sexta-feira, 20 de março de 2015

[ Book Review ] Raízes do Brasil

“Raízes do Brasil” é um dos livros mais importantes para o entendimento da formação social do Brasil. 

Ao lado de “Evolução Política do Brasil” de Caio Prado Jr e da dobradinha “Casa Grande & Senzala/Sobrados e Mucambos” de Gilberto Freyre, é essencial para a boa formação de um cientista social.

Leitura obrigatória para se entender as origens e a formação multiétnica do povo brasileiro.   










Sérgio Buarque de Holanda 

Sérgio Buarque de Holanda foi um dos mais importantes historiadores brasileiros. Foi também escritor, jornalista e crítico literário. Sérgio  nasceu em São Paulo em 1902 e veio a falecer, também em São Paulo em 1982. 

Escreveu vários livros, como "Cobra de Vidro"(1944), "Caminhos e Fronteiras"(1957), "Visão do Paraíso" e sua obra mais famosa foi "Raízes do Brasil" de 1936.   

Raízes do Brasil

Raízes do Brasil trata, essencialmente, da transição do modo rural para o urbano que se delineava nas primeiras décadas do século XX na sociedade brasileira. É muito importante perceber que o livro foi escrito diante de um cenário de centralização administrativa que alterou o lugar dos grupos de poder local e regional, principalmente depois da Revolta de 1930.

Fazendo uma análise mais global do livro, é possível notar que Sergio Buarque de Holanda desenvolve um raciocínio partindo de uma visão macro e sucessivamente vai destrinchando cada tema mais restrito, até chegar às verdadeiras “Raízes do Brasil”. 

Partindo da análise do que seriam Portugal e Espanha – Fronteiras da Europa, passando pela cultura da personalidade e a virtude da aventura, depois dissertando sobre a herança que o brasileiro traz desse contato, os desdobramentos da “Cordialidade” e por fim a chegada dos novos tempos.

Em tese, poderíamos intuir que Sergio Buarque está se perguntando “que tipo de urbano será possível em uma sociedade que ainda demonstra muitos aspectos e condutas do antigo meio rural?” 

Segundo sua análise mais complexa, seria necessário buscar uma explicação bem longe daqui. 

Para ele, Portugal e Espanha não faziam parte do bloco econômico-cultural da Europa. Por esse motivo ele intitula o primeiro capítulo como “Fronteiras da Europa”, pois para ele a Ibéria apresentava uma cultura muito miscigenada, influenciada por diversas religiões e invasões de outros povos que não faziam parte do bloco dos países centrais do continente europeu.

Na sociedade ibérica, não só era possível, como também era desejável que houvesse uma ascensão social. Em outras palavras, a mobilidade social era permitida e até incentivada. Característica muito distinta da que se apresentava na Europa, pois o Feudalismo europeu se mostrou tão fortemente presente que fora preciso que a burguesia se organizasse através de uma Revolução para ter condições de penetrar nas classes mais abastadas daquela estrutura social. 

Já na Ibéria, até mesmo aqueles indivíduos que ocupavam a posição de escravo, podiam ascender socialmente, chegando estes a possuir outros escravos. No livro As Metamorfoses do Escravo de Octavio Ianni, esta ascensão social fica bem cristalina.

Na verdade, na concepção Ibérica da natureza humana, há de se valorizar o indivíduo que cresce e se desenvolve ao longo da vida. É o que Sergio Buarque chama de “Cultura da Personalidade”, um sentimento de autonomia e independência de um indivíduo que se sobressai em relação aos demais. 

Isto é tido como um “valor”, sendo desejável e admirável. Este sentimento, muito perene no descobridor desbravador, representa além de outras coisas, uma característica que confere ao indivíduo a possibilidade da mover socialmente na estrutura da sociedade Ibérica.

Tanto em Portugal quanto na Espanha, o regime feudal nunca foi tão rígido, exatamente por isso, não foi necessário promover uma revolução como as que ocorreram na França e na Inglaterra. O Brasil como herdeiro dessa cultura, apresenta uma acomodação desses regimes, promovendo uma transição suave, sem ruptura. 

A característica mais marcante dessa acomodação pode ser exemplificada pela figura do “Homem Cordial”. Lembrando que a cordialidade não tem relação com modo cortês e sim se cristaliza pelo trato maleável que o brasileiro costuma se relacionar no seu dia-a-dia. 

