quinta-feira, 26 de novembro de 2015

A história da Rússia e o xadrez geopolítico

A guerra parece inevitável para a Rússia, este país vasto e sem litoral que a oligarquia americana deseja afastar para longe de todos os lugares

Carta Maior
25 nov 2015

Bruno Adrie





É necessário provar que Putin é mal retratado pela imprensa ocidental?
 
Ele é tão desprezado que a revisão do L'Express escreveu sobre um relatório dirigido ao Pentágono que afirmava que “o desenvolvimento neurológico de Putin foi interrompido substancialmente na infância” e que “o presidente russo carrega uma anormalidade neurológica”. Os autores do relatório dizem que "o seu comportamento e suas expressões faciais revelam uma postura defensiva em grandes ambientes sociais"
 
A conclusão implícita do relatório manipulado pelo Pentágono é que Putin não consegue se comunicar, é incapaz de participar de um diálogo aberto e construtivo com os outros e pode ser perigoso, declarando uma guerra sem prévio julgamento. O leitor crédulo se assusta e se pergunta como tal homem pode ser o líder da Rússia. 

Então ele olha para o que tem acontecido nos últimos anos e de repente entende por que Putin invadiu a Geórgia em 2008, por que anexou a Crimeia, por que apoiou os separatistas em Donbas e por que está bombardeando os fundamentalistas islâmicos na Síria agora em apoio ao torturador Al-Assad! Qual é a diferença entre mencionar este relatório e espalhar propaganda?
 
E se Putin não fosse esse homem que eles descrevem? Suponha, por exemplo, que exista algum tipo de lógica na sua política externa.
 
De acordo com o geógrafo George Friedman, as nações agem como jogadores de xadrez, que atuam nos limites estreitos de uma série de regras que definem seu leque de boas jogadas. Tão melhor quanto mais lógico for um jogador, quanto mais previsível ele for na escolha da melhor tática "até que desfira seu brilhante golpe inesperado". 

George Friedman acredita que as nações não simplesmente agem irracionalmente. "As nações são limitados pela realidade. Eles geram líderes que não se tornariam líderes se fossem irracionais" (Friedman, p.29). Ele considera que os líderes "compreendem o seu menu de possíveis movimentos e os executam". Quando eles falham, não é porque são estúpidos, mas apenas porque as circunstâncias não lhes forneceram as possibilidades corretas.
Seguindo a abordagem de George Friedman em termos de geopolítica, vamos nos perguntar: é possível entender as iniciativas tomadas por Vladimir Putin no tabuleiro internacional?

Em seu livro The Next 100 Years, George Friedman insiste no fato de que a Rússia não tem uma abertura para litoral, enquanto os EUA dispõem de "acesso fácil para os oceanos do mundo". Durante a Guerra Fria, os Estados Unidos - que pretendiam "conter e, dessa forma, estrangular os soviéticos" - criaram um "cinturão maciço de nações aliadas" que se estendia do Cabo Norte da Noruega até a Turquia e as Ilhas Aleutas " (Friedman, p.45 ). 

"Trancada pela geografia", a URSS não podia vencer a Guerra Fria e, finalmente, entrou em colapso em 1991. Friedman prevê que, no século XXI, depois de uma segunda Guerra Fria, a Rússia entrará em colapso novamente, pela mesma razão geográfica.
 
Mas não possuir um litoral não é o único inconveniente geográfico pra Russia. A fim de entender esse contexto, o jornalista Tim Marshall nos convida a dar uma olhada neste mapa da Europa, em que a planície europeia foi escurecida.

Esta planície, que vai da costa atlântica até os Montes Urais e da Finlândia até o Mar Negro e o Cáucaso, é um corredor enorme e aberto em que se deram todas as invasões nos últimos 500 anos: os poloneses em 1605, os suecos em 1707, os franceses em 1812 e, finalmente, os alemães em 1914 e 1941. 

Essas invasões só foram possíveis porque a planície não oferece resistência aos invasores. Lá você não vai se deparar "com montanhas, desertos, e apenas poucos rios" para atravessar. Para lidar com este problema, os líderes russos decidiram atacar primeiro.
 
