança portuguesa, indo desde o traçado das cidades e a atitude em face do trabalho até a organização política e o mode de ser."

3. "História dos Índios do Brasil" organizada por Manuela Carneiro da Cunha -  “redigida por numerosos especialistas, que nos iniciam no passado remoto por meio da arqueologia, discriminam os grupos linguísticos, mostram o índio ao longo da sua história e em nossos dias, resultando uma introdução sólida e abrangente". 

4. " Ser escravo no Brasil" de Kátia de Queirós Mattoso - uma excelente visão geral desprovida de aparato erudito, que começa pela raiz africana, passa à escravização e ao tráfico para terminar pelas reações do escravo, desde as tentativas de alforria até a fuga e a rebelião”.

5. "Casa Grande e Senzala" de Gilberto Freyre - “Verdadeiro acontecimento na história da cultura brasileira, ele veio revolucionar a visão predominante, completando a noção de raça (que vinha norteando até então os estudos sobre a nossa sociedade) pela de cultura; mostrando o papel do negro no tecido mais íntimo da vida familiar e do caráter do brasileiro; dissecando o relacionamento das três raças e dando ao fato da mestiçagem uma significação inédita”.

6. "Formação do Brasil Contemporâneo, Colônia" de Caio Prado Júnior - “É admirável, neste outro clássico, o estudo da expansão demográfica que foi configurando o perfil do território – estudo feito com percepção de geógrafo, que serve de base física para a análise das atividades econômicas (regidas pelo fornecimento de gêneros requeridos pela Europa), sobre as quais Caio Prado Júnior engasta a organização política e social, com articulação muito coerente, que privilegia a dimensão material”.

7. "A América Latina, Males de Origem" de Manuel Bonfim - “depois de analisar a brutalidade das classes dominantes, parasitas do trabalho escravo, mostra como elas promoveram a separação política para conservar as coisas como eram e prolongar o seu domínio”.

8. "Do Império à República" de Sérgio Buarque de Holanda - “expõe o funcionamento da administração e da vida política, com os dilemas do poder e a natureza peculiar do parlamentarismo brasileiro, regido pela figura-chave de Pedro II”.

9. "Os Sertões" de Euclides da Cunha - “livro que se impôs desde a publicação e revelou ao homem das cidades um Brasil desconhecido, que Euclides tornou presente à consciência do leitor graças à ênfase do seu estilo e à imaginação ardente com que acentuou os traços da realidade, lendo-a, por assim dizer, na craveira da tragédia”.

10. " Coronelismo, Enxada e Voto" de Vitor Nunes Leal - “análise e interpretação muito segura dos mecanismos políticos da chamada República Velha”.

11. "A Revolução Burguesa no Brasil" de Florestan Fernandes - “uma obra de escrita densa e raciocínio cerrado, construída sobre o cruzamento da dimensão histórica com os tipos sociais, para caracterizar uma nova modalidade de liderança econômica e política”.

fontes:  Página Cinco
             G1

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