Folha SP - Clóvis Rossi
20 jul 2017
O embaixador brasileiro em Caracas, Ruy Pereira, marcou para as próximas terça e quarta (25 e 26 de julho) uma reunião com os representantes diplomáticos na Venezuela para, , segundo o chanceler Aloysio Nunes, discutir providências para proteger a comunidade de brasileiros no país na eventualidade de um agravamento de uma crise que já está em ponto de combustão.
A conta mais recente indica que vivem na Venezuela cerca de 32 mil brasileiros.
A iniciativa do embaixador é sábia, a julgar pela descrição que faz da conjuntura venezuelana um de seus melhores analistas, Luis Vicente León, responsável pelo centro de pesquisas Datanalisis:
"O governo acredita que está morto politicamente se não consegue passar a sua Constituinte [votação convocada para o dia 30 de julho]. Mas, da mesma forma, a oposição sente que essa Constituinte representa sua morte e também a da democracia, da República, dos direitos humanos e econômicos e as possibilidades de resgatar a paz", escreveu.
Como nenhum dos lados em confronto que morrer, é inevitável que soem tambores de guerra em um país já conflagrado por manifestações diárias há cem dias (96 mortos até agora) e por uma situação econômica e social que fica mais dramática a cada dia.
O drama do dia (quarta-feira, 19 de julho): o custo da cesta básica subiu 24,1% de maio para junho. Em um ano, o aumento foi de 343,2%.
Para poder adquirir a cesta básica, um venezuelano precisa de 18,9 salários mínimos.
Não há quem consiga viver nesse ambiente,, o que ajuda a explicar a notável mobilização para votar no ultimo domingo (16) em um plebiscito não oficial, convocado pela oposição.
Compareceram, segundo os oposicionistas, 7,6 milhões de pessoas, que era o máximo para o qual se preparara a coalizão opositora MUD (Mesa de Unidade Democrática). Foram montados locais de votação para apenas um terço do eleitorado total (19,8 milhões), o máximo de capacidade logística que a oposição conseguiu. O comparecimento foi, portanto, praticamente o total do esperado.
Com base nesse resultado, a MUD declarou nesta quarta-feira que a mudança de governo "é inevitável e iminente" e anunciou seu compromisso de "formar um governo de união nacional", para "garantir a governabilidade do país no caso de que se logre a saída de Nicolás Maduro do poder".
A oposição acredita que o sucesso de uma greve geral convocada para esta quinta (20 de julho) servirá para tornar ainda mais "inevitável e Iminente" a queda de Maduro.
Mas o governo não está nem remotamente disposto a ceder um milímetro nesta batalha.
Toca, ele também, os tambores de guerra, na forma, por exemplo, da convocação do Conselho de Defesa, Trata-se do "organismo máximo de consulta para a planificação e assessoramento do Poder Público em assuntos relacionados com a defesa integral da Nação, sua soberania e a integridade de seu espaço geográfico".
É, em tese, a resposta à ameaça dos Estados Unidos de impor sanções à Venezuela, se não for desconvocada a votação para a Assembleia Constituinte.
Na prática, contudo, é a preparação do governo Maduro para a guerra antevista pelo analista Luis Vicente León.
fonte: Folha SP
O