Podendo ser compreendido pelo famoso “jeitinho brasileiro”, pela situação corriqueira de uma pessoa que vendo uma gigantesca fila bancária, logo se apressa em procurar um conhecido que esteja mais próximo do caixa, com o objetivo de agilizar sua vida, não sendo capaz de perceber que acaba por prejudicar outras pessoas.

Esta anedota serva para mostrar o que Sergio Buarque chama de conflito entre público/privado. Para ele, a presença da “cordialidade” faz com que os indivíduos tenham dificuldade para discernir o público daquilo que é privado. Desta maneira, as pessoas acabam usando de suas preferências particulares que deveriam ficar restritas aos relacionamentos e aos assuntos privados, acabem sendo empregadas no âmbito público.

Segundo ele, estas relações sociais predominantemente patriarcais, interferem na transição dessa sociedade causando um desequilíbrio social. Sergio Buarque aponta as tensões da cidade como herança do sistema patriarcal, colocando o patrimonialismo e o personalismo como obstáculos a uma sociedade impessoal, moderna e livre que são características imperativas para esses novos tempos de urbanização.

Resumo do Livro

O primeiro capítulo, “Fronteiras da Europa”, dispõe características dos países da Península Ibérica e suas diferenças no processo de colonização da América. 
O autor proporciona a reflexão sobre os defeitos dos brasileiros dos dias atuais, tais como frouxidão das instituições e a falta de coesão social, mostrando que esses sempre existiram desde a origem. 
Em outras palavras, possibilita o entendimento da origem do brasileiro, cujos defeitos foram herdados de nossos colonizadores. Alude a um dos temas fundamentais do livros: a repulsa pelo trabalho regular e as atividades utilitárias.
No segundo capítulo, “Trabalho e aventura”, o autor distingue o trabalhador e o aventureiro, os quais possuem éticas opostas. O primeiro busca segurança e recompensa a longo prazo, já o segundo busca novas experiências e a riqueza a curto prazo. 
Dessa forma, considera que espanhóis e portugueses foram aventureiros no novo continente e Holanda afirma que essas características foram positivas para o Brasil.
O terceiro capítulo, “Herança rural”, analisa a marca da vida rural na formação da sociedade brasileira. Expõe sobre os donos de terras brasileiros, que ao contrário dos europeus, viviam nas colônias, providenciavam sua própria segurança e faziam suas próprias leis, direito esse concedido pelo pátrio poder. 
As pessoas iam aos centros urbanos a fim de participar de solenidades e festejos. O autor termina o capítulo afirmando que o ruralismo predominou pelo esforço dos colonizadores e não por imposição do meio.
O quarto capítulo, “O semeador e o ladrilhador” estuda a importância da cidade como instrumento de dominação e a diferença entre espanhol e português nesse aspecto. O espanhol teve como intuito estabelecer um prolongamento estável da Metrópole, enquanto que os portugueses foram “semeadores” de cidades irregulares nascidas e criadas no litoral.
O quinto capítulo, “O homem cordial”, aborda as consequências do desenvolvimento da urbanização, que acarretaria um desequilíbrio social, cujos efeitos permanecem vivos ainda hoje. 
O título do capítulo não pressupõe bondade, mas o predomínio dos comportamentos de aparência afetiva não necessariamente sinceras nem profundas.
O sexto capítulo, “Novos tempos”, estuda consequências dos aspectos dispostos anteriormente na configuração da sociedade brasileira, a partir de 1808 com a vinda da Corte portuguesa, que causou o primeiro choque nos velhos padrões coloniais.
O sétimo e último capítulo, “Nossa revolução”, sugere como a dissolução da ordem tradicional ocasiona contradições não resolvidas, que nascem no nível da estrutura social e se manifestam no das instituições e ideias políticas.
Raízes do Brasil é uma obra fundamental para o estudo sociológico e científico brasileiro, que vai buscar as origens culturais do país em Portugal, no latifúndio escravocrata e na família patriarcal rural. 
É importante lembrar que o Brasil contemporâneo ao que o autor se refere é o da década de 30. Por isso, nos dias de hoje deve-se ler e analisar a obra com cuidado para que não sejam cometidos anacronismos, dificultando a compreensão da importância que a obra traz para o estudo da história do país. 
Consiste em leitura obrigatória para os estudantes e cientistas que buscam compreender as raízes brasileiras e sua própria cultura.
fontes:  (1) Blog Sociologia & Antropologia
             (2) Portal Investidura

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