quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

José Serra sai do MRE


























O ministro das Relações Exteriores, José Serra (PSDB-SP), pediu demissão do cargo na noite desta quarta-feira (22/2). Em uma carta endereçada ao presidente Michel Temer, Serra diz que a exoneração do cargo é por motivo de saúde.
“Faço-o com tristeza, mas em razão de problemas de saúde que são do conhecimento de Vossa Excelência, os quais me impedem de manter o ritmo de viagens internacionais inerentes à função de Chanceler”, escreveu José Serra. Ainda na carta, o ministro diz que, segundo os médicos, o tempo para que ele se recupere é de, pelo menos, quatro meses.
“No Congresso, honrarei meu mandato de Senador trabalhando pela aprovação de projetos que visem à recuperação da economia, ao desenvolvimento social e à consolidação democrática do Brasil”, finaliza o Serra na carta.
Nova composição de forças para 2018
A saída de Serra do Itamaraty altera a composição de forças que disputam a candidatura a presidente pelo PSDB em 2018. 

Serra foi o primeiro entusiasta da adesão dos tucanos ao governo interino de Temer, levando consigo o senador Aécio Neves. 

Antes adversários internos no PSDB, Serra e Aécio se uniram para fazer frente à crescente articulação do governador de SP, Geraldo Alkmin, para postular a vaga de presidenciável pelo partido em 2018. 

Alckmin manteve posição de distância segura do Planalto, acentuada com a saída de seu único nome no primeiro escalão, o agora ministro do STF Alexandre de Moraes. 

Com a saída de Serra do governo, Aécio perde musculatura para repetir a candidatura de 2014, uma vez que, como chanceler, o tucano era figura importante na amarração política entre PSDB e PMDB. 

Balanço da Gestão Serra no MRE

Em seus nove meses a frente do Itamaraty, Serra deu uma guinada na gestão da política externa brasileira. 

Após 13 anos sob governos petistas e fortemente influenciado pela longa gestão Celso Amorim (2003-2010), a Ministério das Relações Exteriores era ponta de lança das ambições internacionais de Lula e apoiador direto dos regimes ideologicamente próximos ao PT. 

O Brasil viveu anos de destaque externo durante o período Lula, favorecido ainda pelo bom momento da economia mundial. 

A situação no entanto muda no período Dilma, cujo desprezo pela política externa paradoxalmente devolveu pragmatismo ao controle do Ministério. Além disso, a complexidade da realidade mundial pós-crise de 2008 reduziu a exposição externa do Brasil.

Serra, logo de saída,  reverteu a chave dos anos de PT. Comprou briga com todos os então parceiros da visão petista de diplomacia. 

Primeiro, teve de lidar com países como a Bolívia, que acusaram o processo de impeachment de Dilma de ser um golpe. 

Depois, progressivamente convenceu aliados no Mercosul a isolar a Venezuela. A Venezuela acabou tendo seus direitos suspensos no Mercosul em dezembro de 2016. 

Para críticos, tanto no PT quanto dentro da diplomacia, Serra abandonou o princípio de isonomia tradicional do Itamaraty e o politizou com sinais trocados aos da gestão petista. 

Não conseguiu, simbolicamente, que seu indicado para o posto em Havana fosse sequer considerado pelo regime comunista cubano. 

Outra guinada importante foi o reforço na área de comércio exterior, com a absorção pelo Itamaraty de órgãos como a Apex (Agência de Promoção às Exportações) e a secretaria executiva da Camex (Câmara de Comércio exterior). Serra sempre deixou claro que via a diplomacia também como  um braço da ação econômica do governo. 

Em relação aos EUA sob o comando de Trump, Serra manteve uma posição de ceticismo. Primeiro, ainda durante a campanha americana, disse que a eleição do republicano seria "um pesadelo". Depois, foi o primeiro chanceler latino-americano a criticar em nota a proposta do presidente já empossado de construir um muro na fronteira com o México.

Isso não impediu Serra de ter uma conversa - que considerou boa - com Rex Tillerson, secretário de Estado de Trump, na semana passada na Alemanha.

Na mesma rodada de encontros, à margem da reunião do G20, Serra foi convidado pela Rússia a visitar o país e discutir um reforço institucional dos BRICs. 

Seu sucessor terá que lidar com essas questões  e definir se manterá o rumo serrista na política. 

Adaptado das Fontes: .  Folha SP 
                                   . Metrópolis
     

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