Carta Maior
20 jan 2016
É oficial. 1% dos detentores da riqueza mundial possuem agora mais do que o restante do mundo combinado, confirmou o novo relatório divulgado na segunda-feira.
"A crise da desigualdade global está atingindo novos extremos", declarou a Oxfam Internacional no An Economy for the 1% [Uma Economia para o 1%], constatando que o fosso entre os mais ricos e os mais pobres ampliou-se de forma tão dramática nos últimos 12 meses que os 62 indivíduos mais ricos do mundo agora possuem tanto quanto a metade mais pobre da população mundial, cerca de 3,6 bilhões de pessoas.
Na verdade, a riqueza da metade mais pobre caiu em um trilhão de dólares desde 2010, enquanto a riqueza das 62 pessoas mais ricas aumentou em 44%, isto é, para o total de $1,76 trilhões.
"É simplesmente inaceitável que a metade mais pobre da população mundial possua menos do que algumas dezenas de pessoas super-ricas que poderiam caber em um ônibus", disse Winnie Byanyima, diretora-executivo da Oxfam International.
O relatório foi divulgado apenas alguns dias antes da abertura da reunião anual do Fórum Econômico Mundial, que será realizada entre 20 e 23 janeiro em Davos, na Suíça. Na conferência, a Oxfam pretende reiterar o seu apelo por uma ação urgente quanto a crise da desigualdade. Especificamente, o grupo pede pelo fim da era dos paraísos fiscais.
"Em vez de se distribuir, a renda e a riqueza estão sendo sugadas para cima em um ritmo alarmante", afirma o relatório. "A tendência é um sistema cada vez mais elaborado de paraísos fiscais e uma indústria de gestores de riqueza que garantam essa concentração, longe do alcance dos cidadãos comuns e de seus governos. Uma estimativa recente é de que $7,6 trilhões em riqueza privada atualmente são mantidos offshore, mais do que a produto interno bruto (PIB) combinado do Reino Unido e da Alemanha".
Este sistema, diz a Oxfam, permite que indivíduos e empresas ricas possam evitar pagar as suas obrigações tributárias para a sociedade, negando aos governos os recursos necessários para combater a pobreza e a desigualdade.
Por exemplo, o relatório constatou que quase um terço de toda a riqueza financeira africana - ou seja, $500 bilhões - é mantido offshore, privando os governos de cerca de $14 bilhões em receitas fiscais, perdidas a cada ano.
"Este dinheiro é suficiente para pagar por cuidados de saúde que poderiam salvar a vida de 4 milhões de crianças e empregar um número de professores suficiente para colocar todas as crianças da África na escola", afirma o relatório.
O relatório observa ainda que as mulheres são desproporcionalmente prejudicadas por essa crescente disparidade de riqueza.
"As mulheres constituem a maioria dos trabalhadores com baixos salários do mundo e estão concentradas nos postos de trabalho mais precarizados", afirma o relatório. E um agravante da desigualdade global é o fato de que esses trabalhadores, com salários baixos em quase todos os países desenvolvidos e em desenvolvimento, estão recebendo uma porção decrescente da renda nacional, enquanto os lucros são cada vez mais concentrados nas mãos dos que estão no topo.
"Os CEOs das principais empresas norte-americanas tiveram um aumento salarial em cerca de 54% desde 2009, enquanto os salários das pessoas comuns quase não mudaram em nada".
"O mundo se tornou um lugar muito mais desigual e essa tendência está se acelerando", disse Byanyima. "Não podemos continuar a permitir que centenas de milhões de pessoas passem fome enquanto os recursos que poderiam ser usados para ajudá-las são sugados por aqueles no topo".
Ela acrescentou: "Os mais ricos não conseguem esconder sua riqueza do restante de nós - a sua riqueza extrema de fato mostra uma economia global em crise A recente explosão na riqueza dos super-ricos veio às custas da maioria de nós e, particularmente, das pessoas mais pobres".
fonte: Carta Maior