A única maneira de evitar essa insegurança foi deslocar suas fronteiras para lugares mais fáceis de controlar e defender, onde haveria obstáculos naturais para invasões. Ivan, o Terrível, foi o primeiro a avançar sobre esses marcos.
 
"Ele estendeu seu território ao leste dos Montes Urais, ao sul do Mar Cáspio e em direção ao norte do Círculo Ártico". Assim ele "teve acesso ao Mar Cáspio e, mais tarde, ao Mar Negro, aproveitando as montanhas do Cáucaso enquanto barreira parcial frente aos mongóis". Ele também "construíu uma base militar na Chechênia a fim de dissuadir qualquer suposto invasor".
 
Então veio Pedro, o Grande, e depois Catarina, a Grande. Eles "expandiram o império a oeste, ocupando a Ucrânia e, em seguida, atingindo as montanhas dos Cárpatos". Eles assumiram controle da Lituânia, Letônia e Estônia para se defender "contra os ataques do Mar Báltico". E após a Segunda Guerra Mundial, Stalin ocupou a Europa Oriental e lá apoiou regimes aliados, a fim de criar uma zona tampão para bloquear a planície Europeia, forçando as fronteiras a oeste, até chegar a uma área estreita e, portanto, mais fácil de controlar contra os inimigos. 

Podemos ver, na verdade, que a fronteira entre as Alemanhas Oriental e Ocidental é mais fácil de defender do que a fronteira da Rússia atual. E esses fatores não dependem da personalidade de um líder, seja ele um imperador, um ditador ou um presidente eleito. Este ponto de vista é amplamente partilhado por Alexander Dugin.
 
Alexander Dugin é geógrafo, mas não só isso. É também um fervoroso russo movido pelo amor ao seu país. Para ele, a Rússia é mais do que um país enorme e sem litoral, mais do que uma bandeira. É uma civilização sitiada que precisa ser defendida. "A Rússia não é simplesmente a Federação da Rússia, a Rússia é o mundo russo, uma civilização, um dos pólos de um mundo multipolar", diz ele em entrevista concedida ao Katehon.com, sob o título: “War in Ukraine Will Resume Soon”.
 
Assim como Tim Marshall, Alexander Dugin inclina-se sobre a geografia para justificar a política externa do presidente Putin. Segundo ele, a guerra contra a Geórgia, a anexação da Crimeia e a campanha de bombardeios na Síria - onde a Rússia tem uma base naval na cidade de Tartus (muitos dos leitores ocidentais não sabem que a Síria é, como Crimea ou Transcaucásia, um posto avançado que garante uma Rússia não circunscrita as suas próprias fronteiras) - foram ações ditadas por uma necessidade geopolítica que transcende a personalidade de seus líderes. Segundo ele, a Rússia deveria ter anexado as províncias de língua russa da Ucrânia e, como Dugin acredita, mais cedo ou mais tarde ela vai ter que fazê-lo.
 
E não porque os russos sejam ávidos por territórios ou simplesmente imperialistas. Ao fazer isso, a Rússia tende a garantir sua própria sobrevivência. 

"Se perdermos Donbas, então vamos também perder a Criméia e, em seguida, toda a Rússia", diz ele. Anexar a Ucrânia não é um objetivo. A Ucrânia não precisa se tornar um estado vassalo. "Eu não sou contra uma Ucrânia soberana, é apenas necessário que ela seja nossa aliada ou companheira, ou, no mínimo, um espaço neutro, intermediário", diz ele. 

E acrescenta: "O que não pode ser permitido é uma ocupação atlantista da Ucrânia". Aqui, Dugin fala do reino da necessidade. Isso é o que ele quer dizer quando trata de um "axioma da geopolítica". "Nossos inimigos entendem perfeitamente que a Rússia só pode se tornar grande novamente em conjunto com a Ucrânia". Segundo ele, "Não há outro caminho. 

