domingo, 27 de dezembro de 2015

O 2015 de Mauro Vieira no MRE



























Em meio a crise, chanceler começa a recolocar diplomacia nos trilhos

Folha SP
27 dez 2015

Em janeiro de 2015, Mauro Vieira assumiu como o terceiro chanceler de Dilma Rousseff em meio a uma crise de orçamento, um ministério sem prestígio internamente e um Brasil cada vez menos relevante no cenário internacional.

Agora, chega ao fim de seu primeiro ano à frente do Itamaraty com um panorama menos drástico nas contas da pasta, mas também com poucos avanços na retomada de uma política externa de maior expressão, diante do acirramento da crise no país. 

Internamente, um plano de racionalização de gastos permitirá à pasta, segundo o ministério, encerrar 2015 sem os atrasos nos pagamentos de aluguéis e de auxílio-moradia no exterior que foram constantes durante todo o ano.

Lá fora, Vieira conseguiu, segundo especialistas, começar a fazer a política externa do país se mover novamente.

Para isso, ampliou sua presença no exterior - foi o chanceler que mais viajou desde 2011, o primeiro ano de Antonio Patriota. Em um momento em que as prioridades do Planalto eram outras, Vieira fez cerca de 75% de suas 53 viagens sem a presidente.

A maior parte de sua ação no exterior foi com visitas bilaterais, o que demonstra um esforço em tentar promover ou retomar relações com outros países.

"No momento, é o que dá para fazer. Não podemos ter uma agenda enfática porque temos pouca bala na agulha", observa Luiz Felipe Lampreia, chanceler no governo FHC de 1995 a 2001. 

"O Mauro atuou numa posição discreta para recuperar a presença brasileira e, sobretudo, o Itamaraty internamente, que tinha sido muito golpeado, particularmente em termo de recursos."

Para Matias Spektor, professor da FGV e colunista da Folha de SP, um dos pontos positivos da gestão de Vieira foi retomar a agenda de viagens. 

"Embora não tenha resultado em nenhum grande acordo, ao menos voltou a trazer a diplomacia brasileira para os trilhos, dos quais tinha saído por causa das crises econômica e política", afirma. 

Em dois avanços importantes, o Brasil superou impasses que travavam a agenda com EUA e Bolívia desde 2013. 

A viagem da presidente a Washington em junho marcou a reaproximação dos países após o escândalo da espionagem dos EUA a autoridades brasileiras dois anos antes.

No caso boliviano, o envio de um novo embaixador a La Paz após dois anos da fuga do senador Roger Molina da embaixada brasileira foi fundamental para reatar o diálogo mais fluido com o vizinho.

O movimento só foi possível após a concessão do refúgio, pelo governo brasileiro, ao senador, e a conclusão do inquérito sobre a conduta do diplomata Eduardo Sboia, suspenso por 20 dias por trazer Molina ao Brasil.

Outros pontos tidos como positivos foram o início das negociações para ampliar o acordo comercial com o México e o périplo de Vieira por oito países da África subsaariana - em pouco mais de um ano no posto, seu antecessor, Luiz Alberto Figueiredo, só foi ao continente para acompanhar a presidente no funeral de Nelson Mandela, em 2013. 

Venezuela

A atuação discreta de Vieira - e do então colega argentino, Héctor Timerman - , contudo, não foi suficiente para fazer com que Venezuela e Colômbia escolhessem o Brasil (e a Argentina) para mediar o diálogo sobre o conflito na fronteira entre os dois. Caracas e Bogotá acabaram escolhendo Uruguai e Equador. 

O Itamaraty foi ainda criticado por não se manifestar publicamente em relação às prisões de políticos na Venezuela e por não respaldar a posição do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) sobre a missão da UNASUL para observar as eleições em 6 de dezembro.

O TSE decidiu não participar da missão após um veto não oficial de Caracas a Nelson Jobium. O Itamaraty acabou enviando um diplomata com a missão, o que diminuiu o mal-estar com Caracas. 

Outros imbróglios envolveram a decisão do governo de não receber, por oito meses, as credenciais do embaixador indonésio, Toto Riyanto, após a execução de dois brasileiros, e o cancelamento , em cima da hora, da viagem da presidente ao Japão e ao Vietnã. 

Grupos de direitos humanos também apontam como negativa a abstenção do Brasil sobre texto condenando violações no Irã - a primeira desde 2011 - e renovando o mandato do relator da ONU para o país. 

"Que tipo de diplomacia comprometida com os direitos humanos toma decisão dessas com base em promessas ?", questiona Camila Asano, da ONG Conectas, referindo-se à justificativa brasileira de que Teerã havia se comprometido em receber outros relatores da ONU no país. 

2016

Para o professor José Augusto Ghilhon Albuquerque,da USP, diante da crise, o próximo ano exigirá de Vieira trabalho semelhante ao que realizou neste ano. "Neste caso, o chanceler tem um papel de encarregado de negócios. O que ele pode fazer é tocar assuntos correntes", diz. 

"Será uma agenda modesta, não tem como ter agenda ambiciosa se não tem motor para decolar esse avião", concorda Lampreia. 

Para especialistas, o foco de Vieira deve se manter sobre a transição nos EUA, a nova conformação da região e do Mercosul, com a ascensão de Mauricio Macri na Argentina, e em não perder espaço no mundo. 

fonte: Folha SP
   
  

EEm E

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