A Primavera Russa é impossível sem avançar um eixo euro-asiático estratégico na Ucrânia, não importam os meios, sejam pacíficos ou não, que forem necessários". Dugin pensa que manter independentes as repúblicas de Donetsk e Lugansk entre a Ucrânia e a Rússia é um imperativo categórico. "Aquele que controla as fronteiras do DPR e do LPR com a Rússia, controla tudo", diz ele, imitando o famoso slogan de Mackinder.
A Síria é parte do mesmo problema. Alexander Dugin considera que a Síria “é uma meta mais distante, mas não menos importante”. Ele garante que a existência do EI faz parte de “um plano norte-americano”. Segundo ele, “O Estado Islâmico é uma operação especial dirigida contra os adversários da hegemonia norte-americana no Oriente Médio e em particular contra nós [russos]” e acrescenta que "o fundamentalismo islâmico tem sido tradicionalmente um instrumento geopolítico norte-americano". 

Eu sugiro àqueles que consideram Alexander Dugin um teórico da conspiração que leiam as confissões de Zbigniew Brzezinski, que, enquanto Conselheiro de Segurança de Jimmy Carter, recebeu, em 03 de julho, a autorização presidencial para financiar batalhões Mujahedin, a fim de oferecer aos russos a sua própria versão de "Guerra do Vietnam" no Afeganistão.
 
Dugin pensa que, para enfrentar a ameaça americana, a Rússia deve mostrar força e parar de usar a soluções diplomáticas.
 
A guerra parece inevitável para a Rússia, este país vasto e sem litoral que a oligarquia americana deseja afastar para longe de todos os lugares, desde as costas do Báltico, do Cáucaso, do Mar Negro ou do Mediterrâneo, quem sabe com a expectativa de afastá-la da Sibéria em um próximo momento. E esta guerra não será a conseqüência da personalidade do Presidente Putin, mas resultado de uma turbulência geopolítica deliberadamente organizada pelos oligarcas ocidentais.
 
Sem dúvida, porém, os idiotas vão continuar a urrar que Putin é um ditador sanguinário e que a Rússia é um país perigoso e bárbaro.
 
Esses idiotas não são apenas os inimigos da Rússia. Eles são também os inimigos da verdade e sua onipresença no cenário da mídia e no mundo político fez da Europa um grande corpo doente, cujos membros estão gradualmente sendo devorados pela gangrena atlantista.

Notas:

George Friedman, The Next 100 Years, Allison & Busby, London, 2009
Tim Marshall, « Russia and the Curse of Geography » , The Atlantic Monthly, October 31st 2015
Tim Marshall, Prisoners of Geography, Scribner Book Company, October 27th  2015
Alexander Dugin, « War in Donbass will be imposed on us by Washington and Kiev » , Katehon.com, November 2nd  2015 (reblogged here)
Bruno Adrie, « Brzezinski, Obama, Islamic fundamentalism and Russia » (Part I), brunoadrie.wordpress.com,October 26th 2015
Bruno Adrie, « Brzezinski, Obama, Islamic fundamentalism and Russia » (Part II), 

fonte: Carta Maior

domingo, 8 de novembro de 2015

How the World War I changed the world












The Economist
28 jul, 2014

Battle Scars

ON JULY 28th 1914 Austria-Hungary declared war on Serbia, beginning the first world war. In the following four years, millions would lose their lives. 

What else changed? Economies shrank, stagnated and hyperinflated. It took over a decade for the German economy to recover to its size in 1913. Industry was weakened across Europe. 

As the continent splurged on munitions, financed with debt, America manufactured arms and saw its economy expand. Hyperinflation in Germany shrank the size of the country's debt.


Geography changed too. 

After the war the Treaty of Versailles carved out new countries from what remained of the old pre-war empires. Independence was granted to the Baltic states, which had been handed to Germany in 1918 as part of the Treaty of Brest-Litovsk, which ended Russian involvement in the first world war. 

 Poland was reconstituted from former Russian, German and Austro-Hungarian territories, and Czechoslovakia, Yugoslavia and a larger Romania were created.  














fonte: The Economist

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